Promover o diálogo, o acolhimento e a conscientização sobre as violências de gênero. Com esse objetivo, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) realizou o 1º Encontro de Mulheres da instituição. O evento, organizado pela Diretoria de Ações Afirmativas (Diaaf), aconteceu na quinta-feira, 28, no Instituto de Ciências Humanas (ICH).
O debate entre estudantes, docentes, trabalhadoras terceirizadas e servidoras técnico-administrativas em educação (TAEs) faz parte do Mês de Atividades pelo Dia Internacional das Mulheres. Participaram da mesa que conduziu a conversa, a vice-reitora, Girlene Silva; a ouvidora especializada em Ações Afirmativas, Cristina Bezerra; e as professoras Zélia Ludwig, do Departamento de Física; e Célia Arribas, do Departamento de Ciências Sociais.
“No imaginário coletivo, as mulheres não ocupam muitos dos espaços que estamos ocupando. Por isso é tão importante que a gente converse sobre nosso papel na sociedade, reafirmando cotidianamente nossas presenças no ambiente acadêmico, pois essa não é uma luta das mulheres dos anos 40 ou 50, mas de todas as gerações”, ressaltou a vice-reitora, Girlene Silva. Ela defendeu, ainda, o compromisso da UFJF com as pautas que dizem respeito às mulheres e com o trabalho constante para combater os diversos tipos de violências.
Neste sentido, a ouvidora especializada em Ações Afirmativas, Cristina Bezerra, explicou o trabalho desenvolvido pela Ouvidoria Especializada na busca pelo acolhimento das vítimas e solução das denúncias. Segundo Cristina, o assédio dentro da universidade ainda é um grande problema vivenciado pelas mulheres. “É importante lembrar que hoje, na UFJF, há um espaço de enfrentamento coletivo desta questão. Estamos realizando uma série de ações com o objetivo de esclarecer o que é assédio, trazendo para a comunidade acadêmica este debate e esclarecendo como as vítimas podem buscar soluções institucionais”.
Cristina ressaltou ainda a construção dos eventos que fazem parte do Mês da Mulher e da campanha institucional, desenvolvidos em conjunto com coletivos e entidades representativas. Para ela, a tentativa de reunir as mulheres da UFJF visa colocar em protagonismo suas lutas, carências e resistências no âmbito da UFJF. “Precisamos nos fortalecer. E esse fortalecimento só acontece a partir da união. A campanha, os eventos e esse momento de hoje é importante para que todos saibam que nós estamos aqui, e não estamos sozinhas”.
Mulheres na ciência
A professora e pesquisadora Zélia Ludwig tratou sobre a representatividade feminina na ciência, sobretudo a respeito de mulheres negras nas Exatas. De acordo com dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), apresentados pela professora, apenas 10,4% das mulheres negras com idade entre 25 e 44 anos concluem o ensino superior. Segundo Zélia, as estatísticas se refletem ainda no número de cientistas negras no contexto brasileiro, já que apenas 7% das bolsas de produtividade são destinadas a mulheres negras. Segundo ela, é primordial falar sobre isso para estimular a criação de projetos que incentivem a entrada e a permanência de mulheres na universidade.
Para Zélia, o encontro representou um momento de união e luta por espaço e voz. “Eu uso a ciência, que sempre foi um ambiente machista, como um lugar de fala pra mudar o mundo. E busco empoderar as mulheres com a tecnologia, porque acredito que precisamos multiplicar nossas ações. Esse momento é importante por isso, porque percebemos que não estamos sozinhas. Se dermos as mãos, podemos alcançar lugares que nunca imaginamos”.
A professora também ressaltou projetos que buscam enfrentar a invisibilidade e a desigualdade de gênero na Academia, como o Para Meninas Negras na Ciência, desenvolvido por ela no âmbito da UFJF. “Constantemente somos silenciadas e invisibilizadas. Mas vamos ocupar todos os espaços. Se não quiserem nos ouvir, vamos escrever. E se não quiserem nos ler, a gente desenha. Porque o nosso gênero, cor ou condição social não deve dizer o que somos capazes de fazer”.
Assédio na universidade
Na ocasião, a professora Célia Arribas apresentou os dados de uma pesquisa a respeito da violência de gênero no meio universitário, que realizou na UFJF em 2018. De acordo com o levantamento, 23% das alunas disseram já ter sido vítima de violência e assédio no ambiente acadêmico. “A gente percebe que as mulheres são vítimas prioritárias dessa relações violentas. E quando digo violência, não é só física. É psicológica e discriminatória também”.
Segundo a professora, para obter os resultados da pesquisa, foram aplicados 633 questionários com estudantes dos cursos de graduação do campus sede. Os dados demonstram que muitos dos relatos não foram formalizados em denúncias, mas são importantes de serem levantados para o planejamento de políticas institucionais. “Ser mulher é estar mais exposta a situações de vulnerabilidade. E no ambiente universitário a gente percebe que essa realidade não é diferente. Por isso é importante pensar em estratégias para garantir uma universidade plural, diversa e humanitária”.
Para sinalizar o compromisso da Universidade com o enfrentamento das desigualdades e das violências, foi criado um grupo de trabalho para tratar dos conteúdos de uma futura cartilha contra o assédio na UFJF. Ao todo oito mulheres, entre professoras e alunas, se dispuseram a formar a comissão que, segundo Cristina Bezerra, “em breve irá se reunir para discutir as ideias que resultarão em um material educativo, formador e fortalecedor”.
Outras informações:
(32) 2102-6919 (Diretoria de Ações Afirmativas)
(32) 2102-3380 (Ouvidoria especializada em Ações Afirmativas)
A Ouvidoria especializada recebe denúncias presencialmente, por telefone, ou pelo e-mail: Ouvidoriaespecializada.diaaf@ufjf.edu.br