A ouvidora especializada em Ações Afirmativas e professora da Faculdade de Medicina (Famed) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Danielle Teles da Cruz, recebe nesta quarta-feira, 23, a Medalha Nelson Silva, honraria que reconhece o mérito cívico de pessoas físicas e jurídicas que se notabilizaram na produção, difusão e engrandecimento das manifestações artístico-culturais e sociais da raça negra, em âmbitos municipal, estadual e nacional. O evento acontece às 19h30 na Câmara Municipal de Juiz de Fora (CMJF). À professora juntam-se outras nove personalidades.
Professora substituta na Faculdade de Fisioterapia entre 2010 e 2011 e efetiva nos Departamentos de Medicina do Instituto de Ciências da Vida (ICV) do campus GV, entre 2012 e 2015, e de Saúde Coletiva da Famed desde 2015, além de ouvidora especializada da Diretoria de Ações Afirmativas (Diaaf) desde janeiro de 2021, Danielle foi indicada à medalha devido ao intenso trabalho realizado, dentro e fora da UFJF, de afirmação das políticas de inclusão. Para além dos muros da Universidade, ela atua como representante do gabinete da UFJF no Comitê Técnico de Saúde da População Negra (CTSPN) de Juiz de Fora, projeto que tem por objetivo assessorar tecnicamente a Secretaria de Saúde da Prefeitura, visando a promoção da equidade racial na atenção à saúde, apresentar subsídios técnicos e políticos voltados para a atenção à saúde da população negra e propostas de intervenção em diversos órgãos do Sistema Único de Saúde (SUS) e acompanhar ações do Ministério da Saúde neste sentido.
“Em todos os espaços que ocupo, seja no ensino da graduação, na residência médica e na pós-graduação, seja em atividades de extensão, pesquisa ou gestão, busco sempre a incorporação de conteúdos que perpassam as ações afirmativas. Busco o estímulo à reflexão, às discussões e tomada de consciência, a sensibilização dos indivíduos para essas temáticas, pensando sempre na exaltação e reafirmação da história do povo negro e, sobretudo, me reafirmando enquanto mulher preta, lésbica e de origem periférica”, afirma a ouvidora e professora.
Para a vice-reitora da UFJF, Girlene Alves da Silva, a medalha entregue à docente representa o compromisso dos profissionais da UFJF com a sociedade e com a melhoria das condições da população. “O ato da Câmara Municipal, ao colocar em sua lista de agraciados a professora Danielle Teles, significa a compreensão de toda a sua trajetória, como professora, como militante e também como ouvidora. Essa medalha reafirma o seu trabalho cuidadoso em diversas instâncias, nos diversos espaços da vida pública e na luta pelas ações afirmativas, que devem ser encaradas com muita sensibilidade e respeito.”
Danielle ainda exalta a importância da medalha. “Fico lisonjeada e engrandecida, tendo a certeza da grandeza de Nelson Silva e tantos outros corpos pretos que lutaram e resistem. Assim, chego junto dos meus antepassados, mulheres e homens negros, que possibilitaram que eu estivesse aqui hoje. Chego junto de tantos outros do presente com os quais crio redes de afeto e proteção, chego pelos que virão, cheia de esperança que venham de fato para serem livres no sentido mais pleno da palavra liberdade. Essa medalha é importante para toda a comunidade negra, pois simboliza parte de uma base para a reconstrução de uma história e para alimentar o entendimento das nossas existências. Viva o Povo Negro! Que possamos nos aquilombar!”.
Medalha Nelson Silva
Como parte das celebrações pelo mês da Consciência Negra, a Medalha Nelson Silva foi instituída pela Resolução nº 1.120, de 1999. A honraria foi criada em parceria com o Batuque Afro-Brasileiro de Nelson Silva e é concedida anualmente. A escolha dos agraciados com a medalha é feita por uma Comissão de Mérito composta pelo próprio Batuque Afro-Brasileiro de Nelson Silva, pela Secretaria Municipal de Educação, pela Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), pela UFJF, pela CMJF, pelo Conselho Municipal para a Promoção da Igualdade Racial e pelo Instituto Histórico e Geográfico de Juiz de Fora.
O cantor e compositor Nelson Silva nasceu no dia 22 de janeiro de 1928 em Juiz de Fora. Foi contador, tipógrafo e um dos maiores compositores da história do município e do país. Atento à situação do negro no Brasil, retratou a dura realidade enfrentada pela raça em cantos e lamentos, usando uma forma de linguagem típica do escravo.
Em 1964, fundou o Batuque Afro-Brasileiro. A ideia inicial era criar um grupo musical, formado somente por negros para interpretar uma parte da peça “Aquarela do Brasil”, idealizada pelo também jornalista. Nelson faleceu por insuficiência cardíaca, em 1969, deixando aos integrantes do Batuque a sua herança de luta por uma sociedade mais justa e igualitária.
A cerimônia será exibida no canal da JFTV Câmara.