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Ciência – Mudanças Climáticas e Saúde Pública

O que era previsão de cientistas já é realidade nas grandes cidades brasileiras. O clima hoje mata mais. Associadas ao padrão do aquecimento global, as ondas de calor ou frio extremos aumentaram a mortalidade de idosos em São Paulo, revela uma pesquisa inédita da Universidade de São Paulo (USP). A cada dia morrem 75 pessoas maiores de 65 anos na capital paulista. Mas durante ondas de frio morrem sete pessoas a mais. Já as ondas de calor causam outras três mortes extras. Sinais de drama semelhante são percebidos nas capitais do Sul. 

Os idosos são os mais vulneráveis, mas toda a população sofre. O custo de saúde pública com cada grupo de dez mortes por extremos climáticos chega a US$ 5 milhões, segundo a pesquisa, realizada pelo Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP. Os cientistas estimam que a mortalidade vem crescendo desde 2005, quando as ondas severas de frio e calor começaram a se tornar mais frequentes.

O coordenador do laboratório da USP, Paulo Saldiva, também médico patologista e pesquisador da Universidade de Harvard, diz que o aumento da ocorrência de picos de frio e calor, associado a mudanças climáticas, deverá ter consequências ainda mais graves para a saúde pública.

A pesquisa da USP é reforçada por estudos anteriores. Segundo Saldiva, dias frios afetam com maior intensidade cidades de clima subtropical ou tropical, como as brasileiras, e dias quentes afetam mais intensamente cidades em regiões temperadas ou frias.

Na verdade, os efeitos de extremos climáticos são percebidos a partir da década de 90, de maneira crescente, nas séries de dados analisadas na USP. A pesquisa não está concluída. O desafio dos pesquisadores é estimar outros possíveis efeitos das mudanças climáticas, dentre eles a proliferação de doenças infecciosas, como leptospirose e dengue. Há ainda sinais de aumento de doenças por desconforto térmico em idosos e crianças.

Além das 3.500 mortes causadas pela poluição em São Paulo a cada ano, efeitos do aquecimento global, como a elevação das temperaturas mínimas e das tempestades, também estariam agravando o problema das ilhas de calor já existentes nas metrópoles, geradas pela urbanização.

Outra pesquisa, da Universidade Federal do Paraná, demonstra mais um possível efeito da mudança do clima: o aumento da dengue e da leptospirose no Sul do país. Segundo o geógrafo Francisco Mendonça, um dos autores do trabalho, a situação é evidente nos três estados do Sul, onde os invernos estão mais secos e as primaveras mais chuvosas.

– Houve uma elevação média de temperatura de 1,3 a 1,5 grau Celsius entre 1970 e 1990. Os invernos estão menos frios e mais secos e os finais de primavera, mais chuvosos, o que favorece o mosquito da dengue. Desde 1993 temos casos autóctones no Paraná e em 2006 em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. As chuvas também estão mais concentradas, o que favoreceu o aparecimento de leptospirose – avalia.

Fonte: Jornal Globo, 19/04/2009