No dia 5 de setembro comemora-se o Dia da Amazônia, a maior reserva natural do planeta e um dos patrimônios naturais mais importantes para nossa manutenção como espécie. Sua área aproximada de 6,74 milhões de km² estende-se por oito países do continente, sendo 60,1% dessa área pertencente ao território brasileiro. O bioma é o habitat natural de uma vasta e diversa fauna e flora, um verdadeiro berço de descobertas científicas e uma fonte de matérias-primas com incontáveis fins, como alimentos, minérios e medicinais. Outra característica singular da região são seus recursos hídricos: a bacia hidrográfica amazônica é a maior do planeta e possui importância única na provisão da maior floresta tropical da Terra.
O momento, entretanto, não enseja celebrações. O país atravessa a maior crise hídrica em 91 anos – causada, de acordo com especialistas, tanto pela seca quanto pela má gestão dos reservatórios de água que alimentam as usinas hidrelétricas. Esse cenário ainda está aliado ao aumento constante das áreas de desmatamento na floresta amazônica, responsável por dizimar milhares de seres vivos e que, segundo estudo publicado pela Global Change Biology, pode gerar uma redução de até 70% na precipitação anual.
Comprometimento do ciclo hidrológico amazônico é risco para todos
O professor do departamento de Biologia da UFJF e especialista em ecologia aquática, Nathan Barros, explica que as perturbações sofridas pelo bioma amazônico geram uma forte pressão sobre as espécies aquáticas e não aquáticas, podendo até mesmo acarretar em sua extinção. “Essas práticas, somadas ao avanço da agropecuária, fazem com que exista uma área mais restrita que sirva de hábitat para os animais. Uma mudança completa no uso do solo inviabiliza a existência da maioria das espécies, que estão acostumadas e adaptadas àquele bioma”. Barros, que possui diversos estudos e trabalhos científicos acerca dos reservatórios das hidrelétricas, elenca os seguintes fatores como alguns dos principais responsáveis pela alteração no ciclo da água na região amazônica: a construção indevida de usinas geradoras de energia, a agricultura e a agropecuária intensivas, as mudanças climáticas, a mineração e o próprio desmatamento.
“Uma mudança completa no uso do solo inviabiliza a existência da maioria das espécies” (Nathan Barros)
A importância de preservar o bioma passa pela regulação climática de todo o país. “A Amazônia está associada ao regime de chuva na América do Sul. A água que evapora da floresta é a água que é carregada e que faz chover aqui no Sudeste e no Centro-Oeste do Brasil”, esclarece ainda o professor. Essa ideia é reforçada pelo professor associado no Departamento de Engenharia Ambiental e Sanitária e pesquisador Celso Bandeira, que também é autor de diversas produções científicas a respeito da região. “Isso pode ser explicado pelo fenômeno dos ‘rios aéreos’, que são grandes correntes de umidade atmosférica originadas na floresta amazônica. Assim, a seca atual que o país está atravessando pode estar associada ao desmatamento na Amazônia, pois as árvores são consideradas grandes sistemas naturais de bombeamento de água para a atmosfera pelo processo de evapotranspiração”, ressalta Bandeira.
Esforços de pesquisadores e institutos científicos
O cenário reforça a importância da ciência na luta pela preservação da natureza. A Amazônia é o objeto de estudo de pesquisadores de todo o mundo, como Barros e Bandeira, que se debruçam sobre esse patrimônio natural e buscam reverter o quadro de prejuízos ambientais. “Nesse sentido, as pesquisas científicas desenvolvidas por diversas instituições nacionais e internacionais vêm contribuindo com o entendimento da dinâmica desse ambiente”, segundo Bandeira.
“O desmatamento e suas projeções futuras impactam, além do nosso país, o mundo inteiro” (Celso Bandeira)
“Há um grande esforço de monitoramento do desmatamento realizado por instituições de pesquisa nacionais, como, por exemplo, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que analisa as taxas anuais de desmatamento e disponibiliza os resultados para toda a sociedade. Outra instituição que desenvolve diversas pesquisas na região é o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Vale a pena destacar, também, o Sistema de Vigilância da Amazônia (SINPA), que compreende a cooperação de diversas instituições para o monitoramento da Amazônia.”
Bandeira reforça que as universidades cumprem um papel importante no desenvolvimento de pesquisas sobre o impacto do desmatamento e suas projeções futuras em cenários como o hídrico, o energético e o de biodiversidade, analisando tanto os impactos nacionais quanto os internacionais. “Esse quadro de desmatamento que ocorre na Amazônia precisa ser monitorado, além de haver uma maior efetividade no controle e fiscalização por parte dos órgãos ambientais competentes.”