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UFJF reflete sobre o papel da Universidade nos dias atuais

Frei David defendeu o sistema de cotas e criticou o vestibular tradicional (Foto: Wilian Oliveira/Proex)

Durante os dias 28 de maio e 01 de junho, a Pró-Reitoria de Graduação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), com o apoio da Secretaria de Comunicação (Secom) e da Pró-Reitoria de Extensão (Proex), realizou a segunda edição do seminário Repensar a Universidade. Com o tema “Renovar a Prática Acadêmica”, o evento debateu diferentes assuntos como o rumo das universidades europeias em meio à crise econômica, o panorama nacional das instituições, os desafios da formação dos professores, o sistema de cotas, o papel da universidade como transformadora das comunidades e suas principais perspectivas.

Participaram do seminário, profissionais e docentes de diferentes instituições do país e do exterior, como Anne Marie Autissier, da Universidade de Paris VIII, Alexander Moreira de Almeida (UFJF), Célia Nunes (Universidade Federal de Ouro Preto), Maria Assunção Calderano (UFJF), Frei David (Educafro) e Dilvo Ristoff (Universidade Federal de Santa Catarina), além do jornalista e líder indígena Ailton Krenak.

Pluralidade

Para o jornalista Ailton Krenak, universidades brasileiras precisam deixar a 'eurocentralização' de lado (Foto: Willian Oliveira/Proex)

Um dos temas que mais despertou a atenção do público foi o debate sobre a crescente pluralidade dentro das universidades públicas, realizado no dia 31. A mesa foi composta pelo líder indígena e jornalista Ailton Krenak, pelo presidente da Rede de Cursinhos Populares Educafro, Frei David e pelo professor Julvan Moreira de Oliveira. O debate teve como objetivo levar os participantes a refletir sobre a mudança do perfil do universitário. “Nós convivemos com alunos bem heterogêneos vindo de diversos lugares de Minas Gerais e do país e de diferentes origens sociais, étnicas, raciais e culturais. A Universidade no século XXI precisa lidar com essas diferenças e desigualdades”, explica o pró-reitor de graduação e organizador do evento, Eduardo Magrone.

Ailton Krenak expôs a complexa relação da população indígena com a Universidade. Segundo ele, a demanda do índio para conhecer e fazer parte dessa instituição começou por volta de 20 anos atrás. Um dos pontos que o líder indígena mais criticou foi a “eurocentralização” que existe nas universidades e como elas passam uma visão de mundo eurocêntrica. “Assim como o índio tem muito a aprender na Universidade, ele tem muito a ensinar também. É uma contribuição bilateral.”

Frei David também abordou o eurocentrismo existente nas instituições de ensino superior (IES). “Isso é uma maldade com o próprio Brasil. Porque o ideal é um país plural, que ama a diversidade étnica. Um Brasil que comungue com a forma de visão indígena e afro. Quando o país não está em sintonia com a diversidade, ele está sendo desonesto com seu próprio povo.”

Acesso à IES

Evento reuniu professores, alunos, técnicos administrativos e profissionais de outras instituições (Foto: Willian Oliveira/Proex)

Outro tema citado e criticado por Frei David foi o ingresso em uma universidade. Para ele, o vestibular é um procedimento injusto. “Não é justo cobrar de um aluno de escola pública e de outro de classe média alta o mesmo conteúdo. Os sistemas de vestibular devem contemplar essa diferença.”

Já sobre as cotas, ele defendeu a importância delas. “A cota ainda é uma etapa do ideal que nós queremos. Precisamos que a sociedade brasileira chegue a um patamar em que nós não precisemos mais delas. No momento, a cota é decisiva para oportunizar melhorias bem como garantir “empoderamento” do negro e do indígena, o que é determinante para o Brasil que sonhamos.”

A professora da Faculdade de Educação, Lúcia Valadares, achou a escolha do tema e dos palestrantes pertinente. “Deu pra perceber como todos ficaram impactados com a fala dos dois. Eles trouxeram a cultura do seu povo. Eu os considero grandes educadores, mas também filósofos e antropólogos, porque eles representam a sua cultura e o seu povo.”