Assentar aos pés da avó para escutar histórias que somente ela sabe contar, brincar de esconde-esconde no quintal em uma tarde ensolarada, dançar uma bela quadrilha, olhar atentamente as calçadas e jardins em busca de um precioso trevo-de-quatro-folhas… muitas vezes não nos damos conta, mas vivemos e viveremos o folclore.
Resgatar, apresentar e exaltar parte desse conjunto de mitos, crenças, histórias populares, lendas, tradições e costumes, é a proposta da nova mostra do Museu de Cultura Popular da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), “Folclore: herança cultural”. A exposição fica em cartaz até o dia 1º de setembro, no Forum da Cultura. As visitações ocorrem de segunda a sexta, das 10h às 19h. A entrada é gratuita.
Ao longo da mostra, o público poderá conferir representações de danças, estatuárias, jogos como xadrez e damas nordestinos, serigrafias e representações de objetos incorporados no dia a dia do fazer popular.
Ela chega no mês em que se celebra o Dia do Folclore (22 de agosto), oportunidade que favorece as reflexões acerca dos elementos culturais que nos diferenciam enquanto nação e, ao mesmo tempo, nos unem enquanto povo. Oportunidade ideal para valorizarmos nossas multiplicidades e similaridades.
Ao adentrar as portas do museu, o visitante terá a oportunidade de se desconectar – mesmo que por algum momento – do mundo real, para acessar um universo fantástico e encantador, representado através das mais de 40 peças em exposição, confeccionadas com materiais intrinsecamente ligados às raízes populares como, cerâmica, madeira, ferro, tecidos, entre outros.
Trata-se de uma seleção especial, com itens oriundos das mais diferentes localidades do país, como por exemplo, São Luís, no Maranhão, Guaratinguetá e Taubaté, em São Paulo; Caruaru e Petrolina, em Pernambuco; Juiz de Fora e Pirapora, em Minas Gerais; Salvador, na Bahia. Esse aspecto da exposição demonstra a riqueza e diversidade do folclore brasileiro, caracterizado por sua amplitude territorial e pela mistura de povos durante a fase de colonização (principalmente indígena, africanos e portugueses, mas também outros europeus, como italianos, holandeses e alemães).
Entre os destaques da exposição, é possível admirar as cores intensas e a alegria marcante das manifestações de danças como o Bumba meu boi, uma grande celebração em que se mesclam devoção, festa, arte, crenças, mitos, música, teatro, artesanato, entre outros elementos; o Maracatu, que consiste num cortejo popular imitando a nobreza aristocrática; a Congada, expressão cultural e religiosa que envolve o canto coletivo, encenações e a fé, através da qual as comunidades congadeiras/reinadeiras louvam divindades e santos de origem africana e/ou católica; e o Jongo, uma manifestação cultural afro-brasileira que integra percussão de tambores, dança coletiva e elementos mágico-poéticos.
As conexões com o transcendental também integram o folclore nacional e estão representados na mostra através de peças como as carrancas, criadas para serem colocadas em proas de barcos, visando espantar maus espíritos que procuravam afundar as embarcações. Ainda no âmbito místico, a mostra conta com um espaço destinado às superstições e objetos de proteção como patuás e escapulários.
Diante deste vasto acervo em exibição e de encontro ao subtítulo da exposição – “herança cultural” – vale aqui lançar uma provocação, para ser pensada individual e coletivamente: como temos lidado com o que nos foi confiado pelas gerações passadas?
O Forum da Cultura se propõe a ser espaço para tais discussões e mais, para permitir que a população se reencontre com suas ancestralidades e se redescubra constantemente enquanto brasileira.
Entendendo o termo
A palavra folclore é de origem inglesa, criada a partir da expressão folk-lore – “Folk”, que vem do povo e “Lore”, que significa conhecimento, saber. O termo foi cunhado pelo escritor, antiquário e folclorista britânico, William John Thoms, em 1846.
O folclore é composto por algumas características elementares, tais como: ser popular; originar-se do saber cultural; ser uma tradição; ser transmissível pela oralidade e pela prática, de geração em geração; fazer parte do conhecimento coletivo e ser uma manifestação livre e espontânea de um povo.
Ele faz parte da riqueza cultural de um povo, por isso está inserido no patrimônio cultural. A Unesco (Organização das Nações Unidas para assuntos relacionados à Educação, à Ciência e à Cultura) define patrimônio cultural imaterial como “as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados e que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural”. O patrimônio imaterial é transmitido de geração em geração, mantido e recriado pelas comunidades e grupos em função de sua interação com o meio em que vivem e com a sociedade.
Museu de Cultura Popular – UFJF
Com um rico acervo de mais de 3 mil peças, o Museu de Cultura Popular é um importante espaço de preservação, resgate e valorização da arte oriunda de expressões e tradições populares.
Entre estatuárias, artefatos indígenas, brinquedos antigos, peças de crenças religiosas e outros diversos itens, das mais distintas origens, o visitante tem a oportunidade de realizar uma verdadeira viagem a outros tempos e locais, muitas vezes desconhecidos. O museu abriga objetos da cultura nacional e também de estrangeiras.
As peças, de natureza singular, aguçam a curiosidade e atuam como pontos de contato entre pessoas e culturas diferentes, propiciando dessa forma, um intercâmbio extremamente importante para sociedade.
O Museu, criado em 12 de março de 1965 – data que marcou o centenário do folclorista Lindolfo Gomes –, foi transferido para o espaço do Forum da Cultura em 1973, sendo doado à UFJF em 30 de setembro de 1987. Sua origem está no trabalho do Prof. Wilson de Lima Bastos, que criou o então chamado “Museu do Folclore”, mais tarde renomeado como “Museu de Cultura Popular”.
Forum da Cultura
Instalado em um casarão centenário, na rua Santo Antônio, 1112, Centro, o Forum da Cultura é o espaço cultural mais antigo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Em atividade há mais de cinco décadas, leva à comunidade diversos segmentos de manifestações artísticas, abrindo-se a artistas iniciantes e consagrados para que divulguem seus trabalhos.
Endereço e outras informações:
Forum da Cultura
Rua Santo Antônio, 1112 – Centro – Juiz de Fora
www.ufjf.edu.br/forumdacultura
E-mail: forumdacultura@ufjf.br
Instagram: @forumdaculturaufjf
Telefone: (32) 2102-6306