Aproximar a Universidade e a sociedade é uma necessidade constante para democratizar o espaço acadêmico e torná-lo cada vez mais acessível. A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) é uma das oportunidades de divulgar as inovações e fomentar o conhecimento científico para toda a comunidade. Este é o objetivo do projeto “A ciência que fazemos”, que promove a interação entre estudantes de escolas básicas e cientistas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Nesta segunda-feira, 23, a palestra “O inseto que resolveu o crime”, realizada na Escola Estadual Duque de Caxias, foi ministrada pelo pesquisador Fábio Prezoto — que mostrou, de forma divertida, como a ciência pode resolver questões criminais cotidianas com auxílio do estudo de insetos.
O professor da UFJF contou que pretendia fazer Agronomia e que, ao conversar com professores, decidiu tentar a Biologia como profissão. Posteriormente, apaixonou-se pela diversidade do estudo da Zoologia e, a partir do aprofundamento na área, interessou-se pelos insetos. “Por que estudar insetos? Os insetos fazem parte da vida humana, estão em qualquer lugar, todas as nossas ações estão ligadas aos insetos. É o maior grupo de animais que existe na terra”, explica Prezoto.
Insetos “detetives”
Além de mostrar aos estudantes diferentes tipos de insetos e características peculiares de cada um deles (como a camuflagem, coloração e formas de identificar se são perigosos ou não), o pesquisador falou sobre um campo crescente dos estudos da Entomologia – ramo da ciência biológica que estuda os insetos – que é o domínio da Entomologia Forense. Esta ramificação possibilita o estudo de vários tipos de crimes utilizando a biologia, o comportamento e a ecologia de insetos para fornecer informações.
Ainda sobre essa área, o professor explicou que é possível que o biólogo, ao analisar o animal (qual a espécie, a quanto tempo o inseto está inserido em um alimento, por exemplo), possa afirmar e entender problemas com Produtos Estocados na alimentação. O profissional pode trabalhar em parceria com a vigilância sanitária para desvendar essas situações. Mais uma finalidade da Entomologia Forense é, por exemplo, compreender a causa da queda de árvores nas cidades. O papel do biólogo nesse caso é entender se há alguma relação com os animais. Em um desses estudos para identificar quantas árvores são atacadas por cupins em Juiz de Fora, o professor concluiu que há cerca de 40% de árvores condenadas nas praças da cidade.
Segundo o pesquisador, uma das funções mais interessantes dos estudos da Entomologia é utilizar esse conhecimento para resolver crimes violentos. A análise de insetos pode responder questões como “há quanto tempo essa morte ocorreu?”, “como a morte aconteceu?”, “onde essa morte ocorreu?”. “Existem insetos que só vivem no interior da cidade — em ambientes agrícolas, por exemplo –, em área de mata. Então, se eu encontro um corpo em uma área de mata, e se o mesmo tem insetos típicos da cidade, eu posso dizer que esse assassinato ocorreu na cidade e o corpo foi deixado naquele local. Só a presença da fauna de inseto pode me dar uma ideia de onde é que aquele crime aconteceu”, exemplifica Fábio. Além disso, as substâncias utilizadas para matar uma pessoa, como em casos de envenenamento, podem impedir que alguns tipos de insetos apareçam na decomposição do cadáver, o que também resulta em um indício para investigação.
No entanto, a principal informação que esses animais podem fornecer é quanto tempo que o cadáver está em decomposição, é com base nesse dado que se faz o círculo de investigação. Os estágios de degradação do cadáver atraem diferentes tipos de inseto, o que permite que a investigação tenha a estimativa do tempo da morte a partir das larvas encontradas no corpo. Além disso, é possível recuperar o DNA de uma pessoa a partir da ingestão que o animal faz do tecido do cadáver. Esses exemplos figuram o trabalho de um biólogo entomologista forense que impacta diretamente na resolução de crimes.
Estudantes empolgados
Entusiasmados com a palestra, os estudantes relataram que ainda não tinham participado de eventos desse tipo. A aluna Júlia de Souza, de 14 anos, disse que se surpreendeu com o conteúdo: “Eu achei a palestra explicativa, mostrou diferentes tipos de insetos que eu não conhecia e mostrou como eles podem ajudar, foi bem divertido”. A vontade de pesquisar sobre a área também foi despertada entre os jovens, como é o caso da aluna Eduarda de Freitas Costa, 14 anos, que afirma sentir vontade de ser pesquisadora de biologia e que, anteriormente, não tinha a perspectiva do pesquisador como profissão. A estudante Isabella Vitória, de 15 anos, relata que, embora exista a feira de ciências na escola, sente falta de mais conteúdos práticos e explicativos sobre pesquisas. Os depoimentos ilustram como medidas que aproximam o espaço acadêmico da sociedade civil é uma forma de garantir a continuidade de avanços na ciência e, por isso, iniciativas que unam a ciência e a educação básica se fazem tão necessárias a longo prazo.
Outras informações:
Projeto “A ciência que fazemos” leva conhecimento acadêmico às escolas da cidade