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“Azul é teu manto, branco é teu véu”: nova exposição no Forum da Cultura destaca representações de Nossa Senhora

É fim de tarde. Do sofá da sala, a grande janela emoldura o sol descansando seus raios sobre as montanhas verdejantes. O ponteiro do relógio marca o número 6, é hora de Maria. O avô pega o neto no colo e entoa… “Mãezinha do céu, eu não sei rezar; Eu só sei dizer: quero te amar; Azul é teu manto, branco é teu véu; Mãezinha eu quero te ver lá no céu…”. A canção nascida da fé do povo, que percorreu gerações e que ainda segue aquecendo corações, é a fonte de inspiração para o título da nova exposição do Museu de Cultura Popular.

“Azul é teu manto, branco é teu véu” propõe uma incursão através da história, memória e cultura, permitindo reflexões sobre a importância do patrimônio religioso, sua preservação e a representação do feminino na iconografia da arte sacra brasileira. A exposição traz mais de 30 obras criadas por artesãos brasileiros, representando diferentes manifestações de Maria, inspiradas por relatos de suas aparições, milagres e por outras ocasiões especiais ligadas à mãe de Jesus Cristo. A mostra entrou em cartaz na última terça-feira, 30 de abril e segue até o dia 29 de maio, integrando também a programação do Forum da Cultura da UFJF na 22ª Semana Nacional dos Museus, que traz como tema central “Museus, educação e pesquisa”. As visitações são gratuitas e ocorrem de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h.

Quando tocadas pelas mãos humanas, a porcelana, o gesso, a madeira, a resina, entre outras matérias-primas utilizadas para criação das peças, se transformam em símbolos de fé, crença e devotamento. São objetos que falam sobre o que é transcendental e reforçam a conexão de milhares de pessoas com a figura sacralizada da mãe que, no Cristianismo, é representada por Maria.

As peças em exibição são oriundas de cidades como Mariana (MG), Belo Horizonte (MG), Ouro Preto (MG), São João del-Rei (MG) e Juiz de Fora (MG), além de uma obra da Itália.  Entre os destaques estão algumas que representam N. Sra. da Conceição, como a de autoria de Ida Vasconcelos, que traz as tonalidades e texturas inerentes à terracota, e a de Régis Kerusk, criada em cerâmica, que com sua riqueza de detalhes, conquista os olhares mais atentos e desperta sensações de contemplação. Também chama a atenção a imagem de Nossa Senhora Aparecida, criada em saco de aniagem, pelo artista Expedito. A obra reforça as infinitas possibilidades criativas que nascem a partir das particularidades de cada região do país.

Pietá em cerâmica-policromada, autoria de Gerar – Barra (BA). Acervo particular

O público poderá ainda conferir o trabalho do artista mineiro Jorge Cruz, que apresenta estatuárias de Nossa Senhora da Conceição em cerâmica. Nestes trabalhos o artista optou por pintar as peças com tinta fosca, deixando apenas os olhos das santas com tintura a óleo, o que confere um brilho especial que atrai e confere a pureza que tais figuras carregam.

A pintura “Madona” (60 x 70 cm), da artista plástica Nice Nascimento Avanza, também compõe a exposição, encantando pela vivacidade de suas tonalidades e traços diferenciados. A obra, feita em óleo sobre tela e datada de 1978, carrega elementos marcantes na identidade visual da artista capixaba, como, por exemplo, referência à fruta cacau. Autodidata, Nice não se preocupava com o discurso erudito em seus trabalhos. A artista buscava captar elementos do seu entorno e os transformava em arte plástica. Cenas religiosas e do dia a dia no campo aparecem muito em suas obras. Dessa forma, figuras do catolicismo são retratadas, algumas delas com elementos que não correspondem às representações tradicionais.

Independentemente de crenças e da existência – ou não – de relações com o espiritual, a exposição é oportunidade para se apreciar a arte popular, sempre tão bela, natural, intensa e repleta de inspiração.

 

Museu de Cultura Popular – UFJF

Com um rico acervo de mais de 3 mil peças, o Museu de Cultura Popular é um importante espaço de preservação, resgate e valorização da arte oriunda de expressões e tradições populares.

Entre estatuárias, artefatos indígenas, brinquedos antigos, peças de crenças religiosas e outros diversos itens, das mais distintas origens, o visitante tem a oportunidade de realizar uma verdadeira viagem a outros tempos e locais, muitas vezes desconhecidos. O museu abriga objetos da cultura nacional e também de estrangeiras.

As peças, de natureza singular, aguçam a curiosidade e atuam como pontos de contato entre pessoas e culturas diferentes, propiciando, dessa forma, um intercâmbio extremamente importante para a sociedade.

O Museu, criado em 12 de março de 1965 – data que marcou o centenário do folclorista Lindolfo Gomes –, foi transferido para o espaço do Forum da Cultura em 1973, sendo doado à UFJF em 30 de setembro de 1987. Sua origem está no trabalho do Prof. Wilson de Lima Bastos, que criou o então chamado “Museu do Folclore”, mais tarde renomeado como “Museu de Cultura Popular”.

 

Forum da Cultura

Instalado em um casarão centenário, na rua Santo Antônio, 1112, Centro, o Forum da Cultura é o espaço cultural mais antigo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Em atividade há mais de cinco décadas, leva à comunidade diversos segmentos de manifestações artísticas, abrindo-se a artistas iniciantes e consagrados para que divulguem seus trabalhos.

 

Endereço e outras informações:

Forum da Cultura
Rua Santo Antônio, 1112 – Centro – Juiz de Fora
www.ufjf.edu.br/forumdacultura
E-mail: forumdacultura@ufjf.br
Instagram: @forumdaculturaufjf
Telefone: (32) 2102-6306