Escolas literárias
Há aqueles que acreditam que a arte re!ete o seu tempo. Outros insistem que ela antecipa novos ventos. Na dúvida, ]camos com os dois. E com a certeza de que ela é uma ferramenta importante no registro de nossa história, sendo muito in!uente na evolução social.
Por isso, no mês da Literatura Brasileira, o Vamos Ler! vai recordar algumas das principais escolas literárias da América Latina. Assim como outras expressões artísticas, a literatura latino-americana se constituiu a partir de inúmeras in!uências, tanto da cultura dos povos nativos, quanto de estrangeiros, tornando-se uma das produções mais diversas de todo o mundo.
Índice de textos
Ao braço do mesmo menino Jesus quando apareceu
Memórias póstumas de Brás Cubas
Carta do achamento do Brasil
“Além do rio, andavam muitos deles dançando e folgando, uns diante dos outros, sem se tomarem pelas mãos. E faziam-no bem. Passou-se então além do rio Diogo Dias, almoxarife que foi de Sacavém, que é homem gracioso e de prazer; e levou consigo um gaiteiro nosso com sua gaita. E meteu-se com eles a dançar, tomando-os pelas mãos; e eles folgavam e riam, e andavam com ele muito bem ao som da gaita.(…)”
Pero Vaz de Caminha
1500
Quinhentismo é o movimento literário que ocorreu entre os anos de 1500 e 1601, principalmente no Brasil. Parecido com o classicismo português, a literatura desse período representa o processo de colonização da América Latina, reunindo relatos de viagem com características informativas, descrevendo o novo mundo, desde a fauna, a flora e o povo. O Quinhentismo é marcado pela dúvida dos europeus entre os bens materiais conquistados na nova terra, o amadurecimento do Renascimento, a crescente urbanização e as questões religiosas.
Quéjase de la suerte
¿En perseguirme, mundo, qué interesas?
¿En qué te ofendo, cuando sólo intento
poner bellezas en mi entendimiento
y no mi entendimiento en las bellezas?
Yo no estimo tesoros ni riquezas,
y así, siempre me causa más contento
poner riquezas en mi entendimiento
que no mi entendimiento en las riquezas.
Yo no estimo hermosura que vencida
es despojo civil de las edades
ni riqueza me agrada fementida,
teniendo por mejor en mis verdades
consumir vanidades de la vida
que consumir la vida en vanidades.
Juana Inés de la Cruz
México
Literatura de Conquista é um movimento artístico do século XVII, que apresentou, através de cartas, crônicas, peças religiosas e poemas épicos, o cenário de conquista e exploração da América Latina pelos espanhóis e portugueses, tornando a produção literária em um vasto acervo de documentos históricos. Devido à estreita relação dos colonos da América Latina com seus países de origem, as obras tinham muita referência da literatura europeia.
Ao braço do mesmo menino Jesus quando apareceu
O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte,
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga, que é parte, sendo todo.
Em todo o sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica o todo.
O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo,
Assiste cada parte em sua parte.
Não se sabendo parte deste todo,
Um braço, que lhe acharam, sendo parte,
Nos disse as partes todas deste todo.
Gregório de Matos
Brasileiro
Barroco é um movimento que corresponde às produções literárias entre os anos de 1601 e 1768. O Barroco surgiu na Itália e se espalhou rapidamente por regiões católicas, como a América Latina. Para alguns, os artistas barrocos revisitaram a arte da Antiguidade Clássica. Para outros, este período tem como base diferentes estilos artísticos, contextualizando um período histórico onde o ser humano buscava novas formas de entender o mundo, o homem e Deus.
Marília de Dirceu
Parte I, Lira I
“Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!”
Tomás Antônio Gonzaga
Brasil
Arcadismo corresponde às produções literárias entre os anos de 1768 a 1808. O movimento ocorre em um período de grandes mudanças no mundo. Com o fortalecimento do Iluminismo as pessoas passam a ter o progresso e a ciência como fonte de inspiração. No novo mundo, cresce a luta por independência. Primeiro, ocorre nos Estados Unidos (1776) e logo depois em vários países da América Latina. No Brasil, por exemplo, o movimento dialoga com a Inconfidência Mineira. O período tem características reformistas, onde a aristocracia entra em declínio, dando lugar a uma nova organização econômica de pensamento burguês.
La corona del Bardo
Desata de mi frente esta diadema
De rojos mirtos y lujosas flores,
Que ya mis sienes fatigadas quema
Y emponzoñan el alma sus olores:
De fugitiva gloria vano emblema,
Valiome de la envidia los furores;
De los del oro vil adoradores,
El rencor y sacrílego anatema.
¿Mas, por qué tristes a la tierra inclinas,
Muda ante mí, los ojos virginales
Inundados de lágrimas divinas?
El amor inmortal, hace inmortales;
y al llegar del sepulcro a los umbrales,
Coronas, ¡ay!. .. Me sobrarán de espinas.
Jorge Isaacs
Colômbia
Romantismo corresponde às produções literárias entre os anos de 1836 a 1881. É considerado um movimento que revolucionou a sociedade, uma vez que deixou para trás valores clássicos e inaugurou a modernidade nas artes. As obras foram produzidas com base no crescimento dos ideais burgueses, que substituíram a elite absolutista em muitos países. São marcas desse período, entre outras coisas, a ideia do egocentrismo – indivíduo é o centro do mundo -, o nacionalismo e o sentimentalismo exacerbado. No Brasil é possível identificar três períodos do Romantismo: indianista, ultrarromânticos e condoreiros
Memórias póstumas de Brás Cubas
A franqueza é a primeira virtude de um defunto, pois na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças, obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência.
Machado de Assis
Brasil
Realismo corresponde às produções literárias entre os anos de 1881 a 1893. Buscando apresentar a sociedade da forma como ela era, o Realismo deu origem a obras que olhavam de forma crítica a sociedade do final do século XIX. Suas produções tratavam de problemas sociais e econômicos e de temas polêmicos, como racismo, violência e loucura, buscando descrever indivíduos de todas as classes sociais de maneira similar.
O cortiço
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.
Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da ultima guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia.
Aluísio de Azevedo
Brasil
Naturalismo surge tendo como referência o Realismo e foi um movimento artístico e cultural que teve suas obras baseadas na observação da realidade e na experiência social, reforçando que o ser humano é determinado pelo ambiente onde vive. Inspirando-se na estrutura evolucionista de Charles Darwin, a literatura naturalista respalda-se na abordagem aberta do sexo e uso da linguagem falada, sendo algo inovador para a época. Hoje, ao ler uma obra naturalista, tem-se a impressão de estar lendo algo contemporâneo, devido à descrição dos personagens e de seu contexto social.
Língua portuguesa
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Olavo Bilac
Brasil
Parnasianismo é um movimento de estética literária, no século XIX, contemporânea ao Realismo e ao Naturalismo, tendo referências no sentimentalismo idealizante do Romantismo. As produções desse movimento repetem o ideal positivista e a objetividade da ciência. Para seus autores, a beleza da poesia só era alcançada na construção de um trabalho que primasse pelo rigor da forma, descartando a inspiração. As obras do Parnasianismo têm vocabulário rebuscado e preferência pelo soneto.
A Luís de Camoens
Sin lástima y sin ira el tiempo mella
Las heroicas espadas. Pobre y triste
A tu patria nostálgica volviste,
Oh capitán, para morir en ella
Y con ella. En el mágico desierto
La flor de Portugal se había perdido
Y el áspero español, antes vencido,
Amenazaba su costado abierto.
Quiero saber si aquende la ribera
Última comprendiste humildemente
Que todo lo perdido, el Occidente
Y el Oriente, el acero y la bandera,
Perduraría (ajeno a toda humana
Mutación) en tu Eneida lusitana.
Jorge Luis Borges
Argentina
Simbolismo corresponde às produções literárias entre os anos de 1893 a 1922. Marcado pelo perfil lírico, o Simbolismo buscou uma conciliação entre matéria e espírito, em um período onde a humanidade parecia cada vez mais deteriorada devido ao avanço da industrialização, que foi acompanhado pelo crescimento da miséria, da sujeira industrial e da exploração da força de trabalho, gerando uma decadência progressista.
unir-se e
limitar-se
fundar o meio e
crescer
partilhar o meio e
crescer nas partes
estar nas partes e
tornar-se transparente
unir-se e
limitar-se
Eugen Gomringer
Bolívia
Concretismo foi um movimento baseado na manifestação abstrata da arte. Os artistas desse movimento buscam desenvolver seus trabalhos artísticos incorporando estruturas matemáticas geométricas, tendo a intenção de desvincular o mundo artístico do natural e distinguir forma de conteúdo. As principais características do Concretismo são o banimento do verso e a possibilidade de diversas leituras, através de diferentes ângulos.
Apegado a mí
Velloncito de mi carne
que en mis entrañas tejí,
velloncito tembloroso,
¡duérmete apegado a mí!
La perdiz duerme en el trigo
escuchándola latir.
No te turbes por aliento,
¡duérmete apegado a mí!
Yo que todo lo he perdido
ahora tiemblo hasta al dormir.
No resbales de mi pecho,
¡duérmete apegado a mí!
Gabriela Mistral
Chile
Modernismo corresponde às produções literárias entre os anos de 1922 a 1945. Período representado por um grande movimento artístico que proporcionou grandes transformações em diferentes áreas artísticas, em especial a literatura. O Modernismo marcou a ruptura com o passado, estabelecendo uma identidade própria da América Latina. As produções buscavam se distanciar da cultura europeia, trazendo elementos regionais.
Viejo ciego, Llorabas
Viejo ciego, llorabas cuando tu vida era
buena, cuando tenías en tus ojos el sol:
pero si ya el silencio llegó, ¿qué es lo que esperas,
qué es lo que esperas, ciego, qué esperas del dolor?
En tu rincón semejas un niño que naciera
sin pies para la tierra, sin ojos para el mar,
y como las bestias entre la noche ciega
sin día y sin crepúsculo- se cansan de esperar.
Porque si tú conoces el camino que lleva
en dos o tres minutos hacia la vida nueva,
viejo ciego ¿qué esperas, qué puedes esperar?
Y si por la amargura más bruta del destino,
animal viejo y ciego, no sabes el camino,
ya que tengo dos ojos te lo puedo enseñar.
Pablo Neruda
Chile
Realismo Mágico é uma corrente literária surgida no início do século XX e com características próprias da literatura latino-americana. Seu amadurecimento ocorre em um período onde os países latino-americanos passavam por diferentes processos ditatoriais, principalmente nas décadas de 1960 e 1970. Com a expectativa de reagir à essa situação e também questionar a discrepância entre o desenvolvimento tecnológico e a cultura da superstição muito presente em toda o continente, o movimento tem como particularidade a fusão do universo mágico à realidade, mostrando elementos estranhos com algo habitual.
Quarto de despejo
… Eu escrevia peças e apresentava aos diretores de circos. Êles respondia-me:
— É pena você ser preta.
Esquecendo-se êles que eu adoro a minha pele negra, e o meu cabelo rústico. Eu até acho o cabelo de negro mais iducado do que o cabelo de branco. Porque o cabelo de preto onde põe, fica. É obediente. E o cabelo de branco, é só dar um movimento na cabeça êle já sai do lugar. É indisciplinado. Se é que existe reincarnações, eu quero voltar sempre preta
Carolina Maria de Jesus
Brasileira
Literatura Marginal surgiu na década de 1970 no Brasil e é um movimento onde escritores, oriundos das periferias das grandes cidades, mostram suas ideias e pensamentos através do meio literário, ocupando um espaço até então limitado à elite. O textos da Literatura Marginal têm linguagem coloquial, com foco na questão visual, tendo destaque para desenhos e fotos. As produções também apresentam grafite; recorrência de gírias do hip hop e da linguagem das periferias urbanas. De um modo geral, a Literatura Marginal destoa à norma culta.
Referências: Infoescola / Escola Britannica / Repositório UCS / Mundo Educação / Fronteiras