No dia da prova, além das dicas de estudo, manter a tranquilidade também é importante para um bom resultado (Foto: Alexandre Dornelas)

A prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é uma das que mais preocupam os candidatos. Isso porque, além da surpresa do tema, a prova vale até 1000 pontos e representa uma parte significativa da nota total. O texto deve ser redigido em até 30 linhas por meio de uma proposta de dissertação argumentativa. Os exames acontecem nos domingos, 21 e 28 de novembro, sendo que a redação é cobrada no primeiro dia.

Candidatos, escolas e cursinhos até tentam adivinhar os temas, algo nem sempre tão indicado para os estudos – o principal é se ater às competências exigidas na construção argumentativa do texto e reunir um bom repertório de conhecimento. Nos últimos dez anos, o Enem apresentou questões como o trabalho na construção da dignidade humana, a persistência da violência contra a mulher, caminhos para combater o racismo e as intolerâncias religiosas no Brasil e o estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira. Veja mais abaixo todos os temas da redação de 2010 a 2020.

Segundo a professora de Língua Portuguesa e Literatura do Colégio de Aplicação João XXIII, Laura Assis, não existe uma fórmula única para o bom desempenho, assim como adivinhar um tema não é garantia de boas notas. “Para elaborar a redação, o aluno precisa conhecer bem o gênero dissertativo-argumentativo, compreender como esses textos funcionam, entender a estrutura geral que precisa ser seguida e ter um repertório diversificado de recursos mais específicos que podem ser utilizados.” 

Repertórios socioculturais

A preparação para a prova de redação deve ser feita com antecedência e com cuidado. Para a professora de Redação do Cursinho Popular Garra, Vivian Oliveira, uma dica muito eficiente é reunir vários repertórios socioculturais em uma folha ou caderno. “Para isso, o estudante deve se lembrar, por exemplo, dos filmes que ele já assistiu e que poderiam ser encaixados nos mais diversos eixos temáticos: meio ambiente e sustentabilidade; educação;  sociedade e hábitos; saúde; segurança; economia e desenvolvimento; cultura e minorias sociais e étnicas. Com o objetivo de facilitar a memorização, é interessante separar alguns repertórios para cada um desses eixos.”

Além dos filmes, Vivian acredita que o estudante pode se lembrar de livros ou músicas que abordam contextos vinculados a algum desses eixos, pois estar atento às atualidades também auxilia na aquisição de bagagem sociocultural. “As redes sociais estão cheias de atualidades, então saber utilizá-las nesse período de véspera da prova até transforma em produtivo aquele tempo que perdemos rolando o feed. Isso pode ser feito com a visualização diária das páginas e dos perfis de jornais, de revistas e de órgãos do governo.”

Escrever é um exercício constante, dá trabalho. Não é só inspiração – Raquel Pinheiro

Manter-se informado sobre os acontecimentos no mundo, nas diversas áreas de conhecimento, e escrever constantemente. Essa também é a dica da coordenadora do Ensino Médio e professora de Língua Portuguesa do Colégio de Aplicação João XXIII, Raquel Pinheiro. “Parece clichê, mas não há formas diferentes de redigir bem um texto, a não ser pela prática e revisão textuais contínuas. Escrever é um exercício constante, dá trabalho. Não é só inspiração, é preciso organizar conhecimentos, ter em mente ideias que possam ser elencadas em seus textos, isso exige prática, organização e o uso adequado das estratégias linguístico-discursivas”, destaca Raquel.

Grife palavras-chave

Escrever, segundo as professoras, não é só inspiração, é prática e requer exercício constante

Já com as provas em mãos, o primeiro cuidado é ler com muita atenção cada palavra exposta no tema e grifá-las após a leitura. A técnica auxilia o cérebro a dar ênfase para aquilo que está sendo exigido na prova. “Isso é imprescindível a fim de que, ao longo da produção do texto, o candidato não pratique o temido tangenciamento ao tema e sempre mencione os termos presentes nele”, orienta a professora do Garra, Vivian Oliveira. Para o Inep, é entendido como tangenciamento a abordagem apenas parcial do assunto, deixando de fora a discussão em torno do eixo temático objetivamente proposto. Isso acarreta em perda significativa de pontos. 

Para evitar o tangenciamento, ou pior, a fuga do tema, é importante traçar um “projeto de texto”. “Tal projeto consiste em um resumo feito de forma simples e objetiva dos elementos que o aluno deseja colocar em sua redação. Desse modo, antes de efetivamente começar a escrever, o estudante já terá selecionado tópicos e organizado, em um rascunho no cantinho da prova, as ideias que darão forma à introdução, à argumentação e à conclusão”, reforça a professora do Garra. 

É preciso saber se posicionar

A construção da redação do Enem deve seguir o perfil dissertativo-argumentativo, o que significa que o candidato deve apresentar objetivamente conhecimento sobre o tema, saber discorrer sobre ele de forma consistente, mas também saber encaminhar posicionamentos frente ao tema.

“Em primeiro lugar, o aluno precisa compreender como os textos desse gênero se estruturam e é fundamental o entendimento de que é necessário defender um posicionamento e argumentar de modo a embasar esse pensamento, sempre com a atenção voltada para a linguagem, que deve ser formal e impessoal”, reforça a professora de Língua Portuguesa e Literatura do Colégio de Aplicação João XXIII, Laura Assis.

“Saber dissertar e argumentar é saber escrever sobre algo com propriedade, clareza e fundamentação. Não há como eu escrever sobre educação remota, por exemplo, se não tenho nenhum conhecimento sobre isso. Ao dissertar sobre esse tema hipotético, preciso expor o que é educação remota, como ocorre, quem está envolvido, por exemplo”, completa a colega de profissão, Raquel Pinheiro.

Argumentar é defender uma opinião, e não deve ser equiparado a um ‘achismo’ aleatório – Raquel Pinheiro

Raquel ainda considera que isso exige do candidato uma capacidade de apontar pontos de vista diferentes e definir uma tese embasada em argumentos. “Argumentar é defender uma opinião, e não deve ser equiparado a um ‘achismo’ aleatório. A partir da argumentação, a redação do Enem exige ainda que o candidato estabeleça uma proposta de intervenção, que indique estratégias, ‘soluções’ e encaminhamentos possíveis em relação ao tema em destaque.”

Revisão da norma culta

“Existe toda uma preparação prévia que irá auxiliar na elaboração da redação, mas pensando no momento da prova, algo que pode ajudar é uma boa revisão após a finalização da primeira versão do texto. Se realizada com empenho e atenção, poderá identificar, por exemplo, desvios de acentuação, pontuação e ortografia, entre outros problemas comuns, que muitas vezes não acontecem por falta de conhecimento, e sim devido ao nervosismo e à desatenção”, recomenda a professora Laura Assis.

Pensando nisso, outra dica importante, é ler redações antigas, observando os erros já cometidos. “Essa ação faz com que o aluno não repita os mesmos deslizes no Enem, principalmente no que tange à norma culta da língua. Estar em contato com as produções anteriores também auxilia o estudante a relembrar o padrão de escrita que ele desenvolveu ao longo do ano dentro da tipologia do texto dissertativo-argumentativo”, explica a professora do cursinho Garra, Vivian Oliveira.

Controlando a ansiedade

A fim de controlar a ansiedade, é essencial que o candidato descanse no dia que antecede a avaliação, tenha uma boa noite de sono e se alimente bem. Vivian destaca que diminuir o ritmo de estudos na semana pré-prova e dedicar totalmente o dia anterior ao autocuidado são ações que ajudam o vestibulando a chegar menos ansioso no local de prova e a manter a dinâmica de escrita da redação com mais tranquilidade. “Mas, se, mesmo dessa forma, a ansiedade bater, é importante fazer pausas e respirar fundo. Nesses momentos, ir ao banheiro, alongar os membros e beber água são atitudes que contribuem para o relaxamento do corpo.”

Se a ansiedade bater, é importante fazer pausas e respirar fundo (…),  ir ao banheiro, alongar os membros e beber água – Vivian Oliveira

Se à primeira vista o tema da prova causar muita surpresa ou uma reação negativa, o famoso “branco”, a professora do cursinho orienta o candidato a manter o pensamento positivo, confiando no próprio potencial. Para ela, o pensar positivo afasta o estresse e os bloqueios, e acabam ajudando no processo produtivo. “Mantenha o otimismo, mentalizando um bom resultado.”

Atenção com as regras

Na prova de Redação do Enem são cobradas cinco competências: Domínio da norma padrão da língua portuguesa; Compreensão da proposta de redação; Seleção e organização das informações; Demonstração de conhecimento da língua necessária para argumentação do texto; e Elaboração de uma proposta de solução para os problemas abordados, respeitando os direitos humanos. 

“Ler a cartilha do participante, disponível no site do Inep, é muito importante! Lá tem várias informações valiosas. É como um mapa que traça o caminho que você deve seguir para construir sua redação. O que está lá não deve ser negligenciado”, orienta a professora do João XXIII, Raquel Pinheiro.

Para não zerar, o estudante não pode escrever menos que sete linhas; fugir ao tema ou à tipologia textual, a qual consiste em um texto dissertativo-argumentativo; apresentar cópia integral de textos da Prova de Redação e/ou do Caderno de Questões; inserir impropérios, desenhos, números ou sinais gráficos em qualquer parte da folha; marcar a prova com assinatura, nome, apelido, codinome ou rubrica fora do local devidamente designado para a assinatura do participante e escrever a redação em língua estrangeira ou de forma ilegível, impossibilitando sua leitura por dois avaliadores independentes.

Conheça os temas de redação das provas do Enem nos últimos 10 anos

– 2010: O trabalho na construção da dignidade humana

– 2011: Viver em rede no século 21: os limites entre o público e o privado

– 2012: Movimento imigratório para o Brasil no século 21

– 2013: Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil

– 2014: Publicidade infantil em questão no Brasil

– 2015: A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira

– 2016 – 1ª aplicação: Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil

– 2016 – 2ª aplicação: Caminhos para combater o racismo no Brasil

– 2017: Desafio para a formação educacional de surdos no Brasil

– 2018: Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet

– 2019: Democratização do acesso ao cinema no Brasil

– 2020 impresso: O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira

– 2020 digital: O desafio de reduzir as desigualdades entre as regiões do Brasil

Confira as provas, gabaritos e propostas de redação das últimas edições do Enem.

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