“Nossa comida é diferente hoje”, segundo o pesquisador James Cotner; durante sua estadia na UFJF, ele conversou com professores e alunos sobre o porquê disto (Foto: USAID Asia)

Os impactos das mudanças climáticas são muitos; geralmente, os mais destacados são o aumento da temperatura do nosso planeta, o derretimento de calotas polares e fenômenos extremos, como tornados, tsunamis e furacões. Mas já existem outras repercussões que, embora escapem ao olho nu, já podem ser sentidas em nosso próprio corpo. E uma área específica de conhecimento, a estequiometria, é a chave para entendermos melhor como, além do nosso próprio meio ambiente, também estamos sentindo na pele – literalmente – algumas consequências.

“O que a estequiometria pode nos dizer sobre nossa mudança climática e obesidade” foi o título inusitado da palestra que professor norte-americano James Cotner ministrou, durante sua passagem pelo Programa de Pós-Graduação em Ecologia (PGEcol). Cotner é vinculado ao Departamento de Ecologia, Evolução e Comportamento da Universidade de Minnesota (EUA) e atuou professor convidado da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Antes de iniciar sua apresentação, fez questão de deixar claro para os estudantes e professores presentes que está ansioso para conversar não somente sobre sua própria pesquisa, mas também sobre as produções científicas desenvolvidas na Universidade.

Em visita ao PGEcol, James Cotner compartilhou seu conhecimento sobre a estequiometria ecológica (Foto: Gustavo Tempone)

Uma das especialidades de Cotner é a estequiometria ecológica, área dedicada ao estudo de elementos químicos e suas interações ecológicas. Com mais de uma centena de artigos publicados em periódicos científicos ao redor do mundo, o professor explica que, quando fala sobre seu foco de pesquisa, procura enfatizar como ele pode ajudar a explicar algo que afeta todos nós, seres humanos, em uma escala global.

“O que a maioria das pessoas está interessada é nas conexões entre as mudanças no clima e a nossa comida”, ressalta. “Nós pensamos que a carne que comemos hoje é a mesma de 50 anos, antes do período de pecuária e agricultura intensiva”, explica, se referindo ao agrossistema que visa o aumento da produção e a redução de tempo da mesma. Para tal, técnicas como máquinas, suplementos e insumos (como adubos, sementes e vacinas, por exemplo) são intensivamente utilizadas.

“Nossa comida é diferente hoje. Uma das formas mais diretas de esclarecer o porquê disso é explicar que os micro-organismos são capazes de mudar a forma que os elementos são dispostos nos ambientes, com reflexos para a estrutura dos organismos, como nas plantas, por exemplo. E a maneira como eles induzem essas mudanças tem a ver com o ambiente no qual eles estão inseridos – então, o aumento do gás carbônico e do aquecimento significam mudanças nestes micro-organismos e, consequentemente, nas comidas que consumimos a partir de alimentos compostos por eles. Se você comer o mesmo pão que sua avó comeu há meio século, ele vai ter um efeito diferente no seu corpo.”

Como podemos, então, manter o valor nutricional de alimentos que já não são mais os mesmos de outrora? Quem ajuda a responder esta questão é o pesquisador André Amado, professor associado no Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) que, atualmente, atua como professor visitante no Departamento de Biologia da UFJF. “Se você aumenta a temperatura, você muda a composição da comida. Então, para você manter a comida tão nutritiva quando era no passado, talvez – ênfase no talvez – seja preciso aplicar mais fertilizantes, o que sabidamente pode trazer outros problemas ambientais. Esse conhecimento pode mudar como nós exploramos nossos recursos naturais e lidamos com processos que afetam diretamente nosso acesso à água de boa qualidade, por exemplo.”

Parceria que já rende frutos
“A visita do professor Cotner, além de ter nos brindado com a palestra e o curso, também nos possibilitou avançar em uma discussão para um cooperação científica (convênio entre as universidades) em um futuro próximo”, revela Amado. Segundo o professor, já existem estudos em andamento que aplicam os princípios da estequiometria ecológica; para exemplificar, Amado cita o estudo de mecanismos que, utilizando dessa teoria, são voltados para a aceleração do processo de degradação de fármacos e outros poluentes.

Outras informações:
(32) 2102-3227 (Programa de Pós-Graduação em Ecologia)
(32) 2102-3201 (Instituto de Ciências Biológicas)