Já são quase dois séculos de existência. Uma trajetória construída graças ao trabalho de vários homens e mulheres preocupados em difundir e sistematizar suas pesquisas em teoria social. É justamente esta história que um curso de extensão do campus da Universidade Federal de Juiz de Fora em Governador Valadares (UFJF-GV) quer ajudar a contar.
As inscrições para o módulo 1 de “200 anos de sociologia: clássicas e clássicos do século XIX e a formação em ciências sociais” já estão abertas e vão até 3 de setembro próximo, data do início das atividades. O curso é on-line, gratuito e aberto a todos os interessados em conhecer mais sobre o tema.
Iniciativa das professoras Fernanda Alcântara, da UFJF-GV, e Giulle Vieira da Mata, da federal de Ouro Preto (Ufop), o curso vai reunir estudiosos da teoria sociológica clássica e da história da sociologia de todo o Brasil e até da Argentina para discutir a produção, as fontes, o processo de criação e a institucionalização da ciência e da disciplina. Os participantes terão contato com a biografia, as principais obras e conceitos de cada autor e suas contribuições para a fundação da sociologia.
O primeiro módulo, que começa no início de setembro e vai até 15 de outubro, vai tratar da fundação da sociologia (1830-1840) e suas principais personagens: Auguste Comte, Harriet Martineau e Alexis de Tocqueville. O curso prevê outros três módulos, ainda sem datas definidas, que irão abordar a institucionalização da sociologia enquanto ciência e disciplina.
As atividades contam com a parceria da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), o órgão mais importante da área no Brasil.
Muito além de Marx, Durkheim e Weber
O curso, na avaliação da coordenadora, contribui para a pluralização da sociologia, ainda muito restrita à tríade Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber. “Repensar, rediscutir e reescrever a sua história, principalmente o apagamento de diversos teóricos e teóricas clássicas que hoje não se encontram no cânone estabelecido. Antes desses, muitos outros teóricos contribuíram não só para a fundação da sociologia, como também para a sua institucionalização como ciência e como disciplina”, explica Alcântara.
Apesar de reconhecer como “imprescindíveis e fundamentais” os trabalhos desse três autores [inclusive, eles são abordados no curso], Alcântara faz questão de enfatizar: “A sociologia é muito mais do que Durkheim, Marx e Weber. Tem contribuições muito mais ricas”. Nesse contexto de “apagamento”, ela cita as mulheres – como Harriet Martineau, considerada a primeira socióloga e cuja obra a professora está traduzindo –, os negros e demais “teóricos periféricos” que fizeram parte da fundação da sociologia, publicaram muitos de qualidade, mas que ainda assim transitam pouco pelas bibliografias e currículos das ciências sociais.
Essa percepção é a mesma da vice-coordenadora do curso. “Ressentimos as ausências e identificamos uma igual demanda por oportunidades para ouvir sobre autores ‘novos’ e de complexificar a percepção ‘automatizada’ dos ‘clássicos’ que acaba sendo reproduzida a partir de formas mais horizontais de divulgação científica”. Por isso, segundo Giulle da Mata, o principal objetivo da atividade é “investir no acesso a uma ‘história’ mais abrangente e processual da sociologia produzindo, com a ajuda dos parceiros, um material que permita o cotejamento das diversas perspectivas e assim promova os deslocamentos necessários para o avanço de toda ciência.”
Para se inscrever, clique aqui.
Mais informações: fernanda.alcantara@ufjf.edu.br