Os impactos das mudanças climáticas são muitos; geralmente, os mais destacados são o aumento da temperatura do nosso planeta, o derretimento de calotas polares e fenômenos extremos, como tornados, tsunamis e furacões. Mas já existem outras repercussões que, embora escapem ao olho nu, já podem ser sentidas em nosso próprio corpo. E uma área específica de conhecimento, a estequiometria, é a chave para entendermos melhor como, além do nosso próprio meio ambiente, também estamos sentindo na pele – literalmente – algumas consequências.
“O que a estequiometria pode nos dizer sobre nossa mudança climática e obesidade” foi o título inusitado da palestra que professor norte-americano James Cotner ministrou, durante sua passagem pelo Programa de Pós-Graduação em Ecologia (PGEcol). Cotner é vinculado ao Departamento de Ecologia, Evolução e Comportamento da Universidade de Minnesota (EUA) e atuou professor convidado da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Antes de iniciar sua apresentação, fez questão de deixar claro para os estudantes e professores presentes que está ansioso para conversar não somente sobre sua própria pesquisa, mas também sobre as produções científicas desenvolvidas na Universidade.
Uma das especialidades de Cotner é a estequiometria ecológica, área dedicada ao estudo de elementos químicos e suas interações ecológicas. Com mais de uma centena de artigos publicados em periódicos científicos ao redor do mundo, o professor explica que, quando fala sobre seu foco de pesquisa, procura enfatizar como ele pode ajudar a explicar algo que afeta todos nós, seres humanos, em uma escala global.
“O que a maioria das pessoas está interessada é nas conexões entre as mudanças no clima e a nossa comida”, ressalta. “Nós pensamos que a carne que comemos hoje é a mesma de 50 anos, antes do período de pecuária e agricultura intensiva”, explica, se referindo ao agrossistema que visa o aumento da produção e a redução de tempo da mesma. Para tal, técnicas como máquinas, suplementos e insumos (como adubos, sementes e vacinas, por exemplo) são intensivamente utilizadas.
“Nossa comida é diferente hoje. Uma das formas mais diretas de esclarecer o porquê disso é explicar que os micro-organismos são capazes de mudar a forma que os elementos são dispostos nos ambientes, com reflexos para a estrutura dos organismos, como nas plantas, por exemplo. E a maneira como eles induzem essas mudanças tem a ver com o ambiente no qual eles estão inseridos – então, o aumento do gás carbônico e do aquecimento significam mudanças nestes micro-organismos e, consequentemente, nas comidas que consumimos a partir de alimentos compostos por eles. Se você comer o mesmo pão que sua avó comeu há meio século, ele vai ter um efeito diferente no seu corpo.”
Como podemos, então, manter o valor nutricional de alimentos que já não são mais os mesmos de outrora? Quem ajuda a responder esta questão é o pesquisador André Amado, professor associado no Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) que, atualmente, atua como professor visitante no Departamento de Biologia da UFJF. “Se você aumenta a temperatura, você muda a composição da comida. Então, para você manter a comida tão nutritiva quando era no passado, talvez – ênfase no talvez – seja preciso aplicar mais fertilizantes, o que sabidamente pode trazer outros problemas ambientais. Esse conhecimento pode mudar como nós exploramos nossos recursos naturais e lidamos com processos que afetam diretamente nosso acesso à água de boa qualidade, por exemplo.”
Parceria que já rende frutos
“A visita do professor Cotner, além de ter nos brindado com a palestra e o curso, também nos possibilitou avançar em uma discussão para um cooperação científica (convênio entre as universidades) em um futuro próximo”, revela Amado. Segundo o professor, já existem estudos em andamento que aplicam os princípios da estequiometria ecológica; para exemplificar, Amado cita o estudo de mecanismos que, utilizando dessa teoria, são voltados para a aceleração do processo de degradação de fármacos e outros poluentes.
Outras informações:
(32) 2102-3227 (Programa de Pós-Graduação em Ecologia)
(32) 2102-3201 (Instituto de Ciências Biológicas)