Índice de textos
Carta de Lucrezia Borgia a su confesor
A laranjeira
Perfumada laranjeira,
Linda assim dessa maneira,
Sorrindo à luz do arrebol,
Toda em flores, branca toda
– Parece a noiva do Sol
Preparada para a boda.
E esposa do Sol, que a adora,
Com que cuidados divinos
Curva ela os ramos, agora!
E entre as folhas abrigados,
Seus filhos, frutos dourados,
Parecem sois pequeninos.
Júlia Lopes de Almeida é uma poetisa brasileira. Nasceu no Rio de Janeiro, em 1862 e faleceu em 1934. Foi uma importante contista, romancista, cronista, teatróloga. Inicia seu trabalho na imprensa aos 19 anos, em A Gazeta de Campinas, numa época em que a participação da mulher na vida intelectual é rara e incomum.Seu estilo é marcado pela influência do realismo e do naturalismo francês. Está entre os intelectuais que participam do planejamento e da criação da Academia Brasileira de Letras (ABL), da qual seu marido é fundador e ocupante da cadeira número 3 – no entanto, por ser mulher, foi impedida de ingressar na instituição. Viveu no Brasil e também na Europa (Portugal e França).
Fonte: Itaú Cultural
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Cecília Meireles é uma escritora brasileira. Nasceu no Rio de Janeiro, em 1901 e faleceu em 1964. Foi a primeira mulher a conquistar destaque e prestígio na literatura brasileira, publicando mais de 50 obras. Realizou diversos trabalhos como poetisa, professora, jornalista e pintora. Sua obra tem influência do Movimento Modernista e do Simbolista. Em 1989 a autora foi homenageada pelo Banco Central, tendo seu retrato impresso na cédula de cem cruzados novos.
Fonte: InfoEscola
Cartas para a minha mãe
“O céu de verdade não se vê, se sente. É uma coisa tão bonita e serena que não dá nem para imaginar. (…) Eu imagino que é um lugar onde não existem mentiras e onde todo mundo se dá muito bem.”
Teresa Cárdenas é uma escritora e contadora de histórias cubana. Atua também como atriz e assistente social. Nasceu em 1970 na cidade de Cárdenas, província de Matanzas (Cuba). É membro da Associação de Escritores da União de Escritores e Artistas de Cuba e já recebeu vários prêmios O Prêmio David (1997); Prêmio da Asociación Hermanos Saíz (1997); Prêmio Nacional da Crítica Literaria (2000), Prêmio Casa de las Américas (2005); Prêmio de la Crítica Literaria (2006). Tem livros publicados também no Canadá, Estados Unidos, Suécia e no Brasil.
Fonte: Pallas Editora
Quarto de Despejo
“É quatro horas. Eu já fiz almoço – hoje foi almoço. Tinha arroz, feijão e repolho e linguiça. Quando eu faço quatro pratos penso que sou alguém. Quando vejo meus filhos comendo arroz e feijão, o alimento que não está no alcance do favelado, fico sorrindo atôa. Como se eu estivesse assistindo um espetáculo deslumbrante”
Carolina Maria de Jesus é uma escritora brasileira. Nasceu em 1914, em Sacramento (MG) e faleceu em 1977. Viveu a infância na zona rural e teve pouco acesso à educação formal, onde aprendeu rapidamente a ler e a escrever, tomando gosto pela leitura. Aos 33 anos, grávida, mudou-se para a favela do Canindé (SP) e passou a trabalhar como catadora de papel. Em seu tempo vago, registrava o seu cotidiano em cadernos, o que deu origem a sua primeira obra Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada (1960), que foi vendida em 40 países e traduzida para 16 idiomas. Publicou também o romance Pedaços de Fome e o livro Provérbios.
Fonte: Revista Galileu
Dulce tortura
Polvo de oro en tus manos fue mi melancolía
Sobre tus manos largas desparramé mi vida;
Mis dulzuras quedaron a tus manos prendidas;
Ahora soy un ánfora de perfumes vacía.
Cuánta dulce tortura quietamente sufrida
Cuando, picada el alma de tristeza sombría,
Sabedora de engaños, me pasada los días
¡Besando las dos manos que me ajaban la vida!
Alfonsina Storni é uma poeta argentina. Nasceu em 1892 na Suíça, mas migrou para a Argentina ainda pequena, em 1896. Faleceu em 1938. Atuou na área de educação, sendo diretora do internato. Participou de diferentes círculos literários em Buenos Aires e Montevideo, colaborando com inúmeras publicações Caras y Caretas, Nosotros, Atlántida, La Nota e no periódico La Nación, obtendo muitos prêmios literários. Sua produção revolucionou o romantismo e ela foi reconhecida como um dos maiores escritores de seu tempo.
Fonte: Biografías y Vidas
Homens néscios
Hombres necios que acusáis
a la mujer sin razón,
sin ver que sois la ocasión
de lo mismo que culpáis:
si con ansia sin igual
solicitáis su desdén,
¿por qué queréis que obren bien
si la incitáis al mal?
Combatís su resistencia
y luego, con gravedad,
decís que fue liviandad
lo que hizo la diligencia.[…]
Juana Inés de la Cruz foi uma religiosa católica, poeta e dramaturga novo-espanhola. Nasceu em 1651 (México) e faleceu em 1695. Entre suas obras estão diversos poemas galantes, poemas de ocasião para presentes ou aniversários de seus amigos, poemas de vestíbulo sobre pés ou consonâncias sugeridos por outros, letras para serem cantadas em diversas celebrações religiosas, e duas comédias chamadas. Pela importância de sua obra, recebeu os apelidos de A Fênix Mexicana e a Décima Musa, além de aparecer nas cédulas mexicanas de alta denominação.
Fonte: History
La Pasión
Salimos del amor
como de una catástrofe aérea
Habíamos perdido la ropa
los papeles
a mí me faltaba un diente
y a ti la noción del tiempo
¿Era un año largo como un siglo
o un siglo corto como un día?
Por los muebles
por la casa
despojos rotos:
vasos fotos libros deshojados
Éramos los sobrevivientes
de un derrumbe
de un volcán
de las aguas arrebatadas
y nos despedimos con la vaga sensación
de haber sobrevivido
aunque no sabíamos para qué.
Cristina Peri Rossi é uma escritora do Uruguai. Nasceu em Montevideo em 1941. Sua carreira teve início em 1963 com a publicação do livro “Viviendo”. Cristina foi considerada uma figura importante para o país durante a década de 1960, sendo que suas publicações foram marcadas por rebeldia e inovação. Exilou-se na Espanha em 1972. Durante sua vida, atuou como professora de literatura, tradutora escritora. Colaborou com El País, Diario 16 e El Periódico de Catalunya. Em 1994 recebeu a Beca John Simon Guggenheim por literatura de ficção.
Fonte: Escritores.org
Lo que le falta al tiempo
Muchas veces te encuentras hechos que nunca acabas de comprender… No vale la pena torturarse, querida. Estamos aprendiendo, siempre estamos aprendiendo; incluso en el momento de nuestra muerte. Ella es nuestra última lección: la magistral. No tengas miedo de equivocarte mientras vivas. Recuerda: estás viva y eso te da la opción de corregir. Corregir es un regalo, ¿Sabes? Pocas personas son capaces de apreciar su valor.
Angela Becerra nasceu na Colômbia, em 1957. Estudou Comunicação Visual e Desenho Publicitário e já atuou como redatora e diretora criativa de agências publicitárias de Cali, Bogotá e Barcelona (Espanha). Em 2000, após ganhar vários prêmios, deixou a carreira publicitária. Entre suas publicações estão Alma Abierta; De los amores negados; Penúltimo Sonho. Ganhou importantes prêmios como Prémio Latin Literary Award e Prémio Azorín.
Fonte: Wook
Algunos poetas
Como libros abiertos,
llenos de citas,
llegan a las reuniones
dejando caer nombres, obras y fechas
como trofeos,
esgrimiendo la lógica
hasta el final de las consecuencias.
Así quieren hacernos a su modo
algunos poetas,
siguiendo la vieja tradición paternalista
tratan de adoptarnos
a falta de poder apresar
el viento, la fruta prohibida,
la misteriosa fertilidad
de nuestros poemas.
Gioconda Belli nasceu em 1948, em Managua (Nicaragua). Sua mãe foi fundadora do Teatro Experimental de Manágua. Sua produção apareceu pela primeira vez em 1970, em um semanário cultural do Diário La Prensa. Sua poesia é considerada revolucionária ao abordar o corpo e a sensualidade feminina. O livro “Sobre la grama” ganhou o prêmio de poesia “Mariano Fiallos Gil”, da Universidad Nacional Autónoma de Nicaragua. Foi uma firme opositora a ditadura de Somoza, precisando se exilar no México e na Costa Rica. Foi membro do Comisión Político-Diplomática del FSLN. Em 1988 publicou sua primeira novela La Mujer Habitada. Recentemente ganhou o Prémio Sor Juana Inés de la Cruz.
Fonte: Escritores.org
La ciega
¡Ay! No gimas, señora
por un ignorado bien
y mientras el mundo llora
busca en tu alma soñadora
lo que tus ojos no ven.
Adela Zamudio nasceu em La Paz (Bolívia) em 1854. Faleceu em 1928. Sua obra, que transita entre o romantismo e o modernismo, foi pautada na igualdade de gêneros e por isso, na Bolívia, o Dia da Mulher é celebrado no dia do seu nascimento – 11 de outubro. Sua biografia contempla obras como Ensayos poéticos, Ráfagas, Íntimas e obras póstumas, como Novelas cortas (1942) y Cuentos breves.
Fonte: Biografias y Vidas
Romance Aves sin nido
…La luna, en sus primeras horas de menguantes, suspendida en un cielo sin nubes, derramaba su plateada luz, que si no da calor ni hiere la pulila como los rayos solares, empapa la Naturaleza de una melancolía dulce y serena, y brinda atmósfera tibia y olorosa en esas noches de diciembre, creadas para los coloquios del amor…
Clorinda Matto de Turner nasceu com o nome Grimanesa Martina Mato Usandivaras, em Cusco (Peru) em 1852. Faleceu em 1909. Durante sua vida, produziu obras importantes que narravam o cenário de corrupção e exploração do povo andino. Atuou em periódicos como El Heraldo, El Mercurio, El Ferrocarril, El Eco de los Andes e El Recreo de Cuzco. No início, seu trabalho se baseou em entender mais sobre a emancipação e educação de mulheres e a história de seu povo, através da escrita de lendas, tradições. Durante a Guerra do Pacífico, entre Peru e Bolívia, contra o Chile (1879 – 1883) sua casa foi usada como hospital, onde Clorinda atentou-se principalmente ao cuidado com os índios que atuaram na guerra. São algumas de suas obrasAves sin nido (1889); Índole (1891) e Herencia (1895).
Fonte: Cervantes Virtual
Complexidade
Eu sou um ser complexo
Ora sou toda coerência
Ora me falta nexo
E como todo bom ser humano
[…]
Não sou diferente de ninguém
Mas admito, tenho poucas qualidades e muitos defeitos
Eu sou o problema insolúvel
Que eu mesma carrego dentro do peito
Eu sou o sussurro calado
O grito falando baixo
Vez ou outra, sou choro preso
Pensamento a esmo
Sou palavra apagada
Às vezes me sinto o lugar que não existe no mapa
Eu queria não precisar de máscara
Mas eu sei
Sou um ser complexo
Patricia Meira é uma poetisa brasileira de 32 anos, natural de Itajuipe (Bahia). Desde a infância Patrícia utiliza a poesia como forma de expressão. Patrícia ganhou visibilidade nacional ao vencer a Batalha de Poesias Slam da Guilhermina, uma intervenção artística e cultural nascida em 2012, na Zona Leste de São Paulo, que reúne poetas da periferia. Slam são eventos de ‘batalhas de versos’, que tem se firmado como espaços de literatura nas periferias.
Fonte: Maria Bonita e Poesia
Assim Eu Vejo a Vida
A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.
Cora Coralina é uma poetisa brasileira. Nasceu em 1889, na cidade de Goiás (GO), e faleceu em 1985. Seu nome de batismo é Ana Lins dos Guimarães Peixoto. Filha de desembargador, nomeado por Dom Pedro II, Cora cursou apenas até a terceira série do curso primário. Apesar disso, o amor pela leitura a fez começar a escrever muito cedo. Em 1910 publicou o “Tragédia na Roça” no “Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás”, usando o pseudônimo de Cora Coralina. Chegou a ser convidada, em 1922, para participar da Semana de Arte Moderna, mas foi impedida pelo marido. Após a morte do esposo, trabalhou como doceira e vendedora de livros. Em 1936, em Andradina, passa a escrever para o jornal da cidade e foi candidata a vereadora em 1951. Sua obra era marcada por temas que retratava seu tempo e sobre o futuro, destacando a realidade das mulheres dos anos de 1900. Aos 70 anos decidiu aprender datilografia para preparar suas poesias e entregá-las aos editores. Seu primeiro livro foi publicado quando tinha 75 anos – “O Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais”.
Fonte: EBiografia
Com licença poética
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
Adélia Prado é uma escritora e poetisa brasileira. Nasceu em 1935 em Divinópolis (MG) e tem sua obra marcada por recriar numa linguagem despojada e direta, a vida e as preocupações dos personagens do interior mineiro. Formou-se em Filosofia e atuou como professora e na Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Divinópolis, por duas vezes. Recebeu o Prêmio Jabuti de Literatura pelo livro “Coração Disparado” (1978). Em 1985, participou em Portugal de um programa de intercâmbio cultural entre autores brasileiros e portugueses. Em 1988 esteve em Nova York na Semana Brasileira de Poesia, promovida pelo Comitê Internacional pela Poesia. Em 1996 estreou em Belo Horizonte, no Teatro do SESI, a peça “Duas Horas da Tarde no Brasil”. Em 2000, em São Paulo, apresentou o monólogo “Dona de Casa”. Entre suas outras obras estão “Quero Minha Mãe” (2005), “A Duração do Dia” (2010) e “Carmela Vai à Escola” (2011).
Fonte: EBiografia
Quem você pensa que é?
“Quem você pensa que é?”
perguntou pra mim de queixo em pé…
Sou forte,
fraca,
generosa,
egoísta,
angustiada,
perigosa,
infantil,
astuta,
aflita,
serena,
indecorosa,
inconstante,
persistente,
sensata e corajosa,
como é toda mulher,
poderia ter respondido,
mas não lhe dei essa colher.
Martha Medeiros é escritora, jornalista e cronista brasileira. Nasceu em 1961 em Porto Alegre (RS). É formada em Comunicação Social e fez carreira na área de publicidade e propaganda, trabalhando em diversas agências de propaganda, em setores de criação e de redação. Publicou seus primeiros livros de poesia, “Strip Tease” (1985), “Meia Noite e um Quarto” (1987) e “Persona Non Grata” (1991). Em 1993, foi morar no Chile e passou a dedicar-se exclusivamente à poesia. Como jornalista, Martha Medeiros escreve crônicas para o jornal Zero Hora, onde possui uma coluna no segundo caderno. Também colabora para a revista Época.
Fonte: EBiografia
Carta de Lucrezia Borgia a su confesor
Padre, si usted fuera mujer
entendería las razones
y no me haría decir tantas avemarías
Padre, ¿no se da cuenta?
mi castigo de ahora
es libertad en el siglo XX.
Carlota Caulfield é uma poetisa cubana, de origem irlandesa. Carlota nasceu em Havana, em 1953. É licenciada em História e Filosofia pela Universidad de La Habana. Seu PHD en Filosofia e Letras foi conquistado na Tulane University com a tese “Entre el alef y la mandorla: poética, erótica y mística en la obra de José Angel Valente”. Atualmente é professora do programa de Estudios Hispánicos del Mills College de Okland (California). Entre seus prêmios destacam Premio Internacional Ultimo Novecento (Pisa – 1988); Premio Internacional Riccardo Marchi-Torre dei Calafuria (Italia – 1995); Mención de Honor Latino Literature Prize (Nova York – 1997) e Primer Premio de Poesía Dulce María (Loynaz – 2002).
Fonte: A média voz