Sapo vive em bromélias e foi batizado em homenagem ao folclore brasileiro (Foto: Matheus Oliveira Neves)

Pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) descobriram uma nova espécie de sapo, considerada rara, registrada na Serra Negra da Mantiqueira (MG). Neste local, a última descrição de sapo desse mesmo gênero (Dendrophryniscus) foi há 30 anos, em 1993. O achado científico acontece em meio ao aumento do desmatamento da Mata Atlântica, que engloba a Mantiqueira – o que coloca em risco a maior parte dessas espécies raras e endêmicas.

Batizados como Dendrophryniscus cuca (sendo este último nome uma homenagem à personagem homônima do folclore brasileiro), os sapos habitam bromélias e, segundo o pesquisador e professor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), Renato Nali, um dos autores da descoberta, o próximo passo será estudar a biologia reprodutiva da espécie para confirmar, entre outros aspectos, se ela emite vocalizações e se há defesa de territórios nas próprias bromélias.

“Abraço nupcial” entre dois machos da espécie Dendrophryniscus cuca (Foto: Renato C. Nali)

“A nossa descrição também demonstra que a Serra Negra da Mantiqueira é um local importante na conservação dos anfíbios, já que algumas espécies, incluindo a que descrevemos, só ocorrem ali”, adianta Nali. A descoberta foi publicada em inglês no periódico Herpetologica, uma revista científica de alto impacto entre a comunidade acadêmica internacional, em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

Com cerca de dois centímetros de comprimento, o sapo cuca passou por  análises moleculares e morfológicas para que os pesquisadores pudessem verificar se ele, de fato, pertencia a uma espécie inédita. O gênero do sapo não foi registrado em nenhum país fora do Brasil, sendo que o cuca foi oficialmente catalogado após uma expedição nas proximidades da cidade mineira de Santa Bárbara do Monte Verde – mais especificamente, na Reserva Particular do Patrimônio Natural Chapadão Serra Negra.

Renato Nali ainda explica que, além da análise morfológica e molecular, também observou um “abraço nupcial” entre dois machos da espécie cuca. “Nessa ocasião, o macho que foi abraçado por engano emitiu vibrações de soltura, ou seja, ‘espasmos’ do corpo para avisar ao outro macho que não haveria reprodução ali.” A emissão dessas vibrações, em vez de vocalizações (o mecanismo usual para atrair fêmeas), motivou os pesquisadores a priorizar o estudo da biologia reprodutiva da espécie em um futuro próximo.

Coleção de Anfíbios da UFJF

Nali também é curador da Coleção de Anfíbios da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAUFJF), fundada no ano 2000, pela professora Rose Marie Hoffmann de Carvalho, para catalogar a diversidade de anfíbios (inicialmente, na região da Zona da Mata mineira) e incentivar pesquisas sobre essa classe de animais na instituição. O sapo cuca já entrou para os registros, como afirma Nali: “as coletas que fizemos deram origem à série-tipo, e o holótipo – espécime que representa toda a espécie – está depositado na coleção da UFJF”.

Holótipo do Dendrophryniscus cuca (Imagem: Divulgação/Artigo científico)

Atualmente, a coleção conta com cerca de 2.400 exemplares de anfíbios, pertencentes a mais de cem espécies e provenientes de oito estados brasileiros. Desde 2019, após Nali assumir a curadoria, foi adotado um novo método de tombamento, planilhamento eletrônico dos dados e organização do espaço para, dessa forma, facilitar visitas externas. Para agendar uma, é preciso entrar em contato por meio do e-mail labanfibiosufjf@gmail.com.

Na coleção, os espécimes são mantidos em via úmida (etanol 70%), em frascos de vidro devidamente etiquetados e separados por espécie e expedição de campo. Também a partir de 2019, a coleção conta com um banco de amostras de tecidos para análise de biologia molecular – estas, por sua vez, são mantidas em freezer e organizadas com planilha própria. Até o momento, mais de 200 amostras estão registradas.

Pesquisa está alinhada aos ODS da ONU

As ações de pesquisa da UFJF estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). A pesquisa citada nesta matéria se alinha ao ODS 15 (Vida Terrestre).

Confira a lista completa no site da ONU.

Outras informações:

Laboratório de Ecologia Evolutiva de Anfíbios (LECEAN-UFJF)

Coleção de Anfíbios da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAUFJF)