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“Entre recortes e memórias”: exposição no Forum da Cultura transforma fotografias antigas em novas narrativas visuais por meio da técnica de colagem

A artista visual Taís Marcato utiliza fotografias de família, objetos esquecidos, revistas antigas e outros elementos do cotidiano para criar seus trabalhos.

O íntimo e o histórico, o analógico e o digital, o presente e a ausência. Encontros que podem parecer distintos, mas que tornam-se factíveis, existentes e apreciáveis por meio dos trabalhos da artista visual Taís Marcato, em exibição na nova mostra “Entre recortes e memórias”, em cartaz na Galeria de Arte do Forum da Cultura. A exposição propõe um mergulho na interseção entre o passado e o agora através da técnica da colagem, resgatando fragmentos da memória coletiva e pessoal de moradores de Juiz de Fora. A abertura ocorre na próxima terça-feira, dia 20, a partir das 18h30. Na ocasião, a artista recebe o arquiteto Victor Hugo Godoy para um bate-papo sobre aspectos históricos da cidade e memória. Além disso, também ocorrerá a exibição do curta “Memórias do sentir”, produzido por Taís. O evento é gratuito e aberto ao público em geral.

As mais de 15 obras em exposição – algumas delas inéditas e criadas especificamente para a mostra – permitem aos visitantes conhecer mais sobre a inspiração da artista, que tem o mundo ao seu redor como uma fonte inesgotável de criação. “Busco inspiração em fotografias de família, objetos esquecidos, revistas antigas, ruas da cidade, detalhes que contam histórias silenciosas. Também me inspiro nas pequenas coisas do cotidiano: uma embalagem, uma carta, um tecido, uma palavra sublinhada em um livro antigo. Tudo que carrega memória e potencial poético pode se tornar matéria de criação”, explica Taís.

O desejo da colagista de transformar imagens e objetos do passado em novas narrativas visuais encontrou nas artes visuais a sua realização. “Sempre fui fascinada pela relação entre memória, tempo e identidade, e percebi na colagem uma linguagem potente para explorar essas camadas. A partir do meu acervo pessoal e de elementos antigos ligados à história de Juiz de Fora, comecei a experimentar formas de reorganizar esses fragmentos, ressignificando o que já existia”.

Os trabalhos em exibição exploram diferentes abordagens dentro da colagem, entre elas a colagem analógica, com recortes de revistas e fotografias vintage sobrepostas manualmente em papel de alta gramatura, apresentados por diferentes técnicas da colagem, como: prollage, rollage, assemblage; a colagem digital, resultado da manipulação de imagens digitalizadas, editadas e compostas em softwares como canva e photoshop; e o que poderia ser categorizado como técnica híbrida, em que impressões de colagens digitais são reconstruídas manualmente com texturas, tintas e elementos tridimensionais.

Como uma alquimista do tempo, Taís Marcato utiliza as pontas dos dedos para criar pontes entre períodos distintos. Ela brinca com o relógio, o calendário, o imaginável e o fantástico, dando ao público a oportunidade de entrar em contato com emoções – talvez – jamais experienciadas.

Chama a atenção o cuidado da artista em cada uma de suas composições. É como se cada recorte, cada sobreposição, fosse uma tentativa de escutar e dar forma àquilo que insiste em permanecer. As camadas, texturas e contrastes sutis, convidam o olhar a permanecer e descobrir, a cada instante, novos e surpreendentes detalhes.

Para Taís, o poder da colagem está justamente em sua capacidade de conexão, em propiciar, por exemplo, um momento em que alguém se reconhece em uma imagem — mesmo que ela não seja diretamente sua — surgindo, assim, uma ponte afetiva. “Minhas colagens buscam esse lugar: o da memória compartilhada, do fragmento que ecoa uma experiência comum. Elas tocam porque falam de nós todos, a partir do que há de mais singular. Espero, dessa forma, provocar nos visitantes, aquela nostalgia, leveza, um encontro com algo de si, mas também uma certa inquietação. Que saia da experiência com a sensação de ter visitado um lugar familiar — mesmo que nunca tenha estado lá”, conclui.

Taís Marcato foi uma das artistas selecionadas pelo Edital de Ocupação da Galeria de Arte do Forum 2025, cujo resultado foi divulgado no dia 28 de fevereiro.

“Entre recortes e memórias” segue em cartaz até o dia 06 de junho, com visitações gratuitas de segunda a sexta, das 10h às 19h. A entrada é gratuita.

 

Juiz de Fora acrônica

A mostra chega em um momento oportuno por maio ser o mês de celebração de aniversário de 175 anos de Juiz de Fora, comemorado no dia 31. Ao resgatar fotografias da cidade para a criação de suas obras, Taís realiza mais do que arte, ela resgata história, preserva o patrimônio material e imaterial, e reverencia a todos os que escolheram o município como o filme fotográfico de suas vidas.

Trata-se de um aspecto presente em trabalhos, como por exemplo, a obra “Fio de luz”, uma colagem hibrida, que homenageia sua avó, Maria Aparecida, que começou a trabalhar ainda menina na antiga Companhia Têxtil Bernardo Mascarenhas e costurou por toda a vida. Sua imagem jovem, serena e luminosa ganha destaque na composição como símbolo de uma memória íntima, afetiva e profundamente feminina. Ao seu redor, elementos como a máquina de costura, o tecido e a lâmpada compõem uma narrativa visual que entrelaça o gesto manual ao pensamento técnico, a tradição ao progresso.

A presença da antiga fábrica de tecelagem Bernardo Mascarenhas — território histórico de Juiz de Fora, onde, em 1898, foi instalado o primeiro motor elétrico da América do Sul, marco da industrialização e da chegada da luz elétrica à cidade — evoca a memória urbana como pano de fundo para a história pessoal.

Ao justapor imagens de acervo pessoal a ícones da memória coletiva, a obra revela como o cotidiano, o afeto e o progresso se entrelaçam. O gesto da colagem, ao costurar tempos e símbolos, nos convida a enxergar a história como um tecido vivo — onde o pessoal e o social se sobrepõem e se iluminam mutuamente.

Também merece destaque a peça “Lições herdadas”, uma colagem híbrida em que a artista revisita a trajetória das mulheres de sua família que estudaram na tradicional Escola Normal de Juiz de Fora — hoje Instituto Estadual de Educação. A fotografia central mostra suas tias, entre as primeiras da família a frequentarem a escola, símbolo de conquista e transformação social em um tempo em que o acesso à educação formal ainda era privilégio restrito.

A arquitetura imponente do edifício — um presente do governo mineiro à cidade na gestão de Antônio Carlos, representado por seu retrato — contrasta com a leveza dos vestidos e a firmeza dos passos femininos, revelando o cruzamento entre o espaço público e as histórias íntimas.

Elementos como o livro, manuscritos e anotações aludem à leitura como prática ancestral, afetiva e formadora — um amor transmitido entre gerações pelas mulheres da família. Ao justapor esses fragmentos, Tais não apenas celebra a educação como potência emancipadora, mas também reencena o gesto feminino de abrir caminhos por meio do saber.

A mostra conta ainda com objetos tridimensionais, como, por exemplo, a obra “Retinas do tempo”, na qual um livro antigo, amarrado com barbante, serve de base para um conjunto de óculos usados e empoeirados. A composição evoca a herança afetiva e o acúmulo silencioso das experiências cotidianas, sugerindo que, mesmo quando os olhos já não focam, o passado continua a pulsar. É uma obra sobre ver com os sentidos da memória.

 

Oficina Colagem vintage afetiva

Inspirado pela mostra “Entre recortes e memórias”, o Forum da Cultura oferece a oficina “Colagem vintage afetiva”, ministrada pela artista visual Taís Marcato. Ela ocorre no dia 04 de junho (quarta-feira), das 14h às 17h. A oficina é gratuita e aberta ao público a partir dos 16 anos. As inscrições podem ser realizadas através do link https://bit.ly/ColVintAfeFC .

A proposta da oficina é permitir que os participantes desenvolvam suas habilidades com a técnica da colagem, ressignificando imagens e objetos do passado, criando novas narrativas visuais.

Para isso, cada participante deverá trazer para a oficina uma fotografia impressa, com a qual tenha alguma ligação afetiva. Importante lembrar de digitalizar e fazer uma cópia, caso a foto original seja antiga. Pode ser uma fotografia de família, algum registro da cidade, fotos de animais de estimação, entre outros. Aconselhamos dar preferência para impressão em preto e branco a fim de que as cores do trabalho sejam destacadas por meio dos recortes de papeis.

A partir deste registro, com as orientações de Taís, será possível transformar memórias afetivas em colagens repletas de significado.

Os demais materiais para criação dos trabalhos serão oferecidos pelo Forum da Cultura. Os participantes que tenham interesse também podem trazer materiais como revistas, cartolinas, jornais etc.

A colagem é uma linguagem democrática, acessível e sustentável — nasce do reaproveitamento, da ressignificação, do gesto de dar novo sentido ao que já existia. Muitas pessoas também se reconhecem na prática da colagem, pois ela não exige ferramentas complexas: apenas tempo, olhar e escuta. É uma arte que acolhe, aproxima e convida — tanto quem vê quanto quem cria.

Não há necessidade de experiência prévia para participar da oficina.

 

Mais sobre a artista

Taís Marcato (Salvador, 1980) é jornalista, artista visual e colagista. Mestra em Artes, Cultura e Linguagens pela Universidade Federal de Juiz de Fora/MG com período sanduíche na Universitat de Barcelona (UB). Apaixonada pelo universo retrô, foi assim que Tais criou o “Colagem Vintage”, seu ateliê artístico, onde produz colagens personalizadas digitais e analógicas, desenvolve suas coleções autorais, além de conduzir oficinas de criatividade. Sua produção artística é marcada por linguagens híbridas, abrangendo colagens, fotografias e vídeos. A artista valoriza a preservação da memória e busca refletir sobre as possibilidades de construção de narrativas visuais que dialoguem com o passado e o cotidiano em sua arte.

Também já realizou trabalhos como cineasta, atriz, assistente de direção, fotógrafa, produtora em atividades da área de audiovisual. Além disso, Tais também já participou de mostras de arte coletivas. A mostra “Entre recortes e memórias”, no Forum da Cultura da UFJF, é a primeira exposição em formato individual da artista.

 

Galeria de Arte

O espaço, instalado em um local privilegiado no segundo pavimento do Forum da Cultura, abriga produção eclética, com exposições de artes plásticas, documentais e pedagógicas, que já chegaram a ter mais de mil visitantes por mostra. Criada em 1981, no reitorado do professor Márcio Leite Vaz, a galeria recebe importantes nomes da pintura de Minas Gerais e da cidade, além de jovens artistas e coletivos. Em janeiro de 2024, o espaço passou por reforma, substituindo as antigas placas de madeira por novas, garantindo assim, um espaço renovado, com estruturas reforçadas para as mostras a serem expostas. O sistema de iluminação também foi renovado, possibilitando mais destaque para as obras em exibição.

 

Forum da Cultura

Instalado em um casarão centenário, na rua Santo Antônio, 1112, Centro, o Forum da Cultura é o espaço cultural mais antigo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Em atividade há mais de cinco décadas, leva à comunidade diversos segmentos de manifestações artísticas, abrindo-se a artistas iniciantes e consagrados para que divulguem seus trabalhos.

 

Endereço e outras informações

Forum da Cultura

Rua Santo Antônio, 1112 – Centro – Juiz de Fora

www.ufjf.edu.br/forumdacultura

E-mail: forumdacultura@ufjf.br

Instagram: @forumdaculturaufjf

Telefone: (32) 2102-6306