O leite e seus derivados estão entre os alimentos mais consumidos ao redor do mundo e, no Brasil, formam uma das principais atividades agropecuárias do país. Para garantir a segurança e satisfação de seus consumidores, é necessário estar atento à presença de bactérias e aos níveis de água e cloreto de sódio presentes nestes produtos. Para analisar a qualidade do leite, os produtores rurais precisam enviar amostras do leite para laboratórios, um processo nem sempre prático ou barato. Pensando nisso, os estudantes da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Ítalo Alvarenga, Gabriel Correa (da Engenharia Elétrica) e David Campos (da Engenharia Mecânica) criaram um mecanismo que analisa o leite não apenas de forma simples e barata, como também apresenta os resultados instantaneamente através de um aplicativo de celular.
“Atualmente, cerca de 12% do leite produzido no Brasil é desperdiçado, justamente porque os produtores não conhecem instantaneamente a qualidade do produto que armazenam ou transportam. Diante deste problema, nós criamos uma sonda portátil que mede instantaneamente a qualidade do leite. Acompanhada de um aplicativo, a sonda (Hardware) envia imediatamente os dados coletados para um smartphone. Nós pegamos uma capacidade de análise, até então reservada aos laboratórios, e entregamos na palma da mão do produtor rural”, conta Alvarenga.
A principal tecnologia utilizada neste sistema de análise – que os estudantes batizaram de “Smart Milk IoT” – também é uma inovação desenvolvida na UFJF: os sensores de fibra ótica conhecidos como Long Period Grating (LGP, as Redes de Longo Período) produzidos no Laboratório de Instrumentação e Telemetria da Universidade (Litel). “Esta nova tecnologia permite enviar todos os dados coletados para o aplicativo (já existente e funcional) que organiza, armazena e expõe estas informações para o usuário. A combinação dessas tecnologias de ponta (Software e Hardware) permite ao produtor conhecer a qualidade do leite em todos os pontos da cadeia leiteira e evite aqueles grandes desperdícios.”
Recentemente, o Smart Milk IoT foi premiado em dois eventos voltados para ideias inovadoras nesse campo da indústria: o InovaLácteos (organizado pela Agência de Inovação de Leite e Derivados – Polo do Leite e acompanhando o Minas Láctea, maior evento de laticínios do Brasil) e o Campus Mobile. Este último desenvolvido pelo Instituto NET Claro Embratel, dedicado ao aprimoramento de ideias e soluções para mobile.
Cerca de 483 desenvolvedores (vindos de 25 estados brasileiros) participaram nesta 7ª edição do Campus Mobile, apresentando 217 projetos. Destes, a Banca Avaliadora selecionou 64 para participar da semana presencial, que aconteceu em fevereiro de 2019. Nesta fase, os estudantes foram acompanhados por mentores, participaram de diversas conferências e maratonas de programação – atividades destinadas ao aprimoramento das ideias apresentadas no evento. Ao final desta semana, foram escolhidos 12 projetos finalistas, que receberam uma quantia para auxiliar na última fase da competição: uma série de metas que precisavam ser cumpridas no prazo de um mês.
Contemplados na categoria “Smart Farms” (Fazendas Inteligentes), os alunos receberam um prêmio em dinheiro para investirem em seu projeto e conquistaram uma viagem de imersão ao Vale do Silício, na Califórnia, onde conheceram algumas das maiores empresas da área de tecnologia do mundo. “É justamente neste local que ocorrem as maiores inovações tecnológicas do planeta. Vamos conhecer o ambiente empreendedor de várias startups com alcance internacional e participar de vários encontros com empreendedores e investidores da região. É uma oportunidade de difundir o Smart Mil IoT no Vale do Silício.”
O professor Alexandre Bessa, coordenador do Litel, comentou sobre os impactos dessa premiação para a Universidade. “Além de levar o nome da UFJF em todas as competições que participamos, mostramos a relevância dos recursos subsidiados pela Universidade. A apresentamos a infraestrutura laboratorial de excelência que dispomos (especificamente aqui, no Litel) para que pesquisas de ponta mostrem resultados e, de fato, gerem impactos para a sociedade. Além disso, estas são oportunidades de firmar contatos para futuras parcerias entre os setores público e privado. Vários produtos e patentes já foram gerados com a participação nestes eventos”, conclui.