Inquietação e apreensão negativa em relação ao futuro são dois sintomas da ansiedade (Foto: Ken Needham/Unsplash)

Bateu ansiedade para saber quais são as dez distorções e verdades sobre ansiedade? Tente respirar com calma e, antes de ir direto à lista, elaborada como parte da campanha nacional de saúde mental intitulada Janeiro Branco, leia antes o que especialistas dizem sobre o estado ansioso.  

Um consenso em saúde mental é que essa apreensão é normal, inerente ao ser humano. “Ansiedade é um estado emocional desconfortável que vivenciamos quando estamos diante da possibilidade de entrar em contato com algo que consideramos ameaçador”, explica o psicólogo Lucas Nápoli Santos, da Pró-Reitoria de Assistência Estudantil da UFJF, em Governador Valadares. 

No entanto, a ameaça também pode ser imaginária ou superdimensionada, tomada de antemão como uma catástrofe sem muitos fundamentos reais. Assim a inquietação e a apreensão negativa em relação ao futuro podem predominar, retroalimentando emoções e comportamentos. A estudante de Letras da UFJF e escritora, Déa Araujo, relata que vivencia episódios de ansiedade ao precisar tomar uma decisão importante ou quando possui um problema de saúde. “Começo a imaginar coisas além do que existem até eu ver que está tudo normal.” 

Conforme um dos principais pesquisadores sobre psicopatologia do Brasil, Paulo Dalgalarrondo, no livro “Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais”, a ansiedade inclui sintomas psíquicos e físicos, tais como medo difuso e impreciso, dificuldade para se concentrar, insegurança, sudorese, tremores, taquicardia, tensão muscular e dificuldade para relaxar. 

Ansiedade inclui sintomas psíquicos e físicos, como medo difuso e sudorese (Foto: Ken Needham/Unsplash)

A situação se complica mais quando se configura um Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG). Por isso, é importante diferenciar uma vivência de ansiedade de uma síndrome ansiosa. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana (DSM V), “as características essenciais do Transtorno de Ansiedade Generalizada são ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva) acerca de diversos eventos ou atividades.” Nesse transtorno, a pessoa sente dificuldade em controlar os sintomas, marcados por tensão, perturbação do sono e preocupação, que ocorrem na maior parte dos dias por, pelo menos, seis meses. Outros critérios diagnósticos também são considerados.

Quando então é recomendado procurar ajuda profissional? “Os principais critérios são o grau excessivo de sofrimento vivenciado, o prejuízo que os sintomas têm causado na vida do sujeito e a cronicidade do problema, ou seja, o fato de que ele tem se apresentado na maioria dos dias por pelo menos seis meses”, explica Lucas Nápoli, que atua como psicanalista e possui doutorado em psicologia clínica. 

A escolha do tratamento varia conforme cada paciente. Para Déa, um episódio de crise somente melhorou inicialmente com medicamento. Depois de estabilizada, entrou em terapia individual e participou do grupo terapêutico sobre ansiedade, o DeBoas, que era organizado pela Proae. “No grupo, ensinaram-me muito a pensar na real gravidade do problema, no máximo que pode acontecer, a entender e a controlar pensamentos ansiosos e catastróficos, contrapondo-os a outros. E gostava muito do relaxamento”, relata a estudante.

Existem outras síndromes que possuem a ansiedade como base, tais como  pânico, fobia, hipocondria e os transtornos de ansiedade social, de separação, de estresse pós-traumático e obsessivo-compulsivo. Conforme os estudos de Dalgalarrondo, o quadro ansioso também pode ser ocasionado por condição orgânica, como hipertireoidismo, câncer, uso de corticoides ou substâncias tóxicas, como cocaína. Em todas as situações, é necessário um ou mais profissionais de saúde qualificados para realizar o diagnóstico.

10 distorções e verdades sobre ansiedade

Terapia, medicação, exercícios físicos e meditação são meios de amenizar a ansiedade (Foto: Sandy Millar/Unsplash)

 A resposta à lista tem o apoio do psicólogo e psicanalista Lucas Nápoli, da Pró-Reitoria de Assistência Estudantil da UFJF.

1 – Ansiedade só é controlada ou amenizada tomando remédio ou fazendo terapia
Parcialmente verdade – Existem outras práticas, como a meditação e o exercício físico, que podem amenizar a ansiedade.

2 – Ansiedade acomete apenas pessoas adultas
Distorção – Crianças também podem sofrer com ansiedade excessiva.

3 – Ansiedade tem somente causa genética ou neurológica
Distorção – Embora existam fatores genéticos e neurológicos que podem estar implicados em um caso de ansiedade excessiva, não se pode dizer que a causa primária dessa condição patológica seja genética ou neurológica.

4 – Um ambiente conturbado pode aumentar a chance de provocar ansiedade
Verdade –  Além de fatores genéticos que podem tornar a pessoa predisposta a desenvolver o transtorno de ansiedade generalizada, o excesso de vivências de situações de insegurança (resultantes de violência doméstica ou negligência, por exemplo) ou superproteção no ambiente familiar na infância costumam estar associado ao desenvolvimento dessa forma de adoecimento.

5 – Ansiedade é sempre negativa
Distorção – A ansiedade é uma experiência emocional adaptativa, que nos ajuda a evitar situações de perigo e a nos proteger de ameaças. Ela só é negativa quando se manifesta em excesso.

6 – Existem bebidas e alimentos que intensificam ou diminuem a ansiedade
Verdade – O consumo excessivo de cafeína, por exemplo, pode contribuir para o aumento da ansiedade.

7 – Ansiedade, pânico e fobia são diferentes
Verdade – Ansiedade é um estado emocional desconfortável que vivenciamos quando estamos diante da possibilidade de entrar em contato com algo que consideramos ameaçador. O pânico é um estado aterrorizante de excessiva e aguda ansiedade. Já a fobia é um medo exagerado e desproporcional de determinadas situações, objetos ou pessoas.

8 – Dormir mal pode agravar o quadro de ansiedade
Verdade – Mas os dois problemas podem se reforçar. A pessoa pode ter mais ansiedade por se privar de dormir o suficiente e pode acabar não conseguindo dormir o bastante por ter muita ansiedade.

9 – A técnica de atenção plena (mindfulness) ajuda no controle de ansiedade
Há estudos recentes que indicam que sim. Uma dessas pesquisas é o “Ensaio Controlado Randomizado de Meditação Mindfulness para Transtorno de Ansiedade Generalizada: efeitos na ansiedade e na reatividade ao estresse” (Randomized Controlled Trial of Mindfulness Meditation for Generalized Anxiety Disorder: Effects on Anxiety and Stress Reactivity), publicada no Jornal de Psiquiatria Clínica (“The Journal of Clinical Psychiatry”) 

10 – Ansiedade é sinal de fraqueza ou de patologia
Distorção – Ansiedade é uma experiência emocional normal, que pode se manifestar em excesso em qualquer pessoa. Fraqueza é um julgamento moral que não cabe nesse contexto.

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