Depois de dois anos suspenso por conta da pandemia, o evento “Pint of Science”, maior festival de divulgação científica do mundo, voltou a ser realizado na noite desta terça-feira, 8, em dois bares de Juiz de Fora, com as temáticas: “A Química em nossa vida: culpada ou inocente?” e “População invisível, e eu com isso?”. O encontro acontece simultaneamente, nos dias 8 e 9 de novembro, em várias cidades do Brasil, como em São Paulo, e outras partes do globo, como no Reino Unido, Argentina e Nova Zelândia, além de muitos outros países da Europa, Oceania e América Latina. A proposta é promover a cidadania científica, ao levar debates sobre ciência para a mesa do bar, de forma descontraída e aplicada. Nesta quarta, 9 de novembro, os temas serão “Troca de óleo: vamos renovar antes que tudo se acabe”, no Bar do Luiz, e “‘Espelho, espelho meu’, existe limite para a estética?”, no Experimental Container Bar.
Na primeira noite, os professores Marcone de Oliveira, do Departamento de Química, e a professora Cristhiane Flôr, do Departamento de Educação, protagonizaram o encontro “A Química em nossa vida: culpada ou inocente?”. Os pesquisadores conversaram sobre o papel da química no cotidiano. As reflexões provocadas, fizeram com que o público pudesse perceber que a química passa constantemente por um processo de substantivação. A química não é um ser ou um objeto que pode ser classificado como bom ou ruim, porque tudo depende da forma que ela é aplicada. É uma ciência que, assim como as demais, não possui vida própria.
Pensar na química como vilã é um julgamento recorrente. Uma das perguntas feitas pelo público foi justamente como desmistificar a ideia dessa ciência como algo ruim e distante da realidade cotidiana. Antes de tudo é preciso entender de que forma esse saber está sendo usado pelo ser humano. “A promoção de eventos como esse, faz com que a discussão saia do ambiente acadêmico e passe a ocupar outros espaços. Essa é uma forma de desmistificar a química e humanizar a figura do cientista, que também gosta de cerveja, música e de papear com os amigos”, constatou Marcone. “É muito comum ouvirmos as pessoas falando que não vão consumir determinado alimento por conter química. O que muitos não percebem é que ela está em tudo, você respira química”, pontua a pesquisadora Cristhiane. Oliveira deu continuidade ao diálogo desafiando o público: “Onde não está a Química?”.
“População invisível, e eu com isso?”
Outro local que contou com o rico diálogo entre cientistas e o público não especialista, foi o Bar do Luiz. No espaço, as pesquisadoras Viviane Pereira, da Faculdade de Serviço Social da UFJF, e Kíssila Teixeira, professora da Faculdade de Psicologia do Centro Universitário UniAcademia, conduziram um debate sobre a invisibilidade da população em situação de rua dentro do modelo de sociedade capitalista. Esse grupo social, em função da condição de extrema pobreza, acaba sendo excluído por não contribuir financeiramente com o sistema. A condição de extrema vulnerabilidade é tão recorrente que acaba sendo naturalizada pelo restante da população, que se depara, constantemente, com moradores de rua vagando pela cidade.
Para aqueles que vêm de fora, o impacto é maior. Como é o caso da professora de Direito Amanda Muniz que integrava a plateia do festival. Ela veio do Rio Grande Do Sul para Juiz de Fora recentemente e relatou que se surpreendeu quando chegou à cidade com o número de pessoas vivendo nas ruas. Viviane explicou que embora esse cenário percebido por Amanda seja uma realidade nacional, Juiz de Fora, de fato, tem um número significativo dessa população que, de acordo com o Censo de 2016, já era de 600 indivíduos. Uma proporção expressiva para o tamanho do município.
A pesquisadora ainda acredita que a solução ideal para reverter essa situação seria uma completa reconfiguração da forma de vida atual, sendo essa, uma perspectiva muito utópica, uma vez que demandaria mudanças substanciais em todos os setores da sociedade. Por ora, a melhor alternativa seria investir urgentemente em políticas públicas voltadas a esse grupo social. A professora Kíssila complementou dizendo que “é preciso romper com a lógica individualista, meritocrática e competitiva da sociedade em que vivemos”.
Sobre o “Pint of Science”
O Pint of Science é um dos maiores festivais mundiais de divulgação científica fora do meio acadêmico, que promove encontros entre pesquisadores e comunidade em bares, pubs, cafés ou restaurantes. Ele chegou ao Brasil em 2015, organizado pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP São Carlos. Desde então, 179 cidades de todo o país já sediaram o evento. A rede é formada por milhares de voluntários interessados em levar descobertas às pessoas.