A professora Aline Pereira abordará as “distopias políticas em seriados televisivos”, na palestra de encerramento do XVIII Erecom. A atividade ocorre nesta sexta-feira, 12/03 às 14h. Conversamos com a pesquisadora a respeito dos ângulos de abordagem do tema. E, ainda, sobre o crescimento de distopias múltiplas nas narrativas dos seriados televisivos contemporâneos.
Entrevista: Jhonatan Mata
1-“Distopias políticas em seriados televisivos” é o tema de sua palestra. Pode adiantar pra gente como você pretende abordar a questão no Erecom?
Acredito que os seriados, entendidos como produtos culturais, podem ser vistos como a materialização de uma certa “mentalidade” ou “imaginário” (ainda que esses termos não sejam sinônimos exatamente) de uma dada época. Vivemos o que considero um “boom” de distopias em seriados televisivos e o que isso diz sobre a nossa época? Por exemplo, Handmaid’s Tale é baseado em uma obra literária de 1985. Por que essa súbita popularidade 36 anos depois? No mais, não posso dar spoiler! (Risos).
2- Seu projeto de Pós-Doutorado, realizado no PPGCOM UFJF, tratou das relações entre mídia e poder. No atual contexto dos “seriados” enquanto formato em ascensão em termos de produção e de consumo, quais seriam os “poderes” e as distopias políticas nesse/desses produtos hoje?
Sempre fui fã de seriados e começou a me chamar a atenção a grande quantidade de seriados televisivos que exploram distopias (em geral baseados em obras literárias). Cito como exemplo: O homem do castelo alto; Years and Years; Handmaid’s Tale, The expanse e Black Mirror onde vemos alguns imaginários políticos recorrentes sendo evocados. Falando especificamente sobre Years and Years, a minissérie britânica produzida pela BBC se passa num futuro próximo e conta a história da ascensão de uma política de extrema direita na Inglaterra, interpretada pela Ema Thompson. Nela, a gente vê alguns dos mitos políticos que o Girardet trabalha na obra dele Mitos e mitologia política, (obra que o professor Erick Felinto também abordou na palestra de abertura do Erecom): o mito do salvador (sintetizado por um partido ou político); mito da conspiração (o fato de existirem “inimigos” a serem combatidos, querendo corromper nossos costumes ou tomar nosso dinheiro); o mito da unidade (ideia de que uma pátria unida seria mais forte e que os estrangeiros devem ser expulsos) e o mito da idade de ouro (aquele período onde tudo era perfeito e para onde precisamos retornar).
Alguns episódios de Black Mirror, por exemplo, exploram de forma distópica a questão das novas tecnologias e seus impactos na subjetividade e também no reforço de mecanismos de controle social. Years and Years também apresenta como uma das questões o transhumanismo, através do desejo da personagem Bethany que vai se fundindo às tecnologias no decorrer da série. Outra questão é a substituição do trabalho humano por novas tecnologias e a consequente plataformização do trabalho.
3- Na série “Cidades Invisíveis”, Carlos Saldanha mescla personagens de nosso folclore com investigações de um assassinato, criando um universo audiovisual distópico particular. Na produção, observamos personagens da cultura brasileira, como a Cuca, Curupira, Saci e Iara incorporados à lógica “standard” do streaming, uma vez que histórias do folclore são “remixadas” com temas adultos que envolvem especulação imobiliária, miséria, ocupações de rua e mortes. Sob a ótica de “terrenos audiovisuais nacionais” (ainda que esses produtos extrapolem fronteiras em seus alcances), como você analisa, de modo pontual, a repercussão internacional da série “Cidades Invisíveis”, que está no top10 da Netflix em 40 países?
Infelizmente ainda não assisti a essa série, mas estou super curiosa. Acho sensacional a premissa. A expertise que temos em produção de ficção seriada, aliada aos serviços de streaming que têm se popularizado e a nossa incrível mitologia nacional muito pouco explorada em grandes produções se constituem em um terreno fértil para produções de alto nível.
Aline Pereira é professora substituta na Faculdade de Comunicação na Universidade Federal de Juiz de Fora, MG (UFJF). Realizou estágio pós-doutoral no PPGCOM da mesma universidade, através do Programa Nacional de Pós-Doutorado, da Capes, onde desenvolveu projeto sobre mídia e poder e atuou como professora visitante de graduação e pós-graduação. É doutora em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com formação complementar (bolsa doutorado sanduíche) no Department of History da New York University (EUA), sob supervisão da professora Barbara Weinstein, em 2008. Mestre em Comunicação, Imagem e Informação, na área de Mídia e Discurso, pela Universidade Federal Fluminense (2004). Foi bolsista do Programa de Incentivo à Produção do Conhecimento Técnico e Científico na Área da Cultura da Fundação da Casa de Rui Barbosa. Graduada em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal Fluminense (2002). Foi coordenadora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda do Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA), entre março a novembro de 2013. Professora nos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda do Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA).