Alegria e reflexão pontuam “A Cidade da Felicidade”, peça de José Luiz Ribeiro que encerra o curso de teatro do núcleo de adolescentes do Centro de Estudos Teatrais – Grupo Divulgação. A farsa, tipo de montagem escolhida para encenar a história que promete despertar a atenção do público em momentos de intensas discussões políticas e sociais no país, revela-se oracular ao narrar a história de Rancho Alegre, cidade do interior, e seus habitantes.
A trama é recheada de referências ao cotidiano e valores universais são apresentados no plano do diálogo e do debate. Discussões de gênero são levantadas, assim como o bullying, que é evidenciado em uma das cenas. Temas como as bolsas assistencialistas, direitos humanos, nova lei das empregadas domésticas e a lei da ficha limpa aparecem corriqueiramente nas falas dos personagens. Todos esses elementos garantem o trânsito para a grande temática do texto, a modernidade, que, ao chegar à cidade do interior, descortina-se como a solução para os problemas da urbanidade, num claro contraponto às concepções de vida das cidades centrais.
O enredo é baseado na figura do prefeito Garibaldi, homem bom, honesto e ingênuo; na professora Cida, consciente do poder da educação e de seu ofício; no médico Anacleto, que defende melhorias para o posto de saúde; e em Rachel Vaivai, a antagonista marqueteira que vive aplicando golpes em cidades pequenas. Outros personagens surgem na trama para ilustrar a narrativa e levantar questões que permeiam a vida em comunidade.
Para o diretor da peça e também um dos professores do curso, José Luiz Ribeiro, o espetáculo mostra claramente que a vida imita a arte. “A peça foi escrita anteriormente a este grande momento de manifestações e protestos, [em março] e de repente ela está mostrando todo esse movimento,” diz Ribeiro, ao salientar que o espetáculo vai trazer para os palcos o que o público quer ver, “o pessoal da saúde querendo melhorias, um povo cidadão que questiona e quer seus direitos garantidos”.
O figurino da peça é estereotipado, o que garante o caráter farsesco da produção. A equipe da personagem de Rachel Vaivai, que aparece com uma peruca rosa, conta com um assessor de comunicação, uma diretora financeira e duas cerimonialistas, todos vestidos com roupas listradas em preto e branco, só concebíveis no imaginário comum das roupas de presidiários. A professora Cida entra em cena de jaleco, bem como o médico Anacleto.
“A Cidade da Felicidade” propiciará ao público rir de si mesmo, pois o riso é fundamental na reflexão que o espetáculo propõe. Os espectadores poderão se identificar com a trama e projetar-se na história da vida real, onde “Rancho Alegre” pode representar a nossa própria aldeia. A mensagem final da peça indica que somente a educação pode ser a força motriz que transforma a nossa comunidade.
O elenco, com dezenove adolescentes, ensaia desde março, em disciplinas de formação cultural e técnica, nos módulos de treinamento corporal, expressão vocal, improviso e prática de montagem. Todo esse trabalho desenvolve nos adolescentes comprometimento, disciplina e sensibilidade artística, ferramentas fundamentais na formação desses indivíduos nessa fase de grandes descobertas.