Uma pesquisa de mestrado realizada na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) analisa como a população transexual do município tem acesso à rede de cuidados à saúde. O estudo da acadêmica Camila Rodrigues Paiva foi apresentado no Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva (PPGSC). A dissertação busca conhecer as necessidades no contexto da saúde, os fatores que impossibilitam o acesso dessas pessoas ao SUS, bem como a rede de cuidados vivenciada por elas.
“A questão da saúde das pessoas trans sempre aparecia em minhas conversas com amigos da comunidade LGBTQIA+ e era possível perceber que muitos tinham que ir ao Rio de Janeiro em busca do Processo Transexualizador. Logo, percebi que em Juiz de Fora o cuidado à saúde para as pessoas trans parecia ser de difícil acesso, isso foi o que me motivou a desenvolver a pesquisa”, pontua Camila. Ela destaca que, para realizar a pesquisa, entrou em contato com o grupo Força Trans e acompanhou por algum tempo as reuniões. “Em um momento posterior, convidei algumas pessoas trans para participarem da pesquisa, realizando entrevistas semiestruturadas.”
Os trans responderam questões referentes à identificação, saúde, experiências ao buscarem os serviços de saúde, entre outras. Foram entrevistados, ao todo, quatro mulheres e quatro homens trans. De acordo com a pesquisadora, o estudo apontou que as pessoas trans encontram muitos problemas no acesso aos serviços de saúde. Segundo ela, foram relatadas dificuldades relacionadas ao acompanhamento hormonal, aos profissionais de saúde mental, além de obstáculos no acolhimento nos serviços de saúde. “Foram frequentes os apontamentos acerca do desrespeito ao uso do nome social nesses espaços, o despreparo e o preconceito de profissionais de saúde, o que gera grande constrangimento e contribui para que as pessoas trans evitem buscar esses serviços e, erroneamente, façam o uso de hormônios por conta própria, a partir da indicação de amigos, de outras pessoas trans ou a partir de informações encontradas na internet.”
Além disso, ao analisar os documentos que norteiam a organização dos serviços de saúde em Juiz de Fora, a Camila revela que não encontrou nenhuma diretriz ou objetivo que fizesse referência direta à saúde da população trans. “Diante dos relatos, foi possível compreender que, em Juiz de Fora, as pessoas trans encontram-se ainda submetidas ao descaso, ao preconceito institucional, sem ter suas necessidades de saúde atendidas, encontrando diversas barreiras no acesso aos serviços”, conclui.
Para a professora orientadora, Beatriz Francisco Farah, a divulgação deste trabalho é fundamental, pois “espera-se contribuir com menos discriminação e preconceito com a população de transexuais, levando conhecimento geral, e, para a comunidade científica, é um estímulo para novas pesquisas.” Ela ressalta, ainda, que o estudo aponta a necessidade de abordar as temáticas da transexualidade, sexualidade, gênero e corpo na formação dos futuros profissionais de saúde, para que possam intervir no futuro, “eliminando as desigualdades e preconceitos e compreendendo as necessidades dessa população que tem direito à saúde integral.”
Contatos:
Camila Rodrigues Paiva – Mestranda
camila.camilapaiva@gmail.com
Beatriz Francisco Farah – Orientadora
b-farah@hotmail.com
Banca Examinadora:
Prof. Dra. Beatriz Francisco Farah – (Orientadora – UFJF)
Prof. Dr. Marco José de Oliveira Duarte – (Coorientador – UFJF)
Prof. Dra. Sabrina Pereira Paiva – (UFJF)
Prof. Dra. Rita de Cássia Santos Freitas – (UFF)
Outras informações: (32) 2102-3830 – Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva