Porque usar a arte em um trabalho de extensão sobre desenvolvimento humano?
A Arte como mediadora e não simplesmente uma metodologia, é fundamental nos processos em que se busca o conhecimento de uma forma geral. Por um lado, porque o(a) professor(a) pode assim educar via imaginação, inspiração e intuição, incluindo aí a própria arte de educar. Nesta busca de qualidades essenciais à formação humana que alimentam o processo criativo, a arte (impulso lúdico) equilibra a sensibilidade (matéria, percepções) e a razão (forma), sem precisa recorrer primeiro à lógica (conceito). Se, pelo impulso lúdico, a arte atua sobre o mundo material, ela propicia ao ser humano um estado de liberdade. Ela permite que o ser humano não somente pense abstratamente, analiticamente, racionalmente. Pois a razão sozinha destrói a totalidade pelo artifício, o egoísmo e o individualismo na sociedade, rompe com a unidade interior da natureza humana e oprime suas potencialidades. Com a arte, é possível equilibrar um polo em que se imagina demais, devastando o entendimento, com outro, que se abstrai demais, prejudicando o sentimento e a fantasia criadora. É possível deduzir com isso que, se o professor (ou qualquer outro indivíduo) prestigiar demais a memória e a abstração de raciocínio, ou somente valorizar as habilidades mecânicas, sem que aquele que as desenvolve considere o que se está fazendo, o indivíduo se aniquila, fica com uma existência precária, com forças cegas naquilo que lhe é oferecido como ordenamento. O entendimento reflui e parte do caráter, e, assim, o caminho para o intelecto precisa ser aberto pelo coração. Para tanto, a formação da sensibilidade pela Arte é necessária não somente porque ela é meio para tornar o conhecimento eficaz para a vida, mas também porque desperta para a própria melhora do conhecimento.
[1] O termo impulso lúdico usado por Rudolf Steiner usa vem do entendimento de que aquele ser que na infância brinca [livremente] não se sente coagido nem pela sensibilidade (matéria) nem pela razão (forma). São as suas percepções que lhe permitem dar forma a um monte de areia, por exemplo, e sua imaginação transformá-lo em um castelo, sem a lógica que está no conceito de castelo. Este tipo de brincar será fundamental para reunir as forças necessárias em seu desenvolvimento presente e futuro, quando, na vida adulta, a ele são requeridas forças para o trabalho e estudo.
[2] Isso tira a força e o fogo da fantasia, tornando tal pensador frio ou desmembrando impressões, que só como um todo comovem a alma. Vale lembrar aqui que, além desta visão de Schiller, a de Goethe consolida o entendimento de Steiner sobre a ligação entre a arte e o conhecimento humano.
Referência: Romanelli, R. A arte e o desenvolvimento cognitivo; um estudo sobre os procedimentos artísticos aplicados ao ensino em uma escola Waldorf. São Paulo: USP, 2008 (Tese de Doutorado em Educação)