Dois grandes momentos convergem para marcar a história do Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm) no mês de julho. Ocupando todo o espaço expositivo da casa, a mostra “Coleção Murilo Mendes: 25 anos” chega acompanhada do lançamento do catálogo de mesmo título. De forma inédita, ambos reúnem uma ampla abordagem sobre o acervo do autor juiz-forano.
Com abertura oficial nesta sexta-feira, 1º, e visitação presencial a partir de terça, 5 de julho, a exposição envolve também o tema “Itinerários tão vastos”, na Galeria Retratos-relâmpago, com uma seleção de trabalhos em sintonia com a linguagem estética expressa no colecionismo do escritor. As galerias Poliedro e Convergência apresentam os originais que chegaram à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) em 1994.
O público poderá conferir também uma linha do tempo e dois totens digitais sobre a vida e a obra do patrono do Museu, alocados na sala que antecede a nova Galeria Poliedro, instalada em área de um antigo depósito. No primeiro e no terceiro pisos do prédio, encontram-se as obras que, além de representarem o maior e mais importante ingresso internacional de artes visuais no Brasil durante a segunda metade do século XX, refletem aspectos do colecionismo de Murilo Mendes em diferentes intervalos temporais.
Assim, a coleção refere-se ao percurso do escritor entre 1921 e 1953 (Período brasileiro, que se divide em duas fases), 1953 e 1956 (Missão cultural) e 1957 e 1973 (Período italiano), reflexos de sua rede de sociabilidade. O catálogo e a exposição são indicativos de um colecionador apaixonado, intelectual voraz, crítico atento, olhar sempre armado para as circunstâncias que determinaram sua história, dentro e fora do país, de forma transformadora.
As obras apresentadas são registros de um tempo marcado pela convivência com a genialidade de artistas como Pablo Picasso, Fernand Léger, Joan Miró, Max Ernst, Georges Braque, Arpad Szenes, De Chirico, James Ensor, Vieira da Silva, entre tantos que espelham a inquieta produção criativa internacional, e com Ismael Nery, Alberto Guignard, Lívio Abramo, Candido Portinari, Athos Bulcão e Jorge de Lima, alguns dos que delinearam seu momento nacional.
Conquista histórica
A pró-reitora de Cultura, Valéria Faria, organizadora do catálogo, conta que a exposição e o livro foram pensados para celebrar a recepção, em 1994, das obras do acervo de artes plásticas do escritor pela UFJF. “A pandemia nos forçou a um adiamento, mas continuamos com os projetos até a sua plena realização”, assinala. Ela ressalta que, liderada por professores da instituição e por dois de seus mais notáveis egressos, o presidente Itamar Franco e o então ministro da Educação, Murílio Hingel, a vinda do acervo preencheu a história da Universidade, catapultando a cultura local para além de suas fronteiras.
Nas raízes deste patrimônio, se encontra o Centro de Estudos Murilo Mendes (Cemm), que, entre 1995 e 2005, ocupando o casarão da antiga Faculdade de Filosofia e Letras (Fafile), por sugestão de Hingel, deu guarda a uma fortuna crítica e artística capaz de revelar todo o poder das relações pessoais, afetivas, assim como valores, afetos e visões do poeta em seu percurso por terras brasileiras e europeias. “É nesse sentido, evidenciando as muitas faces de nosso patrono, que esta exposição revisita detalhes da formação desse acervo”.
Sob a administração da então reitora Margarida Salomão, a coleção de artes visuais, a biblioteca e os arquivos documentais do Cemm foram transferidos para o prédio da antiga reitoria, na Benjamin Constant, 790, criando, em dezembro de 2005, o Museu de Arte Moderna Murilo Mendes. Ao longo da última década, a palavra Moderna foi abolida em prol da sintonia com as múltiplas facetas de um homem que se projetou como intelectual, atuando em frentes diversas, como autor, docente, colecionador e crítico de arte, dentro e fora do país.
O superintendente Ricardo Cristofaro destaca que o Mamm pode ser considerado uma das mais expressivas instituições brasileiras dedicadas à arte moderna e seus desdobramentos, sendo detentor do maior acervo de Minas Gerais nesta área. “Ao expor grande parte da coleção original e apresentar um catálogo próprio, o Museu oferece ao público a chance de conhecer mais amplamente um dos pilares da casa do poeta, que chega aos 17 anos de sua criação com uma mostra cuja amplitude remete à difusão do conhecimento relacionado à vida e à obra de Murilo Mendes”.
Difusão necessária
O restaurador Valtencir Passos, coorganizador do catálogo, entende que o livro e a exposição são de fundamental importância para a divulgação da coleção de artes plásticas que pertenceu ao poeta, reiterando a relevância de ambos para a compreensão das facetas de colecionador, de crítico de arte e de sua rede social e de amizade com os artistas modernistas brasileiros e estrangeiros.
“Soma-se a isso o compromisso público da UFJF na preservação e na difusão do patrimônio cultural sob a guarda do Museu, tanto para a comunidade acadêmica, quanto para o conhecimento da sociedade de modo geral, tendo em vista as obras de arte como repertório para as pesquisas científicas, notadamente nos programas de pós-graduação da própria UFJF e demais universidades. Vale reforçar que o catálogo é uma publicação inédita que reúne pela primeira vez as obras da coleção, e a exposição no Mamm apresenta a coleção do poeta em quase sua totalidade”.
Solenidade
A abertura da exposição e o lançamento do catálogo contam com a presença de autoridades para a composição de mesa no salão nobre do Museu. A Orquestra Sinfônica do Pró-Música, sob a regência do maestro Victor Cassemiro, apresenta um mix de canções. São 30 instrumentistas que interpretam Cinema Paradiso, de Enio Morricone, O Mio Babbino Caro, de Giacomo Puccini, e The Lion King Medley, da trilha sonora do filme “O rei Leão”, de 1994.
“A cidade de Juiz de Fora tem um imenso privilégio de ter, em suas fronteiras, um acervo de tamanha relevância internacional. Estamos muito felizes tanto em participar da solenidade quanto em podermos vivenciar esse momento especial que a Universidade nos proporciona”, ressalta o regente.