Mesa foi composta pelos pesquisadores João Batista Abreu, Flávio Porcello e Denise Tavares
Em meio a memórias e reflexões sobre os 50 anos dos movimentos de 1968, o XVI Encontro Regional de Comunicação (Erecom) teve início nesta segunda-feira, 15, na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O evento deste ano traz como tema “1968: Lembrar e pensar” e, até a quarta-feira, 17, reunirá pesquisadores e grandes nomes do jornalismo brasileiro para debaterem sobre “o ano que não terminou”.
Na tarde do primeiro dia de atividades, a mesa “1968: nas ondas do rádio, nas telas do cinema, no aparelho de TV” reuniu especialistas para discutirem os efeitos dos acontecimentos daquele ano nos três meios de comunicação. Flávio Porcello, professor de Jornalismo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), membro do Conselho Consultivo da Rede de Pesquisadores em Telejornalismo (Telejor) e vice-coordenador do Grupo de Pesquisa em Telejornalismo da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares em Comunicação (Intercom), foi um dos convidados para esse debate. Também foi uma das integrantes, a professora do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense (UFF), Denise Tavares, que pesquisa sobre o Audiovisual de não-ficção no Brasil e na América Latina – especialmente, o documentário e produções televisivas e as novas narrativas audiovisuais no contexto da Internet, com novos formatos e gêneros. Além disso, a docente investiga, também, a relação entre o audiovisual e a ciência. O terceiro convidado da mesa foi João Batista Abreu, professor de Comunicação Social da mesma instituição federal. Durante sua trajetória, integrou a equipe do Jornal do Brasil, Rádio Jornal do Brasil, O Globo, TV Globo, TV Educativa e Jornal do Commercio, entre outros. Analisa temáticas da linguagem jornalística, história da mídia, políticas de comunicação, jornalismo esportivo e rádio.
Os relatos de quem viveu
A pesquisadora Denise Tavares deu ênfase, durante sua fala no evento, à relação do cinema como meio de resistência e de crítica ao processo de endurecimento da censura, principalmente, após a instauração do Ato Institucional nº 5 (AI-5). Em consenso com os demais palestrantes, ela afirma que o olhar sobre 68 se modificou a partir da morte do estudante secundarista, Edson Luís de Lima, no Rio de Janeiro. A mobilização popular não deixou de ser notada pela sétima arte. As produções filmográficas e convenções da época sofreram mudanças, em especial, o 4º Festival de Cinema de Brasília, que nas instâncias oficiais era visto como “acolhido” e, no entanto, sofria censura como os demais meios. Além disso, Denise define o ano que não terminou como determinante para a virada no cinema mundial e brasileiro: questionava-se a estética, o apelo popular e a ficção, a aceitação da crítica social; movimento de debate que se mantém até hoje entre os filmes ditos como cults e de massa.
O professor João Batista rememorou os episódios vividos na rádio do Jornal do Brasil – a Rádio JB -, como, por exemplo, a transmissão das manifestações estudantis nas ruas do Rio de Janeiro, onde o repórter conseguiu captar o som dos tiros disparados pelos policiais contra os jovens, e a censura que se sucedeu posteriormente. Explica, também, a forma como as pressões financeiras impactaram na programação; a cobrança estatal e dos anunciantes que acabou por amordaçar a imprensa no período. “O rádio quebra a corrente de intermediação entre a sociedade, chega ao interior, é, sem dúvidas, o veículo democrático, das massas”, afirma o pesquisador ao relatar a importância do meio para a acessibilidade à comunicação para todos, mesmo em momentos sombrios, onde as sanções proibiam as informações reais dos acontecimentos do país. Diante das limitações de acesso à informação, João Batista conta que as rádios estrangeiras se tornaram peças fundamentais para se obter o conhecimento dos fatos sem censura, ao relatarem um atrito existente entre Médici e Geisel.
No mesmo contexto, Porcello começa sua fala dizendo: “A minha janela do mundo, é a janela do meu quarto”, relembrando ao ver uma foto que tirou das manifestações em Porto Alegre (RS), em 1968, que por acaso recebeu de uma jornalista da Comissão da Verdade de Minas Gerais durante um levantamento. A inusitada coincidência embasou os apontamentos sobre TV, a censura do período nos veículos, a criação e distribuição dos recursos estrangeiros para a Rede Globo e a forma como as coberturas noticiosas hoje têm uma maior dedicação à instantaneidade, uma busca de uma equiparação com a Internet.
As discussões sobre 68 continuam na Facom até quarta, 17. A programação reúne mesas redondas, apresentações dos grupos de trabalho e atrações culturais.
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