O Forum da Cultura da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) recebe na próxima terça-feira (22), a partir das 18h30, a abertura da mostra “Linguagem plástica”, da artista plástica Roseli Franco. Na ocasião, acontece um bate-papo com a artista a respeito de seu trabalho e da arte. O evento é gratuito e aberto ao público em geral.
Com mais de 10 obras em exibição, a nova mostra leva os visitantes a entrarem em contato direto com o expressionismo abstrato, um movimento de vanguarda artística, surgido na década de 40, em Nova Iorque (EUA). Os trabalhos de Roseli Franco carregam características desse estilo, mas também possuem peculiaridades.
“O expressionismo é uma linguagem que está muito ligada com o fato de as pessoas não estarem satisfeitas com a sociedade e com a política. Ele surgiu no pós-guerra, pois as pessoas estavam todas saturadas com tudo que havia ocorrido. No meu caso, minhas obras não estão vinculadas à questão da insatisfação, mas sim na expressão em si. Trata-se de uma arte agitada, inquieta, e vejo muito de mim nesse aspecto.”, explica ela.
Tal agitação e inquietude podem ser notadas por meio das pinceladas da artista. Os quadros, em tinta a óleo e acrílica, trazem traços marcantes, em várias direções, linhas, formas e espaços. “Nos meus quadros, todos esses elementos tem que ser feitos de forma rápida, justamente para ser algo expressivo. Eu calculo a tinta e faço esboços antes de começar o trabalho; depois que começo, não paro mais”, relata Roseli.
As tonalidades escolhidas também chamam a atenção. Vermelhos, amarelos, azuis se encontram com o preto e o branco, formando um mix singular que instiga e provoca sensações múltiplas. Fica nítida uma característica marcante nas pinceladas da artista plástica, em que a mistura das tintas se dá justamente na tela. As cores se encontram e dão origem a uma nova.
No processo de criação de suas telas, Roseli Franco trabalha em seu ateliê, sem nenhuma pessoa por perto e ao som de músicas. Um ritual necessário para sua concentração e que está diretamente ligado à sua vontade de iniciar e concluir suas obras. “Quando começo a pintar, não consigo mais parar. Eu preciso ver aquele quadro pronto e, às vezes, fico até de madrugada para alcançar o objetivo” conta.
Uma das exceções está no quadro “Expresso”, pintado em tinta a óleo. A tela precisou de 5 dias para ser concluída. De acordo com a artista, “foi um quadro muito complicado de se criar. Eu pintava e não ficava do jeito que costumava fazer. Então eu parava por um tempo, voltava ao quadro, tirava camadas grossas de tinta grossa e colocava outras camadas. Foi assim até que, finalmente, senti que estava pronto”.
Além de quadros, a mostra também conta com esculturas produzidas em materiais diversos, entre eles, cimento, massa acrílica e biscuit. Muitas das peças são figurativas e representam máscaras, como é o caso da peça que referencia o romance “O Fantasma da ópera”, famoso por suas adaptações para musicais e filmes.
Para Roseli Franco, a linguagem plástica, que dá título à sua exposição, é a condição mais próxima da descrição humana, por ser complexa, com questionamentos e abstrações, assim como a humanidade. “Quero que o espectador veja e sinta o que essa linguagem mostra, como uma narrativa que desconstrói a possibilidade de uma leitura única a fim de mostrar ao observador que há maneiras diversas de se fazer arte com a intenção de que ele busque seu interior. Cabe aos seus olhos ver as formas de tudo que vou mostrar, não se trata de algo definitivo ou objetivo, trata-se de uma comunicação entre os trabalhos e o público”, conclui.
Roseli Franco foi uma das artistas selecionadas pelo Edital de Ocupação da Galeria de Arte do Forum 2025, cujo resultado foi divulgado no dia 28 de fevereiro.
“Linguagem plástica” segue em cartaz até o dia 8 de agosto, com visitações gratuitas de segunda a sexta, das 10h às 19h.
Mais sobre a artista
Nascida em São Paulo (SP), Roseli Franco tem mais de 40 anos de experiência como artista plástica. Ao longo de sua trajetória experimentou diferentes técnicas pictóricas, chegando até o expressionismo, estilo com o qual identificou-se e cria a maioria de suas obras.
Desde cedo, interessou-se pelas artes, realizando cursos de desenho, pintura e escultura no Museu Lasar Segall, em São Paulo. Também realizou cursos de pintura em Cataguases (MG), cidade onde residiu por alguns anos antes de chegar a Juiz de Fora, onde vive atualmente.
Roseli já realizou diversas exposições desde a década de 80. Em Cataguases, por exemplo, apesentou seus trabalhos entre os anos de 2002 e 2007. Em Juiz de Fora, ela já expôs no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (CCBM), em 2019.
Entre pinceladas, respingos e cores
Surgido na década de 1940, o expressionismo abstrato foi uma corrente artística que ganhou destaque após a Segunda Guerra Mundial. Ele teve como origem os Estados Unidos, sendo considerado, inclusive, como a primeira expressão artística estadunidense a ganhar aclamação internacional. Por isso, também ficou conhecida como “Escola de Nova York”.
Com um forte caráter vanguardista, essa manifestação bebeu na fonte do expressionismo alemão e de movimentos como a arte abstrata, o futurismo na arte, o cubismo e o surrealismo, mesclando elementos de tais escolas.
A expressividade e o simbolismo são as principais características do expressionismo abstrato. Ele carrega em seu subtexto o inconsciente coletivo da sociedade. Trata-se de uma corrente que é carregada de emoção, subjetividade, transmitindo de forma singular diferentes perspectivas da condição humana.
O principal representante do expressionismo abstrato é o pintor estadunidense Jackson Pollock. Em seus trabalhos, fazia uso de uma das técnicas mais importantes dessa corrente, o dripping, que consiste em aplicar respingos da tinta sobre a superfície, no caso, a tela. Assim, por meio de um gotejamento equilibrado, a tinta escorre e dá vazão a traços que parecem se unir de modo harmonioso.
O expressionismo abstrato abriu caminho para outros movimentos, como o Color Field e o Minimalismo, e seu legado continua a inspirar artistas a explorar novas formas de expressão e a desafiar as convenções artísticas.
Galeria de Arte
O espaço, instalado em um local privilegiado no segundo pavimento do Forum da Cultura, abriga produção eclética, com exposições de artes plásticas, documentais e pedagógicas, que já chegaram a ter mais de mil visitantes por mostra. Criada em 1981, no reitorado do professor Márcio Leite Vaz, a galeria recebe importantes nomes da pintura de Minas Gerais e da cidade, além de jovens artistas e coletivos. Em janeiro de 2024, o espaço passou por reforma, substituindo as antigas placas de madeira por novas, garantindo assim, um espaço renovado, com estruturas reforçadas para as mostras a serem expostas. O sistema de iluminação também foi renovado, possibilitando mais destaque para as obras em exibição.
Forum da Cultura
Instalado em um casarão centenário, na rua Santo Antônio, 1112, Centro, o Forum da Cultura é o espaço cultural mais antigo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Em atividade há mais de cinco décadas, leva à comunidade diversos segmentos de manifestações artísticas, abrindo-se a artistas iniciantes e consagrados para que divulguem seus trabalhos.
Endereço e outras informações
Forum da Cultura
Rua Santo Antônio, 1112 – Centro – Juiz de Fora
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