Laury Gutierrez (Foto: Carolina Villegas)

O desafio norteia o Encontro Tríplice de Música Antiga, que, com o apoio da Cultura Artística, chega virtualmente à sua última etapa, na próxima segunda-feira, dia 22, para a realização do 12º Encontro de Pesquisadores em Poética Musical dos séculos XVI, XVII e XVIII da Universidade de São Paulo (USP). A diretora artística do evento, professora Mônica Lucas, ressalta o sucesso das fases anteriores, que contaram com a 7ª Semana de Performance Histórica do Conservatório de Tatuí e o 32º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), lembrando que a proposta de agora é reforçar essa área de estudos e pesquisas científicas, atraindo e ampliando o universo de interessados em explorá-lo. 

Mônica explica que o Encontro da USP vem para estimular os estudos sobre a poética musical entre os séculos XVI e XVIII, desenvolvendo e instigando a investigação e as oportunidades de troca e propagação desse conhecimento. A programação foi pensada com o propósito de provocar uma reflexão sobre as relações entre as formas simbólicas de representação, transpondo o “ut pictura poesis”, que significa “assim como a imagem, a poesia”, para “ut pictura musica”, ou seja, “assim como a imagem, a música”, a fim de destacar essas relações e pensá-las como possibilidades de acesso e compreensão das teorias, poéticas e práticas da música antiga. 

A professora ressalta que, nos 500 anos da morte de Josquin des Desprez, a 12ª edição do Encontro de Pesquisadores faz um tributo a esse célebre compositor europeu, aclamado como mestre pioneiro da polifonia vocal na gênese do Renascimento. A homenagem se traduz em debate e temática para alguns dos trabalhos apresentados. Na programação semanal, que tem abertura por conta do professor Leon Kossovitch e sessões on-line veiculadas pelo Canal da Cultura Artística no YouTube, há apresentação de projetos de pesquisas, lançamentos de livros e discussões em torno de temas como “Ut Leonardo Josquin”, “Música para os olhos”, “Representações do ethos feminino” e “Teatro dos Afetos Humanos”. 

Silvana Scarinci (Foto: Henry Milleo)

Do passado ao futuro

Para compreender a importância do Encontro de Pesquisadores, é preciso observar que a poética musical ocidental dos anos 1501 a 1800 tem por base a coordenação entre processos de produção e recepção da música, cuja finalidade se encontra no efeito que provoca no ouvinte. “Esse princípio, de natureza retórica, servia ao propósito de afirmar e consolidar as instituições e lugares de poder político e religioso, especialmente estados e igrejas, a cujos interesses essa produção musical atendia, mobilizando as comunidades de civis e fiéis”. 

Segundo a diretora artística, que preparou o texto de apresentação sobre o Encontro, disponível no endereço rectoricamusical.com, “esse contexto, a música e as demais formas de representação simbólica do poder eram sistematicamente regradas, retoricamente projetadas e executadas e racionalmente percebidas. Hoje, essa produção musical constitui um campo específico de estudos e pesquisas científicas para o qual cada vez mais pesquisadores dirigem seus esforços”.

Círculo virtuoso

Responsável pelo Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, o professor Marcus Medeiros avalia que o tradicional Encontro de Pesquisadores em Poética Musical dos séculos XVI, XVII e XVIII vem fechar com chave de ouro o Encontro Tríplice de Música Antiga, uma vez que conseguiu entrelaçar a formação musical, com as oficinas de instrumentos; a formação de público, com os recitais e os documentários, e, agora, a pesquisa com os debates, sendo que tudo isso está conectado, interligado em uma espécie de círculo virtuoso. 

Lembrando que muitos instrumentos foram reconstruídos a partir de imagens, a exemplo do que ocorreu com o grupo “Há Tempos”, participante de uma das edições do Festival, Medeiros diz que a performance historicamente informada é alimentada pelas pesquisas. “Todas as descobertas e os estudos nesse sentido comunicam sobre a prática instrumental. Isso é muito importante, porque não temos registros fonográficos das obras musicais daquela época e tudo vai da investigação de imagens, tema do nosso evento, do estudo dos tratados e de quaisquer narrativas que descrevam alguma música ouvida, alguma performance, algum instrumento.”

Confira a programação do 12º Encontro de Pesquisadores em Poética Musical dos séculos XVI, XVII e XVIII no canal da Cultura Artística no YouTube