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Artistas do Espírito Santo expõem no Forum da Cultura

Os galhos retorcidos de uma árvore, na pintura de Tamara Chagas

Os galhos retorcidos de uma árvore, na pintura de Tamara Chagas

Tamara Chagas e Vinícius Zocolotti, artistas capixabas, abrem sua exposição, “Transitório”, na Galeria de Arte, do Forum da Cultura, da UFJF. Composta por 31 obras, a mostra reúne pinturas e fotografias, que traçam um diálogo entre abstração e figuração e convidam os espectadores a explorar sua relação com o impermanente e a transformação.

A abertura será no dia 04 de junho, às 20h30 e a mostra poderá ser visitada, de segunda a domingo, das 14 às 20:30h, até  o dia 16. A entrada é gratuita.

Os artistas

Naturais de Vila Velha, Espírito Santo, Tamara e Vinícius, são graduados em artes pela Universidade Federal do Espírito Santo e amigos de longa data. Mestre em História e Crítica de Arte, Tamara é adepta de pinturas feitas com suporte de papel, utilizando a técnica do lápis de cor. Falando sobre sua obra, a autora afirma: “Elas versam sobre uma poética que eu denomino de “paisagem de mim”. Nelas, eu uso como referência galhos tortos, troncos de árvores, plantas retorcidas, relevos, mas, também partes do meu próprio corpo, como veias e varizes, fazendo uma analogia entre ambos e suas torções. A maioria dos meus trabalhos é de tendência conceitual ou, então, pintura. Também faço colagens e já fiz alguns vídeos, além de performances”.

De família ligada aos diversos setores artísticos, como Músicos, pintores e escritores, Vinícius trabalha na área de restauração e conservação de bens móveis, basicamente, com arte sacra cristã, além de fazer pós-graduação em Arteterapia (ou terapias expressivas). Zocolotti afirma – “Como artista eu tenho uma predileção por pigmentos naturais, gosto de produzir meu material, apesar de ter trabalhado algum tempo com aquarela. Atualmente, ainda desenvolvo minha técnica com encáustica, porém, não abandonei minhas pesquisas em pigmentos naturais”.

Amante das artes e apaixonado pelo subjetivo, poético e simbólico, o artista utiliza em seus trabalhos, a técnica da encáustica, sobre suporte de madeira MDF. É uma série chamada “A Pintura Almada”, em que ele trata do tema da morte como transmutação. Ele explica que, “a poética da “Pintura Almada”, consiste no trabalho com pranchas de madeira, que dialogam com as questões das mudanças, dos fins, recomeços e dos ritos de passagem que os compõem”.

Ambos relatam que participaram apenas de exposições coletivas na universidade onde estudaram e compartilham o gosto por todas as formas de expressão artística. Nas palavras de Vinícius, “A arte não é feita apenas de imagens belas que usamos para tornar o ambiente mais agradável, um texto que lemos para o dia ser menos tedioso, uma música que escutamos, pois queremos remexer o esqueleto. A arte é composta também dos referenciais simbólicos e arquetípicos mais íntimos do artista e da sociedade. Há muita potência na relação do ser humano com o objeto artístico e no fazer artístico. Não há como não ser afetado por ele. Alguns são mais e outros menos intensamente afetados, mas a arte é um mecanismo natural do ser humano, é a expressão mais sincera que poderíamos ter. Acredito que seja essencial o diálogo do ser humano com os campos da Arte, se não por ser saudável, que seja por ser extremamente libertador”.

A mostra

Performances, questões naturais, colagens e fotogramas que produzem no espectador a ilusão de movimento, são algumas das curiosidades que podem ser vistas na exposição “Transitório”. O termo usado como temática da mostra sugere uma ligação íntima entre os trabalhos dos dois artistas e um elo entre as poéticas de ambos. Tamara explica que – “Na realidade, essa temática tem uma ligação mais íntima com as pinturas do Vinícius. Elas falam sobre o aspecto cíclico e transitório da vida e da morte como um recomeço. Já as pinturas que produzo transitam entre a paisagem observada – ou o corpo observado (no caso, o meu) – e os meus próprios sentimentos e sensações na hora em que estou produzindo as obras, de forma que, não são nem uma representação, nem resultado da pura subjetivação”.

A coletiva traz como destaques, 4 fotografias de uma série intitulada “Êxtase”, composta por obras feitas pelos dois criadores. Zocolotti comenta que – “Êxtase, consiste em fotografias de uma performance, com longa exposição, para captar os movimentos realizados pela performer Tamara. Os movimentos eram livres, aleatórios e incentivados por uma música tribal. As fotografias foram feitas em estúdio escuro e com fundo preto e o resultado de conteúdo ficou bastante profundo e catártico”.

O ambiente também conta com um conjunto de pinturas da artista, denominado “Certeza e Incerteza”, composto por trabalhos conceituais que se relacionam intimamente à questão da natureza incerta e aleatória dos eventos cotidianos. “Tanto em um quanto em outro eu faço uso de um famoso conto de Jorge Luis Borges chamado “A Loteria em Babilônia”, uma narrativa fantástica na qual o autor percebe a realidade como “um infinito jogo de acasos”. Nos dois trabalhos eu contraponho a primeira página desse conto, fotocopiada e com intervenções minhas, a um fotograma, em um, e a uma colagem, em outro”, explica Tamara.

Além de todas essas curiosidades, a mostra apresenta ainda, uma série de pinturas feitas por Chagas, utilizando a técnica do lápis de cor sobre papel e a série “Pintura Almada”, de Zocolotti, que traz símbolos referentes a transformações, morte e renascimento e faz um paralelo com as abelhas e a cera, representando a alma.

É a primeira vez que os artistas expõem em Juiz de Fora, e, ambos confessam estar lisonjeados com a oportunidade de poder utilizar um espaço cultural tão importante para a cidade. Tamara conclui que, “por ser um centro cultural ligado a uma universidade, acreditamos que o Fórum da Cultura se trata de uma instituição que valorize o trabalho de pesquisa artística e dê espaço a jovens talentos, e não apenas a artistas já consagrados ou àquela produção já legitimada pelo “mainstream”.