No remoto ano de 1223, um frade católico, com vestimentas humildes, adentrava uma gruta na Itália com um intento. Era Francisco de Assis, que, em uma época em que não era permitida a realização de representações litúrgicas, conseguiu com o Papa a permissão para montar aquele que seria o primeiro presépio da humanidade. Nascia ali uma tradição que se espalharia pela comunidade cristã no mundo, venceria o tempo e se tornaria fortemente presente na cultura popular de diferentes povos, inclusive o brasileiro. Inspirados por essa arte, em que se entrelaçam a fé e as belezas que nascem das mãos, o Forum da Cultura da UFJF apresenta a partir desta terça-feira, dia 3 de dezembro, a 36ª edição da exposição de presépios do Museu de Cultura Popular.
Com o título de “Presépios da tradição natalina”, a nova mostra traz mais de 60 obras, que tem como objetivo principal oferecer ao público uma maneira de relembrar o nascimento de Jesus Cristo, importante figura para diversas religiões do globo e marco divisor temporal da história.
As representações trazem elementos icônicos que, com o passar dos séculos, tornaram-se intrinsecamente ligados ao imagético da simbólica noite de dezembro, como, por exemplo, a humilde estrebaria em Belém, as figuras do menino Jesus na manjedoura, a Sagrada Família, os três Reis Magos, os pastores, a estrela, os anjos e os animais do estábulo.
Um dos principais atrativos da exposição ao longo dos anos é a variedade de técnicas e materiais utilizados pelas artesãs e pelos artesãos na criação das peças exibidas. Cerâmica, madeira, palha de bananeira, conchas, bolinhas de gude, massa de pão e até mesmo rocha vulcânica são algumas das matérias-primas escolhidas. Também chama a atenção a procedência das obras, oriundas de diversas cidades do Brasil, como, por exemplo, Alto do Moura (PE), Aparecida (SP), Belo Horizonte (MG), Caruaru (PE), Divinópolis (MG), Juiz de Fora (MG), Piúma (ES), Rio Negro (PR), São Paulo (SP), Turmalina (MG) e Vale do Paraíba (RJ); além de outros países como Angola, Bolívia, Equador, Itália, Peru e Polônia.
Merecem destaque presépios como o africano, que traz peças finamente esculpidas em madeira de lei, representando as figuras do nascimento de Cristo, com traços e elementos comuns ao povo negro; e o presépio indígena brasileiro, obra oriunda de Roraima, em que os personagens possuem características indígenas, trajam vestuários típicos, os presentes dos reis magos são representados pela pesca, caça e frutas, e os animais que compõem a cena pertencem à fauna brasileira, como o jabuti, a anta e a onça-pintada.
Para a conservadora e restauradora de bens culturais do Forum da Cultura, Franciane Lúcia, a exposição carrega significados especiais para a comunidade juiz-forana. “O público aguarda todos os anos a chegada dessa exposição. A cada edição, selecionamos as peças a serem exibidas com muito carinho e cuidado, a fim de tornar este período ainda mais significativo para quem visita nosso espaço”, explica ela. “A história contada pelo presépio vai além de ser cristão. Ele fala da esperança, de se renovar e da chegada de uma nova pessoa que pode transformar o mundo para melhor. E na exposição podemos ver como a pluralidade e a diversidade de materiais são testemunhos da criatividade de vários artistas sobre a interpretação dessa tradição natalina”, acrescenta.
“Presépios da tradição natalina” segue em cartaz até o dia 10 de janeiro, com visitações de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h. A entrada é gratuita e aberta ao público em geral. Entre os dias 21 de dezembro e 06 de janeiro de 2025, o Forum da Cultura não realizará atendimento presencial.
Os 36 anos de tradição
No Forum da Cultura, a exposição com presépios ocorre desde o ano de 1988, graças à iniciativa do professor Antônio Weitzel, que dirigiu o Museu de Cultura Popular por alguns anos. Desde então, a cada nova edição, o público retorna ao espaço a fim de se reencontrar com as simbólicas peças, e os novos visitantes se encantam com toda beleza à mostra. A exposição de presépios é um dos mais tradicionais eventos no calendário natalino de Juiz de Fora e região.
Uma expressão cultural
O hábito de montar presépios surgiu como uma prática vinculada à religião católica, ganhou adesão entre seus fiéis – além de pessoas não necessariamente católicas –, segue viva e transmitida de geração em geração. Nas festividades de final de ano, é possível encontrar presépios montados em espaços públicos, museus, igrejas, clubes e casas particulares, cada um deles com materiais como argila, papelão, material reciclado, madeira, entre outros.
A criação dessas representações também varia de acordo com a região, costumes e com o próprio período em que são realizadas, sendo, inclusive, um meio de expressar a cultura e o estilo de vida de determinado grupo. Alguns presépios incluem, por exemplo, elementos típicos, como animais, alimentos, utensílios domésticos, vegetação e outras representações das tradições da localidade.
Ainda assim, vale reforçar que, apesar dos múltiplos formatos, matérias-primas e procedências, o simbolismo dos presépios mantém-se o mesmo, trazendo à tona, de quem os contempla, o sentimento de fé, esperança e união entre as famílias e povos.
Museu de Cultura Popular – UFJF
Com um rico acervo de mais de 3 mil peças, o Museu de Cultura Popular é um importante espaço de preservação, resgate e valorização da arte oriunda de expressões e tradições populares.
Entre estatuárias, artefatos indígenas, brinquedos antigos, peças de crenças religiosas e outros diversos itens, das mais distintas origens, o visitante tem a oportunidade de realizar uma verdadeira viagem a outros tempos e locais, muitas vezes desconhecidos. O museu abriga objetos da cultura nacional e também de estrangeiras.
As peças, de natureza singular, aguçam a curiosidade e atuam como pontos de contato entre pessoas e culturas diferentes, propiciando, dessa forma, um intercâmbio extremamente importante para sociedade.
O Museu, criado em 12 de março de 1965 – data que marcou o centenário do folclorista Lindolfo Gomes –, foi transferido para o espaço do Forum da Cultura em 1973, sendo doado à UFJF em 30 de setembro de 1987. Sua origem está no trabalho do Prof. Wilson de Lima Bastos, que criou o então chamado “Museu do Folclore”, mais tarde renomeado como “Museu de Cultura Popular”.
Forum da Cultura
Instalado em um casarão centenário, na rua Santo Antônio, 1112, Centro, o Forum da Cultura é o espaço cultural mais antigo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Em atividade há mais de cinco décadas, leva à comunidade diversos segmentos de manifestações artísticas, abrindo-se a artistas iniciantes e consagrados para que divulguem seus trabalhos.
Endereço e outras informações
Forum da Cultura
Rua Santo Antônio, 1112 – Centro – Juiz de Fora
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