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Legado de Mestre Vitalino é tema de exposição no Museu de Cultura Popular do Forum da Cultura

Um menino brinca com barro retirado das margens do Rio Ipojuca. Ele modela pequenas peças, em formatos diversos, de animais comuns à região de Pernambuco. Nascia ali um dos maiores patrimônios da cultura popular brasileira: a arte de Mestre Vitalino. O Forum da Cultura da UFJF homenageia este que é considerado o maior ceramista popular do Brasil, através da exposição “A herança de um Mestre”, em cartaz ao longo do mês de julho, no Museu de Cultura Popular. A entrada é gratuita.

Lenhador em cerâmica, autoria de João Ezequiel – Caruaru (PE)

Composta por 52 peças criadas em cerâmica, a exposição tem como proposta apresentar a influência de Mestre Vitalino na criação de outros diversos artesãos brasileiros, além de celebrar os 115 anos de seu nascimento. Como um verdadeiro bem, que passa de geração para geração, a modelagem peculiar, os traços marcantes e a essência nordestina do ceramista-mor seguiram – e ainda seguem – vivos através de outras mãos.

Ao visitar o espaço, o público terá a oportunidade de conferir representações de figuras icônicas como agricultores, lenhadores, retirantes, além de cenas que retratam o Folclore Brasileiro como Bumba meu boi, Maracatu e as Cirandas. Obras que, inspiradas por Vitalino, expressam tanto o consciente, quanto o inconsciente da região Nordeste, e ainda cumprem o papel de resgatar e preservar o registro estético de momentos particulares da vida sertaneja da década de 40, principalmente.

O Restaurador e Conservador de Bens Culturais do Forum da Cultura, Saulo Machado, reforça o papel de Mestre Vitalino na composição de uma identidade nacional. “Ele é conhecido por modelar a realidade pernambucana e seus personagens, conferindo maior profundidade ao folclore nordestino e evocando um forte senso de pertencimento. Ao representar cenas reais em barro, ele revela um cenário que se torna um dos traços culturais mais marcantes da nossa brasilidade”. Ele também explica que o trabalho e a trajetória de Mestre Vitalino serviram de inspiração para a formação de várias gerações de artistas populares, além de trazerem um importante reconhecimento ao bairro Alto do Moura, em Caruaru (PE). “Com seu sucesso, famílias inteiras passaram a se ocupar da produção cerâmica na comunidade, o que transformou o povoado em referência nacional na área, considerado pela Unesco um dos mais importantes centros de arte figurativa das Américas.”

Estão em exibição obras dos artistas João Vitalino, João Ezequiel, Manuel Antônio, Heleno Manoel, Luiz Antônio, Zé Caboclo, Zezinho, Expedito Antônio e Eliana que possuem em comum apresentarem elementos fundamentais das obras de Vitalino. Através de um olhar atento é possível notar características singulares nos bonecos e grupos de boneco como, por exemplo, orelhas aplicadas em formato de interrogação, corte da boca sempre bem definido, mas sutil, os narizes com tendência a arrebitados, ombros descaídos, mas de contorno suave, entre outros.

Aguadeiro em cerâmica, autoria de Luiz Antônio – Caruaru (PE)

A exposição também conta sobre a dura realidade do povo nordestino, que enfrentava a seca em busca de vencer a sede e a fome, além dos retirantes, que partiam rumo a novos lugares para recomeçarem a vida. Peças como “Aguadeiro”, que demonstra a figura de um homem montado em um burro carregando as chamadas moringas de água, e a “Mulher no pilão”, que representa a figura feminina fortemente ligada às questões da alimentação, essencial para manutenção da família.

“A herança de um Mestre” é, assim, uma extensão da alma de Vitalino, que se regozijava em partilhar e ensinar a arte de manipular a argila com todos ao seu redor. Seu legado transcende o tempo e é um marco na formação do campo cultural brasileiro e na constituição de um espaço regional dotado de símbolos e valores. A mostra segue em cartaz até o dia 26 de julho, com visitações de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h.

 

Mais sobre Mestre Vitalino

Vitalino Pereira dos Santos nasceu em 10 de julho de 1909 no Sítio Campos, a cerca de 6 km da cidade de Caruaru (PE). Filho do lavrador Marcelino Pereira dos Santos e da louceira Josefa Maria da Conceição, o menino começou cedo a dar vida a suas criações com o barro, aproveitando as sobras dos utensílios domésticos produzidos por sua mãe.

Com apenas seis anos de idade, Vitalino passou a exibir boizinhos e outros brinquedos, juntamente com utensílios fabricados por sua mãe e vendidos na Feira de Caruaru. Com o passar dos anos, o que se iniciou como uma brincadeira transformou-se em ofício.

Apesar de ter uma vida dedicada ao trabalho com a cerâmica, foi apenas em 1947 que os trabalhos de cerâmica figurativa de Mestre Vitalino ganham visibilidade para além das feiras em Pernambuco. Algumas de suas peças integraram a 1ª Exposição de Cerâmica Pernambucana, organizada pelo desenhista e educador Augusto Rodrigues, no Rio de Janeiro.

Dois anos depois, ocorre em São Paulo o evento Arte Popular Pernambucana (1949), no qual todos os ceramistas ali expostos tiveram, pela primeira vez, seus nomes circulando de modo impresso, inclusive o de Vitalino.

No ano de 1955, os trabalhos de Mestre Vitalino recebem um reconhecimento a nível mundial, através da Exposição de Arte Primitiva e Moderna Brasileiras, realizada em Neuchâtel, na Suíça.

A importância de Vitalino está em ser um paradigma para os ceramistas brasileiros. O reconhecimento de sua obra gerou muitos seguidores e a Feira de Caruaru passa a ter uma representação, tanto em obras em barro cozido, como em obras policrômicas.

Atualmente, suas peças podem ser vistas no Museu do Louvre, em Paris; Museu de Arte Popular de Viena, na Áustria; no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro; no Museu do Homem do Nordeste, em Recife; no Museu do Barro, em Caruaru, entre outros.

A residência onde o artista passou grande parte de sua vida com a família em Alto do Moura (PE) foi transformada em “Casa Museu Mestre Vitalino” e seu entorno é hoje ocupado por oficinas de artesãos.

  

Museu de Cultura Popular – UFJF

Com um rico acervo de mais de 3 mil peças, o Museu de Cultura Popular é um importante espaço de preservação, resgate e valorização da arte oriunda de expressões e tradições populares.

Entre estatuárias, artefatos indígenas, brinquedos antigos, peças de crenças religiosas e outros diversos itens, das mais distintas origens, o visitante tem a oportunidade de realizar uma verdadeira viagem a outros tempos e locais, muitas vezes desconhecidos. O museu abriga objetos da cultura nacional e também de estrangeiras.

As peças, de natureza singular, aguçam a curiosidade e atuam como pontos de contato entre pessoas e culturas diferentes, propiciando, dessa forma, um intercâmbio extremamente importante para a sociedade.

O Museu, criado em 12 de março de 1965 – data que marcou o centenário do folclorista Lindolfo Gomes –, foi transferido para o espaço do Forum da Cultura em 1973, sendo doado à UFJF em 30 de setembro de 1987. Sua origem está no trabalho do Prof. Wilson de Lima Bastos, que criou o então chamado “Museu do Folclore”, mais tarde renomeado como “Museu de Cultura Popular”.

 

Forum da Cultura

Instalado em um casarão centenário, na rua Santo Antônio, 1112, Centro, o Forum da Cultura é o espaço cultural mais antigo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Em atividade há mais de cinco décadas, leva à comunidade diversos segmentos de manifestações artísticas, abrindo-se a artistas iniciantes e consagrados para que divulguem seus trabalhos.

 

Endereço e outras informações:

Forum da Cultura
Rua Santo Antônio, 1112 – Centro – Juiz de Fora
www.ufjf.edu.br/forumdacultura
E-mail: forumdacultura@ufjf.br
Instagram: @forumdaculturaufjf
Telefone: (32) 2102-6306