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Ciência – 23 anos do acidente de Chernobyl

Vinte e seis de abril de 1986, 01h23, o combustível do reator número 4 da central nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, se fragmenta: as barras de óxido de urânio se aquecem e provocam uma autocombustão que arrebenta a tampa de concreto do reator com 2.000 t.

O núcleo do reator exposto ao ar livre começa a liberar uma nuvem de fumaça e vapor de elementos radioativos pesados, como estrôncio e o césio, que se depositaram nas imediações da central.

As primeiras vítimas foram um engenheiro e um técnico, que morreram com a explosão do reator. Três homens das equipes de socorro, muito expostos à radiação, morreram nos dias seguintes. Morreram durante o acidente 31 pessoas e 140 sofreram lesões graves, ficando incapacitadas permanentemente para o trabalho.

Durante várias horas, através de helicópteros, foram lançadas toneladas de areia, boro e chumbo para minimizar o acidente – o boro absorve neutrons, diminuindo a atividade radioativa, e o chumbo fundido escorre pelas tubulações, entupindo-as e interrompendo os vazamentos.

Tudo aconteceu durante um teste operacional para tentar aproveitar a energia residual do sistema turbo-gerador para os sistemas auxiliares. Depois de uma série de erros de operação em um reator muito instável, o experimento degenerou-se e a interrupção da atividade nuclear foi decidida de forma tardia.

A parte superior do núcleo do reator ficou ao ar livre. Foram registrados 30 focos de incêndio. Cinco mil toneladas de materiais foram jogados de helicópteros durante 15 dias para cobrir o reator.

Cinqüenta milhões de cúries (4 x 10e18 boquereis) foram liberados na atmosfera – uma potência equivalente a 500 bombas de Hiroshima – causaram uma trágica contaminação em Belarus, no norte da Ucrânia, e em uma parte do território russo. As radiações se disseminaram por toda a Europa.

Os quase 50.000 habitantes da cidade de Pripiat, situada a apenas três quilômetros da central, só ficaram sabendo da importância da catástrofe no dia seguinte, quando foram evacuados.

As autoridades soviéticas esperaram dois dias antes de reconhecer, por meio de uma nota da agência Tass, que um “acidente” havia ocorrido em Chernobyl e que havia vítimas.

As autoridades suecas foram as que alertaram a comunidade internacional, no dia 28, para a seriedade do ocorrido, quando registraram um importante aumento da radioatividade em seu território – presença de rutênio nas amostras radioativas analisadas. O rutênio se funde a 2.255 graus centígrados, e uma temperatura destas ocorreria somente se houvesse uma explosão. 

Mikhail Gorbachev, líder soviético da época, foi informado no mesmo dia 26, mas o poder central decidiu manter silêncio.

Cerca de 800.000 pessoas, entre bombeiros, civis e soldados, conhecidos posteriormente como os “liquidadores”, foram mobilizados para enfrentar o desastre e construir um “sarcófago” para encerrar hermeticamente o reator danificado por 20 ou 30 anos.

O balanço exato das vítimas nunca foi estabelecido de maneira confiável e continua provocando debates depois de todos esses anos.

Na época foi anunciado que havia dezenas de milhares de mortos, mas um relatório da ONU, de setembro de 2005, destacava que foram 4.000 as vítimas comprovadas ou futuras na Ucrânia, Belarus ou Rússia, por efeito de cânceres.

Este relatório foi questionado por inúmeras ONGs, entre elas o Greenpeace, que calculou em 93 mil pessoas o número de mortos em potencial por causa de câncer.

O impacto na saúde mental e psicológica das populações afetadas também é considerado um fenômeno muito sério, pois cinco milhões de pessoas continuaram vivendo nas zonas contaminadas.

A central da tragédia foi fechada definitivamente em 2000, mas o “sarcófago” apresenta problemas estruturais.

A construção de um “arco” hermético, cujo custo superaria um bilhão de dólares, segundo o Banco Europeu para a Construção e o Desenvolvimento, poderá solucionar a situação.

De qualquer maneira, continuam pendentes os efeitos a longo prazo sobre a saúde e o meio ambiente.

Alguns especialistas observam um aumento de certas enfermidades como o câncer de tiróide.

Também existem preocupações pela exposição crônica a leves níveis de radioatividade, principalmente dos alimentos.

“Atualmente não se vê nada, mas modificações genéticas poderão aparecer em até 50 anos”, advertiu Rudolph Alexakhine, diretor do Instituto de Radiologia Agrícola de Moscou.

Fonte: Site Terra modificado por JCT, 26/04/2009