Com uma programação especial, que envolve exposição virtual com obras de Fayga Ostrower em comemoração ao centenário de seu nascimento, além de postagens e vídeos, como o que traz a pesquisadora Maria Amélia Bulhões, da UFRGS, analisando a complexidade das relações dos espaços culturais com a Internet, o Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) integra a 19ª Semana Nacional de Museus.
O evento acontece on-line, em todo o país – com abertura no próximo dia 17, às 19h, indo até o dia 23 -, sob coordenação do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). Já com uma experiência vitoriosa de participação remota na edição de 2020, o Mamm aceita agora o desafio de pensar novos caminhos, como sugere o tema “O futuro dos museus: recuperar e reimaginar”.
O diretor do Mamm, Ricardo Cristofaro, ressalta que, pelo segundo ano consecutivo, o Mamm, por meio de suas equipes e seus diversos setores, precisou repensar sua atuação na Semana, em função das restrições de presença de público tanto nos espaços expositivos, quanto nos de eventos, como o anfiteatro e as salas utilizadas pelo setor Educativo. “Em 2020, idealizamos ações que pudessem ser oferecidas à comunidade de maneira remota, o que foi uma experiência positiva, mas ainda muito experimental, uma vez que a participação a partir de atividades não presenciais é uma realidade nova para todos os museus brasileiros”, constata.
“Montamos uma programação bastante rica, que dá visibilidade a todas as áreas do Museu, indo do setor de Museologia ao de Conservação e Restauro, chegando ao Educativo e ao Expositivo”
Diretor do Mamm, Ricardo Cristofaro
Em 2021, o Museu se antecipou, já sabendo que permaneceria fechado: “Começamos então a pensar em uma série de ações que pudessem enriquecer a participação da instituição em uma Semana que é muito importante, integradora. Temos dado, gradativamente, grande valor a esse evento, assim como à Primavera dos Museus, e, por isso, montamos uma programação bastante rica, que dá visibilidade a todas as áreas do Museu, indo do setor de Museologia ao de Conservação e Restauro, chegando ao Educativo e ao Expositivo.”
Alternativas de peso
Entre as ações, Cristofaro destaca a exposição virtual de Fayga Ostrower. “Tínhamos um compromisso com o Instituto Fayga Ostrower de realizar uma grande mostra em comemoração aos 100 anos de nascimento da artista, mas, infelizmente, não conseguimos fazer essa exposição em 2020 e achamos que seria melhor adiá-la ou pensar em uma alternativa. Agora, concretizamos essa possibilidade, uma vez que vários museus também pensaram em alternativas, e a nossa foi a criação de uma Galeria Virtual, construída como um simulacro da Galeria do andar térreo do Mamm, um projeto muito interessante, desenvolvido para estar disponível durante e após a Semana.”
O cronograma traz, ainda ,vídeos, palestras e uma série de postagens relacionadas a setores como o de Conservação e Restauro, que Cristofaro assinala como uma parte da programação especialmente convidativa para o público, que poderá ter, inclusive, outras perspectivas sobre o Museu, vislumbrando alternativas de como esses espaços poderão existir e atuar no futuro. “Acredito que isso se torna, inclusive, uma realidade daqui para frente, independente de abrirmos as portas”, observa, lembrando se tratar também de uma possibilidade que se abre para que o Museu possa alcançar outros públicos a partir de eventos on-line.
Reflexões oportunas
Proposta pelo setor de Preservação, a ação “Entre o passado e o presente: o futuro dos museus” é apontada pelo pesquisador e restaurador Aloísio de Castro como propícia para estabelecer reflexões com o referencial teórico-metodológico da disciplina Conservação-Restauração de Bens Culturais. “Assim, nesta ação, evidenciamos como os aportes conceituais dos pesquisadores Phillipot, Matero e Martinez Justicia subsidiam, orientam e estão presentes nas atividades técnico-científicas cotidianas do nosso setor”, explica.
Em diálogo com o horizonte interpretativo apresentado pelos teóricos, Castro ressalta ainda que a Conservação-Restauração não é somente uma disciplina voltada para o passado: “Ela, fundamentalmente, revela-se como um ato crítico preocupado com a construção do tempo futuro, com o museu do amanhã.”
“Nesta ação, evidenciamos como os aportes conceituais dos pesquisadores Phillipot, Matero e Martinez Justicia subsidiam, orientam e estão presentes nas atividades técnico-científicas cotidianas do nosso setor”
Pesquisador e restaurador Aloísio de Castro
Teia promissora
O Mamm apresenta também um vídeo com a professora Maria Amélia Bulhões, no qual serão respondidas questões levantadas anteriormente por internautas dentro da proposta de reflexão sobre o tema “Relações complexas: museus de arte e a internet”. Nesta palestra, a docente analisa a arte contemporânea em suas relações sistêmicas, com foco nas articulações desta produção criativa nos meios virtuais.
A agente de cultura e lazer Carmem Mattos ressalta que a relevância de o Museu integrar a Semana está justamente na conexão que se estabelece neste momento em que as instituições museais do país estão unidas em uma só proposição, divulgando a cultura, o conhecimento e tudo o que é produzido nesses espaços. “Fazer parte dessa rede é de suma importância. Nosso setor, junto com os demais, pensou e organizou o trabalho que vamos apresentar de acordo com o tema da Semana, com as pesquisas efetuadas e com a missão do Museu.”
Quantos museus cabem no Mamm?
Mais uma vez valendo-se de recursos virtuais, o setor Educativo vem trabalhando o Museu como um organismo vivo, em movimento, pulsando a partir de seu conteúdo e das ações promovidas pela equipe, cujos profissionais cuidam, organizam, planejam, questionam e despertam o interesse do público. Para isso, todo o grupo respondeu a questões pré-estabelecidas, visando divulgar, refletir e conversar sobre esse material. O resultado estará on-line nas plataformas do Museu, utilizando linguagens diversas, como desenho, colagem, foto ou texto.
Outra ação programada, o “Caderno de tudo que vem lá de dentro” se origina de um experimento de mediação realizado pela artista Marize Moreno junto a funcionários do Mamm. Tendo cartas como ponto de partida, foram desenvolvidas de forma criativa uma série de performances, histórias, notícias, desenhos, além de outras proposições que resultaram na expressão de vivências que aconteceram pela primeira vez no espaço do museu.
Justa homenagem
Pioneira da gravura abstrata no Brasil, Fayga Ostrower tem seu universo representado por um trabalho voltado para a xilogravura e a gravura em metal, com importantes incursões referentes à criação e à pesquisa de tecidos e estampas. A artista, que completaria 100 anos em 2020, teve atuação em áreas plurais, destacando-se também como pesquisadora, docente, teórica das artes visuais e escritora.
Esta individual reúne gravuras, aquarelas e desenhos que integram um lote de 75 obras doadas ao Mamm pelo Instituto Fayga Ostrower, no ano passado, por meio dos herdeiros Anna Leonor e Karl Ostrower. A exposição traz também trabalhos oriundos da coleção do próprio Murilo Mendes, além de outras doações que foram incorporadas ao acervo do Museu ao longo do tempo.
Segundo o analista cultural Paulo Alvarez, “o novo conjunto de obras de Fayga reforça a atual política de aquisição do Mamm e propicia renovados estudos e apresentações do universo da artista”, destaca, observando que a mostra será apresentada na Galeria Virtual que tem como desenvolvedor o planejador de mídia de criação visual Rodrigo Duque.
Ampliando horizontes
O setor de Biblioteca e Informação participa da Semana com a mostra virtual ‘Múltiplo universo”, que aborda relevantes recortes da coleção de livros de Murilo Mendes. Assim, é dado o passo inicial para rever o futuro das atividades desta área, convidando o público a conferir on-line alguns dos principais títulos, muitos deles raros e especiais. O conjunto traz documentos do arquivo pessoal e do acervo bibliográfico do poeta, que contém mais de três mil livros relativos à literatura, às artes, à religião, à filosofia, dentre outras áreas do conhecimento.
A biblioteca particular do escritor traz exemplares com capas extraordinárias, encadernações singulares, com destaque para um expressivo número de marginálias, anotações cunhadas pelo próprio Murilo Mendes nas páginas, comentários pessoais que se transformaram em rica fonte representativa de seu pensamento crítico, amplamente utilizada em pesquisas sobre o poeta e suas relações com a literatura e os autores.