A mostra traz mais de 20 obras inéditas criadas a partir da técnica de desenho com nanquim e microline.
Sonhos são como poesias visíveis no ecrã da mente. Todos somos artífices dessa matéria-prima preciosa, fonte de belezas inesgotáveis. Eles são como pontes entre o mundo exterior, concreto e racional e, o mundo interior, surreal e onírico. É com o objetivo de materializar esse elemento tão poderoso, e ao mesmo tempo, tão fugaz, que o artista plástico Arthur Assunção traz à Galeria de Arte do Forum da Cultura da UFJF a mostra “Oníricum: uma visão para o incognoscível”. Com traços fluidos, ondulantes, propositalmente desalinhados, fantasiosos e contínuos, a exposição quebra as barreiras do que, até então, não poderia ser conhecido, permitindo o acesso a um universo instigante.
A abertura da mostra ocorre na próxima terça-feira, dia 5 de novembro, a partir das 18h30. Na ocasião, estarão presentes, além do artista, a desenhista e fotógrafa Ana Maria Duarte da Cunha e a historiadora Thais do Nascimento Gonçalves, em um momento de trocas a respeito das técnicas e elementos presentes nas obras. O evento é gratuito e aberto ao público em geral.
Composta por mais de 20 telas inéditas, criadas a partir da técnica de desenho com nanquim e microline sobre papel, a mostra busca provocar momentos de introspecção e revelação em torno dos delírios e desejos da psique humana através dos sonhos.
“No simples ato de dormir, conseguimos alcançar a imaterialidade, podemos controlar e fluir pela abstração que a nossa mente nos leva. É um pouco desse estado fisiológico e psicologicamente consciente, repleto de aspectos sensoriais e emocionais, que busco despertar com meus trabalhos. Por isso, a técnica que utilizo tem como objetivo oferecer uma precisão e riqueza de detalhes, a fim de enriquecer essa experiência visual do espectador”, explica o artista. “Em cada um de meus desenhos é possível visualizar, em determinado grau, a retratação de olhos na composição artística. Esse simbolismo é representado como uma forma de visualizar os olhos como uma janela para a alma, onde fechamos a nossa visão para o mundo exterior e nos voltamos para todas as imensas e milhares de possibilidades do nosso interior”, acrescenta Arthur Assunção.
Tal opção estética nasceu a partir do último desenho criado para a exposição. O artista observava as próprias telas, mas sentia falta de algum elemento essencial. Ele relata que “observava as formas, mas elas não devolviam uma resposta. Foi então que surgiu a ideia de incorporar os olhos em todos os cantos, como símbolos de vigilância constante. Esses elementos se uniram em harmonia, dando vida ao conceito final”.
A obra “Despertar”, por exemplo, foi criada com a intenção de representar o olho enquanto uma abertura para o mundo dos sonhos — o espaço desacordado. Nela, o olho não só emerge de dentro de si como guia para o mundo onírico, mas também evoca a conexão com a água, o fluido e o mutável. Essa intenção de transição foi representada em um “choro” que se mescla a um caminho, como um rio sinuoso.
Animais aquáticos também são inspiração para as criações de Arthur. O público poderá contemplar a beleza das águas-vivas e suas membranas em forma de babados, polvos e seus tentáculos curvados, o belo mergulho das baleias, o nado solitário das tartarugas e as carpas com seu hipnótico ballet. Todos representados dentro da mesma proposta estética.
Outro destaque de “Oníricum” é uma escultura – a única da mostra – que busca materializar ainda mais o sonho, tornando-o algo palpável. Diferentemente de todos os outros trabalhos em exibição – exclusivamente criados em preto e branco – a peça traz elementos coloridos. Com múltiplos rasgos e símbolos, bebendo na fonte do surrealismo, o objeto brinca com a anatomia humana, sugerindo como a nossa imaginação pode transformar um material bruto em algo vivo e expressivo.
O artista plástico finaliza, reforçando que a proposta expositiva não se restringe à simples apresentação de trabalhos artísticos, mas que constitui-se como um convite à introspecção e à reflexão sobre os mistérios da mente humana. “Ao trazer à luz os fragmentos dos sonhos e dos devaneios, espero despertar nos espectadores a capacidade de explorar o insondável cosmo que habita dentro de cada um de nós. Por meio desta mostra, almejei transcender os limites do visível e do palpável, a fim de conduzir o público a uma jornada de descoberta e autoconhecimento”.
Arthur Assunção foi um dos artistas selecionados pelo Edital de Ocupação da Galeria de Arte do Forum da Cultura 2024, cujo resultado foi divulgado no dia 15 de março.
A mostra fica em cartaz até o dia 22 de novembro, com visitações de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h.
Mais sobre o artista
Natural de Manhuaçu (MG), desde cedo Arthur Assunção desenvolveu uma profunda conexão com a arte. O amor natural pelo desenho foi potencializado pelo incentivo da mãe e das avós, que, além de costurar, também realizavam artesanato e pintura. Ainda criança, Arthur fez aulas de desenho e ilustração em sua terra natal, participando, inclusive, de exposições coletivas com outros alunos.
A arte se manifestou também através de outras expressões como teatro, tendo fundado um grupo em sua escola do ensino médio, e balé clássico, no qual possui formação com cinco anos de estudos.
Em 2022, muda-se para Juiz de Fora a fim de cursar História na UFJF. A experiência acadêmica segue sendo um período de intenso conhecimento das artes, sob uma perspectiva histórica e teórica, servindo como estímulo constante para novas inspirações e ideias para futuros trabalhos. Atualmente leciona aulas em um curso de pré-vestibular popular da Prefeitura de Juiz de Fora.
A exposição no Forum da Cultura é a primeira do artista em formato individual, e a primeira em Juiz de Fora também.
Galeria de Arte
O espaço, instalado em um local privilegiado no segundo pavimento do Forum da Cultura, abriga produção eclética, com exposições de artes plásticas, documentais e pedagógicas, que já chegaram a ter mais de mil visitantes por mostra. Criada em 1981, no reitorado do professor Márcio Leite Vaz, a galeria recebe importantes nomes da pintura de Minas Gerais e da cidade, além de jovens artistas e coletivos. Em janeiro de 2024, o espaço passou por reforma, substituindo as antigas placas de madeira por novas, garantindo assim, um espaço renovado, com estruturas reforçadas para as mostras a serem expostas. O sistema de iluminação também foi renovado, possibilitando mais destaque para as obras em exibição.
Forum da Cultura
Instalado em um casarão centenário, na rua Santo Antônio, 1112, Centro, o Forum da Cultura é o espaço cultural mais antigo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Em atividade há mais de cinco décadas, leva à comunidade diversos segmentos de manifestações artísticas, abrindo-se a artistas iniciantes e consagrados para que divulguem seus trabalhos.
Endereço e outras informações
Forum da Cultura
Rua Santo Antônio, 1112 – Centro – Juiz de Fora
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E-mail: forumdacultura@ufjf.br
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Telefone: (32) 2102-6306