Com o amplo questionamento sobre a relevância do audiovisual no Século XXI, a 17ª edição do Encontro Regional de Comunicação (Erecom) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) debate a linguagem híbrida do audiovisual como algo que extrapola as formas midiáticas tradicionais como cinema, televisão e vídeos. Nessa perspectiva, compondo a programação do evento, ocorreu na tarde desta quinta-feira, 21, a mesa temática “Cineclubismo e Sociabilidades”. A atividade foi realizada na Faculdade de Comunicação (Facom).
A mesa foi composta pelas representantes do Cineclube Lumière e cia, Érika Savernini; do Cineclube Movimento, Alessandra Brum; do Cineduca, Maria Leopoldina Pereira (Dina); do Cine Sapatão – Flores Raras, Daniela Auad; e Cine Sapatão – SP, Rita Quadros que debateram questões como representatividade, visibilidade, censura, público e a atuação dos coletivos.
Além das salas de aula
A professora do Instituto de Artes e Design (IAD), Alessandra Brum, apresentou um histórico sobre o surgimento do Cineclube Movimento e destacou que o coletivo foi criado a partir da demanda dos alunos do curso de Cinema e Audiovisual. Além disso, abordou que as atividades do projeto são realizadas de forma coletiva e envolvem alunos de graduação e pós-graduação. “Durante as sessões, sempre trabalhamos um momento de boas vindas e há uma exibição do material. Em seguida, fazemos um debate de forma horizontal para que não seja uma extensão do aprendizado em sala de aula. Em determinados momentos, temos dificuldade de conquistar público, mas o amadurecimento e o crescimento dos nossos bolsistas é visível.”
A representante do Cineduca, Dina Pereira, ressaltou a importância do debate ao ouvir diferentes lugares de fala e apresentou as atividades desenvolvidas pelo projeto. Apontou também a relevância de usar a ferramenta para educar e formar professores e estudantes. “O Cineduca teve momentos fantásticos. Em um dos cursos inauguramos as práticas de assistir apenas filmes brasileiros e filmes brasileiros não comerciais. Percebemos que o Cineduca é um trabalho de formação de professores, onde há um trabalho coletivo envolvendo ensino, pesquisa e extensão.”
Lugar de fala
“Qual é o lugar de fala da mulher na produção fílmica? Se já é um espaço difícil, imagina o espaço da mulher lésbica?”, considerou a integrante do Cine Sapatão SP, Rita Quadros. A palestrante dividiu experiências e abordou a trajetória vivida até a criação do cineclube, ressaltando a importância da ação para que as mulheres falem e sejam ouvidas. “Lembro que, em uma das sessões, uma estudante disse que aquela exibição havia mudado a vida dela. Mesmo quando a sessão é pouco frequentada, por vezes, ela pode mudar a vida de alguém.”
Quando o Cine Sapatão foi criado, alguns requisitos foram colocados para a escolha do que seria exibido. Os filmes deveriam ser lésbicos, sem finais tristes, com representatividade e pluralidade feminina, além de estar fora da área comercial. “O espaço é um momento de reflexão, de fala de mulheres e mulheres lésbicas. Com isso, tem um papel político de poder falar e ser escutada, em que nos solidarizamos umas com as outras. O desafio dos cineclubes é não abrir mão de um espaço de discussão social. A produção audiovisual precisa nos ajudar a dialogar com a sociedade.”
A professora da Faculdade de Educação (Faced), Daniela Auad, apresentou seu histórico de vida, carreira, militância e apontou o surgimento do Cine Sapatão + Roda LesBi. “Comecei o Cine Sapatão em uma Semana da Faced. O espaço não foi criado para produzir conhecimento. Eu queria encontrar pessoas que gostassem de mim, da minha esposa Claudia, e da minha família. As sessões começaram a ficar lotadas e nós o tornamos um projeto de extensão.”
Daniela ressaltou que, eventualmente, mulheres lésbicas não querem falar sobre orientação sexual para não serem resumidas a essa característica. “Por mais que queiram nos silenciar, outras virão depois de nós e continuarão.”
Novos olhares
Fechando a roda de conversas, a professora da Faculdade de Comunicação, Érika Savernini, apresentou o Cineclube Lumière e Cia como um projeto que articula ensino, pesquisa e extensão. “Ele se propõe a estimular a formação de uma cultura cinematográfica e perceber que ali há uma visão de mundo que nos ajuda na construção de cidadania. Além disso, as sessões oferecem a exibição dos filmes na íntegra, extensa análise apresentada por membro da equipe e debate com o público.”
Erika diz o quanto é importante desenvolver no aluno o olhar, para que ele seja capaz de ver e entender os filmes. “É preciso ter um processo pedagógico, pois as pessoas chegam no ensino superior sem experiência audiovisual. Há uma desvalorização sobre a formação. As pessoas acham que aula de cinema é papo de boteco e o que basta são as próprias considerações. É necessário construir esse olhar para que o aluno e a aluna saibam olhar o mundo .A coisa mais bonita do cinema é poder ver o mundo por meio do olhar do outro.”