Nesta segunda edição do Diário de Intercambista, o estudante de Engenharia Mecânica Henrique Ayres compartilha suas histórias neste primeiro mês vivendo na Rússia. O destino menos usual era um sonho de criança, que ele começa a realizar. Henrique está em Tomsk, na Sibéria, a 3.600km de Moscou. No relato, as descobertas em relação ao idioma, ao clima, a cultura e até um passeio com banho de água congelante. Confere aí!
Desde que decidi vir para Rússia, ouço todos os dias a mesma pergunta: por quê? A resposta é bem simples: desde pequeno, quando era ginasta e me apaixonei por esse esporte, quis saber mais sobre esse enorme país e também sempre tive vontade de morar fora do Brasil. Esses dois sonhos se resumem neste momento, com a minha estadia em Tomsk, uma cidade no meio da Sibéria que te faz apaixonar por ela toda vez que você descobre uma rua ou um prédio novo.
30 horas de viagem
Antes de contar sobre meu último mês aqui em Tomsk, preciso falar sobre a jornada para se chegar até aqui. Foram 30h de viagem no total, passando por Lisboa, Frankfurt, São Petersburgo, Moscou e, finalmente, chegando em Tomsk. Por incrível que pareça, essa era a passagem com o menor tempo de viagem.
A Sibéria me recebeu de braços abertos, com uma temperatura externa de 5ºC. Confesso que não estava esperando por isso, carregava só um moletom, porque ainda estávamos no fim do verão. Mas, o frio foi passageiro, na tarde do mesmo dia a temperatura chegou a 25ºC. Também fui recebido pela minha buddy, Natalia, que faz parte do BBC (Buddy Building Club), grupo que tem a função de integrar os alunos intercambistas das mais diversas universidades daqui. Ela me ajudou bastante no processo de conhecer a cidade e enfrentar os primeiros desafios aqui.
A vida em Tomsk
Essa é a minha primeira vez na Eurásia e simplesmente estou apaixonado. A cidade de Tomsk mescla muitos traços de arquitetura clássica, da influência soviética e também de elementos modernos, o que a torna única. Com 550 mil habitantes, a cidade é conhecida pelas várias universidades estaduais e por suas casas de madeira, que compõem grande parte da cidade.
A TSPU (Tomsk State Pedagogical University) difere bastante da UFJF principalmente por não ter um campus, mas sim prédios espalhados pela cidade, entre eles, bibliotecas, salas de estudo, prédios esportivos. Cada um deles possui salas de aulas e diferentes departamentos. Dada a dificuldade inicial com a língua, resolvi pegar três aulas práticas, além das aulas de russo. Assim posso me acostumar aos poucos com os termos técnicos para, no próximo semestre, tentar assistir aulas mais específicas. Os professores são bastante atenciosos e pacientes, pois sabem que a língua não é fácil de aprender assim de cara.
Já na primeira semana, conheci vários outros membros do BBC: russos, franceses, poloneses, austríacos. Os nativos nos levaram para um tradicional encontro de começo de período realizado pelos alunos no meio de um bosque, na borda do rio Tom, que dá o nome da cidade. As paisagens da Sibéria são maravilhosas.
A recepção dos russos e dos outros europeus foi fantástica, todos bastante curiosos em relação ao Brasil, e claro, com perguntas sobre o futebol, o samba e o carnaval. Diferentemente do que sempre falam para nós, os russos não são frios. Todos que conheci eram muito animados e receptivos, sempre com um sorriso na cara e com a maior disposição para te ajudar com a língua e com o que precisar.
Confesso que não é fácil sobreviver só com inglês aqui, principalmente porque as aulas são em russo. Dentro do BBC, todos os membros falam inglês, então é tudo tranquilo, mas isso não se repete no meio acadêmico. Por ser uma cidade cheia de estrangeiros, os comerciantes entendem um pouquinho de inglês, as palavras básicas, mas não tem como depender só do inglês. Eu estudei russo por dois anos e, mesmo assim, o primeiro contato com a língua foi péssimo. Mas, com as aulas e o convívio com os amigos russos, já melhorei muito.
O dormitório da Universidade é um típico prédio soviético: sem luxos, mas ao mesmo tempo prático e com tudo que você precisa. Pago por mês 3850 rublos (R$212) pelo quarto, e mais 300 rublos (R$16) pela internet. Moro sozinho no quarto e o banheiro é compartilhado.
A vida na Rússia, com exceção de Moscou e São Petersburgo, é muito barata, principalmente pela crise econômica que vem afetando o país nos últimos anos. Com 20 mil rublos por mês (cerca de R$ 1,1 mil) dá para levar uma vida muito confortável, saindo todo final de semana e comprando guloseimas, por exemplo. Muitos alunos vivem com cerca de 10 mil rublos por mês (R$ 550) sem grandes dificuldades. Para comparar os preços, a passagem de ônibus custa 18 rublos, cerca de R$1. Por 70 rublos (R$3,80), dá para comprar uma caixa com oito chocolates Kinder. E por aí já dá para imaginar o quanto estou comendo de chocolate aqui na Rússia.
Falando em comida, o povo russo consome muita sopa. A mais tradicional é a Borsch (Борщ), feita com beterraba e carne bovina e servida com uma espécie de sour cream (Сметана). É surpreendentemente deliciosa. A proximidade com o Uzbequistão, o Quirguistão e a China, faz outro prato ser muito popular: o Lagman (Лагман). A sopa é feita de um macarrão caseiro, carne bovina e legumes. É o prato de todo dia, custa 75 rublos (menos de R$5).
Balde de água fria
No último dia 6 de agosto, por convite do BBC, fomos a um pequeno vilarejo chamado Talovskiye Chasi, em que pudemos fazer um passeio no meio de uma verdadeira floresta de taiga. Lá fizemos fogueiras, preparamos sopa e chá, hábito comum dos russos. Também teve um banho de água congelante, num frio de 8ºC (dá uma olhada no vídeo). A cultura nativa aqui diz que melhora a saúde. Não queria sentir mais frio do que eu já estava, então, preferi continuar seco.
Nos dias 9 e 10 de agosto, foi comemorado o Dia do Cidadão de Tomsk (День Томича), que parou a cidade com atrações musicais, esportivas e culturais, além um tradicional desfile das universidades. A data é bastante esperada pela população da cidade. No próximo final de semana, irei visitar Novosibirsk, a maior cidade da Sibéria. Se quiserem saber mais da vida na Rússia, me adicionem no Facebook (https://www.facebook.com/henrique.ayres.3) ou me sigam no Instagram (@henripster).
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