Os modos e manobras de jornalistas e cronistas para mudar em texto a violência cotidiana ou a barbárie da guerra é o tema da mesa-redonda que reúne os professores-pesquisadores Teresa Cristina da Costa Neves, José Geraldo Batista e Fernando Albuquerque Miranda no próximo dia 16 de junho (terça-feira), a partir das 19 horas, no Forum da Cultura.
Com mediação do Prof. Fernando Fiorese, orientador das teses de doutorado dos três participantes, o evento propõe a discussão de questões relacionadas à representação literária e jornalística da violência e da guerra, tendo por objeto as crônicas de Rubem Braga, Luis Fernando Verissimo, João Ubaldo Ribeiro, Millôr Fernandes e Moacyr Scliar, bem como os livros-reportagem de Euclides da Cunha, Joel Silveira, José Hamilton Ribeiro e Sérgio Dávila.
Após a mesa-redonda, haverá o lançamento do livro Rubem Braga com a FEB na Itália: crônicas-reportagens, literatura da notícia, de José Geraldo Batista (Curitiba: Editora Prismas, 2014), resultante da tese de doutorado defendida em 2012 junto ao Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos Literários da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Os participantes e suas teses
Teresa Cristina da Costa Neves, doutora em Letras: Estudos Literários pela UFJF, com mestrado em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e graduação em Comunicação Social pela UFJF. Atualmente é professora adjunta do Departamento de Jornalismo da UFJF. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em expressões culturais contemporâneas, atuando principalmente nos seguintes temas: alegria e tragicidade, riso e narrativa, memória e esquecimento, jornalismo e literatura
Defendida em 2014, a tese “Comédias de uma vida arriscada: risco e riso na crônica brasileira contemporânea”, de Teresa Neves, aborda a temática do risco sob o enfoque do riso, considerando-a como prática recorrente na produção de cronistas brasileiros contemporâneos, tendência na qual o risco se impõe como objeto e o riso se revela como estratégia. Ao tornar risíveis, em seus textos, as ameaças com as quais lidamos cotidianamente, esses textos denotam nosso ânimo para enfrentar aflições pessoais e coletivas, evidenciando aspectos culturais relevantes, maneiras de pensar e agir peculiares de nosso tempo. Os conceitos de risco, riso e crônica são explorados por meio de uma abordagem diacrônica e sincrônica, bem como desdobrados em um panorama teórico-conceitual mais amplo, no qual são investigadas as noções complementares de experiência e reflexividade, felicidade e alegria, memória e esquecimento. Os contrastes e distâncias aí evidenciados servem para problematizar as relações entre risco e riso no corpus literário selecionado. O estudo analítico abrange 15 crônicas de Luis Fernando Verissimo, João Ubaldo Ribeiro, Millôr Fernandes e Moacyr Scliar. O objetivo mais amplo do estudo é investigar o modo pelo qual se exprimem nos textos escolhidos o enredamento do risco e do riso em circunstâncias existenciais características da época atual. Aventa-se, entre outras, a hipótese mais geral de que a crônica se oferece como espaço de mediação entre o registro de comportamentos tipicamente contemporâneos e a recriação artística de vivências genuinamente humanas.
José Geraldo Batista, doutor em Letras: Estudos Literários pela UFJF, com mestrado em Teoria da Literatura e
especialização em Estudos Literários, ambos pela UFJF. Especialista também em Docência na Educação a Distância pelo Centro Universitário do Sul de Minas (UNIS/MG) e graduado em Língua Portuguesa e Inglesa e suas respectivas Literaturas pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES/JF). Atualmente é professor titular do Centro Universitário de Caratinga (UNEC), no qual desempenha também a função de colaborador de coordenação do Núcleo de Documentação e Estudos Históricos (NUDOC). Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literatura, Construção do Conhecimento em Língua Portuguesa e Interdisciplinaridade. Publicou Casa dos Braga, de Rubem Braga: retratos de uma morte feliz (2014).
Defendida em 2012, a tese de José Geraldo Batista foi publicada em 2014 com o título de Rubem Braga com a FEB na Itália: crônicas-reportagens, literatura da notícia, de José Geraldo Batista (Curitiba: Editora Prismas, 2014). A obra trata da coletânea de crônicas Com a FEB na Itália (1945), publicada por Rubem Braga (1913-1990) ao retornar de sua empreitada como correspondente do Diário Carioca na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), junto à Força Expedicionária Brasileira (FEB). Evidentemente, na seleção dos textos, o cronista capixaba considerou o conturbado cenário político e ideológico do Brasil de meados dos anos 1940, cenário a partir do qual José Geraldo Batista analisa o valor de registro histórico do “cronicão” Com a FEB na Itália, privilegiando as questões relativas à tensão entre experiência e memória, subjetividade e objetividade, literatura e jornalismo.
Fernando Albuquerque Miranda, doutorando em Letras: Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), com mestrado em Teoria Literária e Crítica da Cultura pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), especialização em Marketing e Comunicação Corporativa pelas Faculdades de Ciências Sociais Aplicadas Santo Agostinho e graduação em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Atualmente é professor da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu (FACIG). Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em assessoria de imprensa, jornalismo impresso e docência.
Com defesa prevista para meados de 2015, a tese “Experiências de guerra: o relato do jornalista e os meios de reprodução técnica” tem por objetivo realizar uma análise dos relatos de guerra dos jornalistas Euclides da Cunha, Joel Silveira, José Hamilton Ribeiro e Sérgio Dávila. Parte-se dos livros que reúnem as experiências destes autores como correspondentes dos conflitos de Canudos, da Segunda Guerra Mundial, da Guerra do Vietnã e da Guerra do Iraque, respectivamente, para discutir as transformações ocasionadas nos relatos em uma perspectiva histórica. O suporte teórico básico concentra-se nas ideias de Walter Benjamin sobre as perdas da experiência e da aura da obra de arte com o crescente processo de industrialização da sociedade. O jornalista, que tem nos meios de comunicação importantes instrumentos para o desempenho de sua função, não ficou imune a estas mudanças, tendo levado a influência do momento sociocultural em que atuou para sua escrita e consequente representação das guerras mencionadas.