Um mergulho em duas histórias que se cruzam, uma coleção de fatos documentados, narrados pela imprensa e contados por objetos que nos guiam e surpreendem a cada detalhe revelado. Registros do período da República no Brasil até os dias atuais e da trajetória de um dos mais republicanos homens públicos do país estão reunidos no novo local de cultura em Juiz de Fora. A partir desta terça, 22 de dezembro, o Memorial da República Presidente Itamar Franco, localizado ao lado do Museu de Artes Murilo Mendes, estará aberto ao público, com acesso gratuito, e visitação permanente de segundas a sextas. A inauguração acontece nesta segunda-feira, às 20h.
O Memorial, que pertence à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), mais do que um simples espaço expositivo, é uma casa dinâmica, onde política, economia, cultura, história e arte fazem da imersão ao local uma experiência de conhecimento e reflexão. São dois andares, 820 metros quadrados de área construída e algumas surpresas, entre elas, um grande móvel de madeira com 84 gavetas fechadas. A cada gaveta que o visitante abrir, poderá se deparar com documentos, objetos ou até mesmo telas multimídias interativas. A metáfora das gavetas vem de um trecho do livro “A Idade do Serrote”, do autor juiz-forano Murilo Mendes, em que diz haver “muitas gavetas na memória”.
Outros autores admirados por Itamar, como Guimarães Rosa, também são lembrados em frases pintadas nas paredes, assim como aquelas escritas pelo próprio homenageado. O espaço ainda guarda cerca de 1.700 objetos pessoais, a biblioteca que pertencia ao ex-presidente, com acervo de sete mil títulos, e mais de 150 mil cartas dirigidas a ele enquanto estava na presidência. Não poderia faltar o fusca azul, usado pelo presidente, em 1993, quando a montagem do modelo foi retomada, incentivada por seu governo, veículo que, posteriormente, foi comprado por ele.
Há ainda painéis artísticos, fotografias, presentes diplomáticos, comendas e um busto do ex-presidente. O Memorial reserva espaço com computadores para uso de pesquisadores, galeria para exposições temporárias (a primeira reúne quadros de vários artistas sobre Juiz de Fora) e uma sala para projeção de vídeos. Os monitores estão aptos para auxiliar o público e, em caso de solicitações agendadas de escolas ou de grupos maiores, as visitas podem ser guiadas.
Ensino, pesquisa e extensão
Mais do que um novo local de cultura e de turismo para Juiz de Fora, o Memorial tem como missão o incentivo acadêmico, nos âmbitos de ensino, pesquisa e extensão. A digitalização de documentos e cartas já começou a ser feita e o processo de catalogação de documentos é permanente. Além do acesso a documentos para pesquisadores e das exposições fixas e temporárias, uma das metas é a promoção de pelo menos dois eventos anuais de discussão da nação e da municipalidade. O lançamento de livros é outro objetivo. O primeiro será a reprodução de uma entrevista dada por Itamar ao projeto Diálogos Abertos, que resgata a época em que foi prefeito de Juiz de Fora.
A atenção com as escolas também vai além das visitações. A série “Cadernos Educativos” já têm duas cartilhas prontas para serem distribuídas aos alunos, uma sobre os símbolos da República e outra sobre “Itamar, o sonhador” Os estudantes também receberão postais com símbolos nacionais, descrição de árvores do Brasil, histórias sobre a República, hino de Juiz de Fora e outros temas, sempre com ilustrações de artistas locais e nacionais.
De acordo com o coordenador de implantação do Memorial, José Alberto Pinho Neves, “não há um ou outro destaque, mas tudo que está exposto compõe um todo”. Para ele, a UFJF faz o seu papel na preservação da memória, seja ela local, estadual ou nacional e busca equilíbrio na exposição dos registros. “Teríamos várias formas de contar a história, optamos, no caso do período da presidência de Itamar, por exemplo, dialogar com o que a imprensa dizia à época”, explica. “É o reconhecimento que vem pela morte, é mais abrangente, porque é muito difícil falar da trajetória de um político em atividade. A morte traz um olhar mais isento”.
Amigo pessoal de Itamar, Pinho Neves relembra uma das muitas histórias do político marcado pela simplicidade. “Quando era presidente e devolveu a sede da UNE aos estudantes, Itamar foi junto com os estudantes tomar cerveja no Lamas, um bar tradicional do Largo do Machado, no Rio de Janeiro. Ele era assim”, conta.
Doação partiu do próprio Itamar
Em 2002, foi criado, em Juiz de Fora, o Instituto Itamar Franco, que reunia acervo expressivo sobre a história recente da República no país e sobre a trajetória do político, que foi prefeito de Juiz de Fora, em 1967. O Instituto funcionava no antigo prédio do Banco de Crédito Real, na cidade. Em 2010, o próprio Itamar manifesta, por carta, a intenção de doar todo o acervo à UFJF. A incorporação foi aceita pelo Conselho Superior (Consu) da Universidade no mesmo ano. Em 2011, o ex-presidente morre. Em 2014, o Consu aprova por unanimidade a criação e o regimento do Memorial. Foram investidos R$ 3,5 milhões na construção do espaço. Parte dos recursos são da própria Universidade, outra parte da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), do Ministério da Educação (MEC) e de emendas parlamentares.
Funcionamento
O Memorial funciona à Rua Benjamin Constant, 790, no Centro de Juiz de Fora, ao lado do Museu de Artes Murilo Mendes (Mamm). As visitações são gratuitas, às segundas, das 12h às 18h; e de terças a sextas, das 9h às 18h.
Outras informações: (32) 3212-2078