Faltando poucos dias para o primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que acontece em 21 de novembro, estudantes de todo o país preparam-se para as avaliações. Neste dia, os inscritos respondem a 90 questões objetivas, sendo que 45 delas são relacionadas ao conhecimento sobre Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, e as demais sobre a aplicabilidade das Ciências Humanas e suas Tecnologias.
Além disso, também será cobrado dos candidatos uma redação com uma proposta dissertativa-argumentativa. Confira aqui o especial sobre a Redação do Enem.
Para um bom desempenho nas provas, o candidato precisa lembrar que a base do Enem está descrita na Matriz de Referência do exame, elaborada pelo Ministério da Educação (MEC). Assim, na prova de Linguagens, para além dos conteúdos esperados de Língua Portuguesa, Literatura e Língua Estrangeira (Inglês ou Espanhol), são também contemplados assuntos como Artes, Educação Física e Tecnologias da Informação e da Comunicação.
Da mesma forma, a prova de Ciências Humanas e suas Tecnologias também é bastante abrangente. É exigido que o candidato compreenda, por exemplo, os elementos culturais que constituem as identidades; as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de poder; e a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais.
A partir dessa proposta, professores do Colégio de Aplicação João XXIII e do Cursinho Popular da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o Garra, refletem sobre possíveis temas que poderão ser abordados no primeiro dia do Enem.
Compreenda o contexto
Para a professora de Língua Portuguesa do Cursinho Popular Garra, Julia Couto Sejanes da Rocha, considerando as edições anteriores do exame, os estudantes deverão se preparar para um grande número de textos de múltiplos gêneros textuais, mesclando as linguagens verbal e não verbal. O objetivo é abordar temáticas atuais e avaliar a capacidade de interpretação do candidato.
“É fundamental que a leitura das questões seja feita de forma atenta, para que o aluno possa extrair o máximo de características possíveis do texto, de forma a compreender qual é o objetivo comunicativo daquela construção linguística e identificar os recursos sintáticos específicos utilizados pelo autor ou autora para transmitir tal mensagem”, explica a professora do cursinho popular da UFJF.
Uma dica simples é sempre ler as referências bibliográficas do texto, ou seja, verificar de onde ele foi retirado. Dessa forma, é possível compreender melhor seu contexto de produção e a mensagem que ele procura transmitir.
Julia ainda reitera que alguns conteúdos são recorrentes nas provas do Enem, tais como as figuras de linguagem e as variações linguísticas. Além disso, verifica-se que os textos apresentados frequentemente discorrem acerca de temas sociais, promovendo a reflexão e o raciocínio crítico dos candidatos. “Uma dica simples é sempre ler as referências bibliográficas do texto, ou seja, verificar de onde ele foi retirado. Dessa forma, é possível compreender melhor seu contexto de produção e a mensagem que ele procura transmitir.”
Interdisciplinaridade de conteúdos
Segundo o professor de Geografia do Colégio de Aplicação João XXIII, Leandro Faber Lopes, o Enem demanda dos estudantes um olhar interdisciplinar. “É comum que as questões de Geografia Humana tenham relações com a História ou a Sociologia, por exemplo. Também é possível verificar que as questões de Geografia Física, por vezes, se relacionam aos conhecimentos de Química ou Biologia, especialmente aquelas sobre as questões ambientais. Numa questão sobre chuva ácida, por exemplo, fazem-se relações entre Geografia, Química e Biologia.”
No que tange a Geografia como um todo, Lopes explica que esse caráter interdisciplinar do Enem exige dos candidatos mais do que decorar nomes e termos. “[É preciso] saber relacionar disciplinas e conteúdos de outras áreas do conhecimento; ter atenção aos elementos que compõem o espaço geográfico, as paisagens e os lugares, às peculiaridades das grandes cidades no Brasil e no Mundo, às questões envolvendo as dinâmicas sociais no campo, os povos indígenas e os movimentos sociais na atualidade”, aponta Lopes.
Ainda é importante que o candidato leia jornais e revistas de grande circulação, com diferentes pontos de vista. Segundo o professor, questões da geopolítica mundial, como os focos de tensão, as disputas territoriais e as guerras; a ecodiplomacia e as questões ambientais; a economia global e seus desdobramentos nos países centrais e periféricos; e a problemática migratória nos dias atuais são fundamentais. Também é importante na Geografia compreender os elementos da cartografia. E, como exercício, o estudante pode elaborar sínteses, textos e mapas mentais sobre os esses conteúdos e outros que julgar importantes, anotando as referências e os principais autores.
É necessário que o estudante saiba relacionar fatos que ocorrem em diferentes escalas geográficas, conectando-se não apenas às últimas notícias, já que a prova é elaborada com meses de antecedência,
“Para fazer uma boa prova de Geografia, creio que é necessário que o estudante saiba relacionar fatos que ocorrem em diferentes escalas geográficas, conectando-se não apenas às últimas notícias, já que a prova é elaborada com meses de antecedência, mas àquelas que foram manchetes nos anos anteriores, como o movimento ‘Black Lives Matter’ nos EUA no ano passado ou a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014”, explica o professor de Geografia.
Processos históricos são mais importantes que datas
“O Enem não trabalha com uma prova conteudista, já que busca privilegiar a avaliação de uma série de habilidades e competências. Dessa forma, apesar do conteúdo ter importância na História, é essencial que o aluno consiga relacionar e comparar diferentes temporalidades, com especial atenção a temas relevantes e atuais, como a atuação dos movimentos sociais”, ressalta o professor de História Geral do Garra, Brendo Filipe Costa Diniz.
Para o professor, é muito importante que os alunos leiam bastante e resolvam muitas questões no modelo das cobradas pelo Enem, já que assim conseguem se acostumar com o formato dos exercícios e aprimorar suas estratégias de resolução.
Na área de História não é produtivo ficar decorando datas e nomes de forma isolada. É mais importante que o aluno saiba analisar criticamente os processos históricos e consiga compreender as continuidades e rupturas no tempo
“Na área de História não é produtivo ficar decorando datas e nomes de forma isolada. É mais importante que o aluno saiba analisar criticamente os processos históricos e consiga compreender as continuidades e rupturas no tempo presente, já que isso interfere profundamente na forma como a gente enxerga o passado e em quais temas serão privilegiados”, destaca o professor do Cursinho Popular da UFJF.
É preciso ler atentamente os textos e enunciados das questões, grifando os dados mais importantes, “já que o Enem gosta de ‘pegadinhas’ nas alternativas, colocando informações corretas do ponto de vista histórico, mas que não respondem adequadamente à pergunta proposta”, alerta Diniz.
Imprevisibilidade nas ciências sociais
Para o professor de Ciências Sociais do Colégio de Aplicação João XXIII, Júlio César de Paula e Silva, as questões relacionadas às Ciências Sociais e à Filosofia são as mais imprevisíveis. Isso porque, a situação econômica e a pandemia apresentam um cenário de análise possível, no entanto, o contexto político pode apontar para outro caminho. Por isso, talvez o mais certo é esperar temas ligados ao cotidiano.
Poderia ser discutida a violência doméstica, fenômeno que se intensificou durante a pandemia, pois as mulheres e crianças passaram a estar trancafiadas com os próprios agressores
“Se estivéssemos em um contexto de normalidade, esperaríamos questões sobre as transformações no mundo, sobre conflitos entre grupos sociais e até mesmo sobre os atos do governo. Tudo isso abrindo possibilidades para se relacionar, de alguma forma, com os efeitos da pandemia.” Entre os temas de análise, as diferenças entre o senso comum e a ciência como, por exemplo, o lugar que a ciência ocupa no imaginário das pessoas, noticiários, debates, sobre a saúde pública e a vida. “Também poderia ser discutida a violência doméstica, fenômeno que se intensificou durante a pandemia, pois as mulheres e crianças passaram a estar trancafiadas com os próprios agressores.”
No campo econômico, o fato de o Brasil ter retornado ao mapa da fome, a alta da inflação, o preço da cesta básica e dos produtos de subsistência podem levar a uma análise sobre o aumento da desigualdade social no país. “Ainda poderia questionar sobre o genocídio dos povos indígenas, considerando que o assunto foi uma preocupação constante das pessoas comprometidas durante a pandemia, no entanto sem ações efetivas do Estado”, afirma Silva. Esses, no entanto, são temas sensíveis para o atual Governo.
Assim como os colegas professores, Silva aponta que é imprescindível uma leitura atenta, visto que as provas de Sociologia e Filosofia devem vir acompanhadas de textos e enunciados completos – o que não significa que a resposta esteja literalmente ali. “Muito importante buscar entender o que está dito e o que não está explícito nesses textos, e está manifestado nas entrelinhas”, finaliza Silva.
Não seja o atrasado do Enem
Chegue ao local de prova com antecedência, considerando que os portões serão abertos às 12h e fecham às 13h, no horário de Brasília. No dia 21 de novembro, a duração da prova é de 5h e 30 minutos, ou seja, será realizada das 13h30 às 19h.
Os candidatos deverão permanecer, no mínimo, 2h nas salas de aplicação de exames e só poderão sair após as 15h30. Entretanto, para que seja possível levar o caderno de provas para casa é necessário que fique no local até as 18h30.
Confira as provas, gabaritos e propostas de redação das últimas edições do Enem.
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