O Museu de Cultura Popular está recebendo o público para a mostra Folclore brasileiro, que ficará em cartaz até o dia 06 de setembro, das 14 às 18 horas.
A cultura popular brasileira teve seu reconhecimento oficial por decreto em 1965, quando o dia 22 de agosto passou a ser fixado como o Dia do Folclore e o Estado de São Paulo elegeu este mês, destinando-o às celebrações das manifestações populares.
O folclore, designado como a ciência do povo, no Brasil, surge da mistura de diversas raças. A transmissão destes saberes se organiza em formas múltiplas de manifestações orais, escritas, plásticas e cantadas. Ela envolve saberes e crenças dos homens em seu local de pertencimento. Assim, a matéria da criação de objetos se organiza diante de cada local geográfico. A palha, a pedra, o barro, a argila ou algodão estão ligados à natureza e são transformados pela cultura.
A exposição mostra a criatividade de artistas populares, representando crenças, danças dramáticas e criações gráficas, quer através da estatuária quer através de folhetos de cordel. Pontualmente, o visitante poderá ver representações de objetos incorporados no dia a dia do fazer popular.
Entre os destaques da mostra temos várias representações do Bumba-meu-boi e, em especial, uma Mulinha, em tamanho natural ligada à dança dramática, criada por Dirceu Nery, para o espetáculo “O Coronel de Macambira”, de Joaquim Cardoso.
No campo do sagrado estão as carrancas, criadas para serem colocadas em proas de barcos, visando espantar espíritos do mal, que procuravam afundar as embarcações. Existe ainda um espaço destinado às superstições e objetos de proteção como pembas, patuás e escapulários.
O cordel, uma literatura popular vendida em feiras nordestinas, está representado por inúmeros folhetos dentre os quais se destacam clássicos como “O pavão misterioso”, narrativas sobre Padre Cícero e Cangaceiros.
No setor das danças dramáticas representadas em estatuária, com destaque para o bumba-meu-boi – um auto que narra a morte e ressurreição do boi dentro da melhor tradição rural que “por tradição é representado durante o período natalino, como sobrevivência das festividades cristãs medievais, em que o culto do boi se fazia em homenagem ao nascimento de Cristo” uma vez que, este animal está presente no presépio criado por São Francisco de Assis. No Brasil, esta tradição portuguesa foi recriada por escravos e agregados das fazendas. A história da negra Catirina que, grávida, tem desejo de comer a língua do boi e obriga o vaqueiro Mateus a matar o animal de estimação do fazendeiro, criando uma narrativa que termina com a ressurreição do boi.
Além do bumba, o visitante poderá ver representações do Maracatu, que consiste num cortejo popular imitando a nobreza aristocrática; a Marujada, que narra a trajetória de marinheiros na Nau Catarineta; a Festa do Divino, com sua representação do Imperador e seu cortejo em direção à missa de coroação. Temos ainda a Festa de São Benedito e o Jongo, uma forma de expressão afro-brasileira que integra percussão de tambores, dança coletiva e práticas de magia. É realizada nos quintais das periferias urbanas e em algumas comunidades rurais do sudeste brasileiro. Esta manifestação nascida das danças de umbigada, é considerada como a semente do samba brasileiro.
A cultura afro-brasileira tem um destaque especial na figura de entidades, dentre os quais se destacam Omulu, considerado o orixá da morte, Oxossi, o orixá da caça e da fartura, e Iemanjá, a rainha do mar.
A mostra procura regatar os valores da tradição cultural brasileira. O saber popular que ainda vigora através de lendas populares e a forma com que se expressa o homem do povo nos mais diversos rincões brasileiros. Ela serve de ponte para que os professores da rede do ensino possam comemorar o mês do folclore.
Numa sociedade globalizada, o Museu de Cultura Popular cumpre a função de resgatar o passado, incorporando valores esquecidos como fonte de resistência. A cultura busca negociar a volta de um país fincado em suas raízes, a recuperação de forças ancestrais diante das rupturas culturais. Estas manifestações estão enraizadas na dimensão do mito que se recicla, acrescentando ao dia a dia novos significados e reformulações direcionadas à sobrevivência de cada núcleo onde existam estas manifestações. As forças emergentes ressurgem sob velhos disfarces históricos; apontam para o futuro e perdem sua força de antecipação, voltando-se para o passado. As rupturas culturais de hoje podem ser recuperadas como suporte para o sistema de valores e os significados de amanhã.
Um povo mantém sua identidade através da preservação de seus valores e o poder cultural na nossa sociedade depende da delimitação de fronteiras ditadas pelos usos e costumes. As instituições culturais e educacionais, junto com as coisas positivas que fazem, também ajudam a disciplinar e policiar essa fronteira. A presente exposição serve como ponto de reflexão.