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Mitologia Iorubá ganha destaque no Museu de Cultura Popular com a exposição “Histórias e mitos dos Orixás”

Omulu em cerâmica policromada, autoria de Cícero José – Caruaru (PE)

Os tambores anunciam o desabrochar das flores. A lua cheia paira no céu, iluminando na terra a busca incessante por mais harmonia. Setembro chega, adentra as portas do centenário casarão e traz com ele as divindades que darão o tom às celebrações de uma nova estação.

Envolto por essa atmosfera supranatural, o Forum da Cultura apresenta “Histórias e mitos dos Orixás”, a nova mostra em cartaz no Museu de Cultura Popular da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A exposição teve início na terça-feira, dia 5, e segue até o dia 29 de setembro, com visitações de segunda a sexta, das 10h às 19h. Ela integra a programação da 17ª Primavera dos Museus, uma iniciativa promovida pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), que ocorre anualmente, durante o início da estação da primavera, envolvendo museus e instituições culturais em todo o Brasil. O tema central do evento deste ano é “Memórias e Democracia: pessoas LGBT+, indígenas e quilombolas”.

Inserida neste contexto, a mostra vem propiciar ao público o contato com as raízes africanas que integram e nutrem nossa complexa árvore cultural, além de reforçar os laços que unem nosso país ao continente que é mãe da humanidade. Também propõe reflexões sobre as contribuições deste povo na construção do país e na formação da nação brasileira, bem como a importância da valorização e do reconhecimento de toda a riqueza de costumes e tradições trazidos pelos ancestrais em situação de escravidão, para o continente.

A exposição é um convite-oportunidade para conhecer e se encantar com toda a beleza da Mitologia Iorubá, um conjunto de crenças que deu origem a diferentes religiões de matriz afro-brasileira, como o Candomblé.

Composta por mais de 30 peças do acervo do Museu de Cultura Popular da UFJF, a mostra traz representações de alguns dos orixás, divindades cultuadas pelas muitas crenças africanas. Tais figuras estão vinculadas às forças da natureza, ao sistema religioso, onde demonstram a força do grupo, e à família, atuando como símbolos de proteção e sobrevivência.

As obras expostas são originárias de diferentes lugares do Brasil e confeccionadas em materiais como gesso e cerâmica policromados, couro, madeira, entre outros. Com uma estética singular, fascinante e apaixonante, cada item é portador de belezas que saltam aos olhos e mensagens que tocam fundo a quem se permite recebê-las.

Exposição “Histórias e mitos dos orixás”

Entre os mais de 400 orixás da cultura iorubana, os visitantes poderão contemplar alguns dos mais populares e cultuados no Brasil, como, por exemplo: Oxalá, divindade masculina responsável pela criação de todos os seres e considerado o pai de todos os orixás; Oxóssi, divindade que vive nas florestas e representa a fartura, sempre empunhando um arco e flecha; Iemanjá, deusa dos mares e oceanos, considerada a mãe de todos os orixás e símbolo da maternidade e a fecundidade; Obá, divindade do barro e das enchentes, responsável por carregar armas e cozinhar os alimentos; entre outros.

“Histórias e mitos dos Orixás” também desempenha um papel fundamental na desmitificação de crenças preconcebidas em relação às religiões de matriz africana, que por séculos foram demonizadas e ligadas à ideia de algo negativo. Conhecer a Mitologia Iorubá é entender que tudo na vida possui dois lados: certo e errado, iluminado e sombrio, ao mesmo tempo, e que é da natureza humana, assim como da natureza da terra, conviver e tentar a busca pelo equilíbrio dessas forças.

 

Nas notas da ancestralidade

A influência Iorubá também alcançou outras áreas, além do campo transcendental, como, por exemplo, a música. Os principais gêneros musicais brasileiros se formaram no contexto pós abolicionista. Foi assim com choro, samba, lundu, maxixe, baiano, maracatu e diversos outros. Todas essas criações beberam na fonte da africanidade, que, através da diáspora, desaguou pelo mundo. Hoje, após séculos de sincretismo, existe nos ritmos, melodias e instrumentos tipicamente brasileiros, e no que se conhece como música e como tradições populares do Brasil, inspiração musical que muito se aproxima do universo dos países africanos.

Vislumbrando todos esses aspectos, juntamente às obras expostas, também estão diferentes instrumentos musicais como tambores e ganzás, que tiveram sua origem nas culturas africanas e que possuem forte presença na música popular brasileira. Passando pelos diferentes sons, o público terá acesso a letras de músicas que trazem em seus versos citações a orixás. Através de um QR Code, será possível acessar um conjunto que reúne informações como oferendas, ervas, cores e contos sobre Ogum, Oxalufã (ou Oxalufom), Oxum, Iemanjá, Omolu, Oxóssi, Ossain, Exu e Xangô.

 

Memórias e Democracia

Oxalá em metal, autoria de Beto (Bahia)

No período da escravidão, os povos africanos foram removidos de sua matriz social e inseridos ao contexto brasileiro da época, um território novo, com uma cultura ainda a germinar. Ao longo deste processo, os negros escravizados eram separados de seus grupos, clãs e familiares, a fim de impedir que se reunissem em agremiações. Dessa forma, ocorreram misturas de etnias diferentes e todo o arcabouço de tradições religiosas e culturais foi redimensionado, a fim de que aquele grupo de pessoas, retirado à força de suas origens, pudesse sobreviver e resistir dentro da nova realidade.

Dessa miscigenação surgiram espaços, religiões, comunidades, costumes e uma multiplicidade de elementos que atuaram como pontos de resistência ao longo dos anos. O candomblé, com a permanência de seus ritos e terreiros, os quilombos, que perpassaram os séculos com resistência e resiliência até se transmutarem em comunidades quilombolas, e todas as pessoas que estão interligadas a estas realidades, são alguns exemplos importantes.

A democracia verdadeira deve garantir a inclusão dessas vozes historicamente marginalizadas, para que suas lutas, realizações e identidades sejam valorizadas e respeitadas, permitindo que sejam protagonistas de seu próprio destino e da construção de um futuro mais justo e igualitário. E a memória é vital para alcançar tal objetivo.

Ao integrar a 17ª Primavera dos Museus, o Forum da Cultura da UFJF firma seu apoio a esta meta e reforça sua responsabilidade perante a sociedade contemporânea, oferecendo um espaço essencial para discussões acerca do racismo estrutural, pertencimento cultural e intolerância religiosa.

 

Museu de Cultura Popular – UFJF

Com um rico acervo de mais de 3 mil peças, o Museu de Cultura Popular é um importante espaço de preservação, resgate e valorização da arte oriunda de expressões e tradições populares.

Entre estatuárias, artefatos indígenas, brinquedos antigos, peças de crenças religiosas e outros diversos itens, das mais distintas origens, o visitante tem a oportunidade de realizar uma verdadeira viagem a outros tempos e locais, muitas vezes desconhecidos. O museu abriga objetos da cultura nacional e também de estrangeiras.

As peças, de natureza singular, aguçam a curiosidade e atuam como pontos de contato entre pessoas e culturas diferentes, propiciando dessa forma, um intercâmbio extremamente importante para sociedade.

O Museu, criado em 12 de março de 1965 – data que marcou o centenário do folclorista Lindolfo Gomes –, foi transferido para o espaço do Forum da Cultura em 1973, sendo doado à UFJF em 30 de setembro de 1987. Sua origem está no trabalho do Prof. Wilson de Lima Bastos, que criou o então chamado “Museu do Folclore”, mais tarde renomeado como “Museu de Cultura Popular”.

 

Forum da Cultura

Instalado em um casarão centenário, na rua Santo Antônio, 1112, Centro, o Forum da Cultura é o espaço cultural mais antigo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Em atividade há mais de cinco décadas, leva à comunidade diversos segmentos de manifestações artísticas, abrindo-se a artistas iniciantes e consagrados para que divulguem seus trabalhos.

 

Endereço e outras informações:

Forum da Cultura
Rua Santo Antônio, 1112 – Centro – Juiz de Fora
www.ufjf.edu.br/forumdacultura
E-mail: forumdacultura@ufjf.br
Instagram: @forumdaculturaufjf
Telefone: (32) 2102-6306