O reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Marcus Vinicius David, participou na manhã desta terça-feira, 18, do debate promovido pela Rádio CBN de Juiz de Fora. No programa, juntamente com o reitor da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Demetrius David da Silva, e o reitor da Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ), Marcelo Pereira de Andrade, foram discutidas medidas de enfrentamento a Covid-19 e as perspectivas para a retomada do ensino.
Durante a conversa, os gestores apresentaram preocupação com o orçamento para o ano de 2021 e destacaram a importância dos aportes maiores de recursos para manter a qualidade das instituições públicas de ensino. Marcus David explicou o quanto o corte de 18,2% proposto pelo Ministério da Educação (MEC) poderá comprometer a qualidade das universidades públicas. “O conjunto de reitores e reitoras das universidades do Brasil sabe da dificuldade econômica que o país enfrenta. Nós apresentamos um problema recorrente, um longo período sem nenhuma correção orçamentária, aliado a cortes nominais. Toda essa situação cria dificuldades para a nossa operação e para a garantia da qualidade de ensino. As universidades públicas se caracterizam por muita qualidade, nossas graduações e pós-graduações são sempre muito bem avaliadas, sendo responsáveis por 90% da pesquisa nacional. Toda essa qualidade exige investimento e comprometimento da sociedade em aportar recursos nas nossas instituições. Quando defendemos aportes maiores de recursos é porque temos a dimensão de que as Universidades são essenciais para que o Brasil continue se desenvolvendo no ponto de vista social, cultural e econômico.”
Para o reitor da UFV, Demetrius da Silva, é importante salientar a expansão das universidades ano após ano. “São cursos novos, campus que demandam investimentos. Estamos na contramão do mundo. Em época de crise, é o momento de investir mais em ciência, tecnologia e inovação para sair fortalecido pós-crise. Além da redução de recursos, temos um problema sério que são as agências de fomento que ajudam muito as universidades. O que estamos vendo hoje é a redução de associações como a Fapemig, CNPq, Capes e Finep, o que demonstra um verdadeiro colapso no sistema de ciência, pesquisa e tecnologia do país.”
De acordo com o reitor da UFSJ, Marcelo de Andrade, os cortes orçamentários continuam sendo um dos principais desafios da gestão. “Há uma forte restrição orçamentária que nos acompanha desde 2015. O princípio é manter a gratuidade e a qualidade de ensino. Nosso grande desafio é superar esse momento, discutindo também os cortes orçamentários para o ano que vem.”
Volta às aulas
Durante a entrevista foram abordadas ainda as adaptações para a retomada das aulas. Marcus David explicou a implementação do ensino remoto emergencial. “Todas as universidade federais estão no início ou em processo de entrada do ensino remoto e todas fizeram levantamento ou pesquisa, pois não se pode introduzir uma plataforma e abrir mão de estudantes que não têm condições de ensino adequado. Precisamos pensar tanto no ensino remoto quanto nas medidas para as atividades presenciais, pois enfrentaremos grande mobilidade estudantil. Temos alunos de muitos lugares do país que precisarão retornar às universidades. A prática do restaurante universitário também demanda mudanças, a fim de evitar a aglomeração, toda a infraestrutura deverá ser modificada. Em um momento que nos demandam maiores investimentos para enfrentar a crise, não poderíamos fazer isso com a redução de orçamento.”
Na conversa, os reitores demonstraram preocupação no cenário de 2021, com a entrada de novos estudantes e a incerteza do calendário acadêmico. Além de ressaltar a importância das cotas para a diminuição das desigualdade sociais. “Não imaginamos o tempo que duraria a pandemia. Isso tornou tudo ainda mais complexo. Somos o estado com mais universidades do país. Não existem soluções ideais, existem soluções possíveis. No pós-pandemia os custos serão muito maiores, provavelmente passaremos do sistema remoto para o presencial, mudando totalmente a estrutura. E 2021 será um ano em que haverá três períodos em um ano, serão 12 meses de atividades, um gasto maior para o ano”, destacou Silva.
Ações de inclusão
Andrade ressaltou a preocupação com os alunos dependentes de apoio estudantil e o possível aumento da evasão universitária em 2021. “Estamos acompanhando o orçamento de 2021 com muita preocupação e tentando diminuir o impacto social. É um momento em que muitos alunos precisam de bolsas e apoio, pois suas famílias foram acometidas pelo desemprego e perda de parentes. Um corte de 18,2% é uma verdadeira calamidade. Os programas de assistência estudantil são afetados, podendo haver uma evasão escolar grande e preocupante.”
De acordo com Marcus David existe ainda a necessidade do desenvolvimento de ações de apoio e inclusão digital da UFJF. “Ontem, o governo anunciou um programa que oferece conectividade para grupos de estudantes que apresentem faixa de renda igual ou inferior a meio salário mínimo. Uma ação importante, mas abaixo da nossa realidade. Temos informações de que precisamos de suporte a um grupo maior. As universidades não podem adotar o ensino remoto e abrir mão desses estudantes. Precisamos usar parceiros externos para a implementação das plataformas, pois só o Moodle não dava conta. Também é importante pensar e entender qual será a realidade quando voltarmos com as atividades presenciais,”
No encerramento da entrevista o reitor da UFJF explicou ainda a relevância do trabalho das universidades no período de crise. “As comunidades acadêmica e externa podem ter a convicção de que estamos trabalhando muito. Primeiro priorizando o enfrentamento da pandemia, oferecendo uma série de serviços à comunidade, tentando tornar esse processo menos duro e difícil. E também ao participar desse grande debate do ‘fazer educação’ em uma situação que as práticas presenciais são suspensas e precisamos manter o processo de ensino e aprendizado. Neste momento, as várias instituições de ensino precisam trabalhar em conjunto, primeiro pensando nas modalidades remotas e agora nos desafios da retomada presencial.”