Quarenta alunos de cinco países, incluindo o Brasil, participam da V Turma da Especialização em Estudos Latino-Americanos. O curso é uma parceria da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) com a Escola Nacional Florestan Fernandes – centro de formação política dos militantes do Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) –, e tem como objetivo educar e formar militantes nas questões econômicas, políticas, sociais e culturais da América Latina.
Doze desses estudantes são militantes de movimentos sociais que vieram do Equador, Colômbia, Paraguai e Argentina. A diretora da Faculdade de Serviço Social da UFJF e coordenadora da especialização, Cristina Simões Bezerra, acredita que para a UFJF a experiência é importante para desenvolver a relação entre a instituição e os movimentos sociais latino-americanos. “Há uma dinamicidade das lutas sociais das quais não temos conhecimento no espaço acadêmico. Ao mesmo tempo em que nos aproximamos dos movimentos latino-americanos, a UFJF também ultrapassa seus muros, chegando em outros locais, por meio desses estudantes.”
Membro do Pátria Grande, movimento popular de esquerda da Argentina, Gabriela Giacomelli, diz que sua participação no curso é uma aposta da organização que representa. “A integração latino-americana e a formação política têm um sentido estratégico para o Pátria Grande, que há muito tempo tem ligação com a Escola Nacional Florestan Fernandes. Os movimentos sociais são muito críticos à academia, de forma geral, mas é preciso considerar a Universidade como um território de disputa e fazer parte dele.”
O colombiano Alejandro Bedoya procurou o curso em busca do intercâmbio de teorias, conhecimentos e missões sociais com alunos do Brasil e dos outros países participantes. Ele é membro do Congresso dos Povos, organização social que reúne outras entidades populares da Colômbia. “Essa oportunidade permite o fortalecimento das relações e dos vínculos, na medida em que podemos compreender a configuração daquilo que chamamos de identidade latino-americana.”
A assistente social Franqueline Terto dos Santos é uma das brasileiras que participa do curso. Ela é membro do MST de Alagoas e diz ter se interessado pela proposta do curso. “Desde a minha inserção no MST, passei a ter essa certeza de pertencimento à comunidade latino-americana, mas as formações escolar e acadêmica tradicionais não dão tanto espaço para os estudos da América Latina. Então, essa é uma chance para aprender e apreender as nossas diversidades culturais, mas também identificar o que nos une: a terra, o campo e as origens indígenas e negras.”
Do Paraguai, Cony Oviedo González integra o Conamuri, Organização de Mulheres Campesinas e Indígenas daquele país. Ela acredita que a academia não pode estar dissociada dos processos sociais e, por essa razão, acredita que o curso abre uma janela para o diálogo entre a Universidade e as organizações sociais. “Essa relação coletiva entre vários tipos de organizações – com feministas, trabalhadores sem terra, grupos preocupados com os recursos naturais e outros – é essencial para discutirmos o que estamos construindo para disputar espaços acadêmicos e trazer as histórias e as vozes dos nossos povos para a Universidade.”
O economista Henry Magallanes participa do curso, representando a Federação Nacional de Trabalhadores Agroindustriais, Campesinos e Indígenas Livres do Equador. Ele acredita que o curso é importante por resgatar a parceria entre o movimento popular brasileiro e as organizações sociais latino-americanas. “A Universidade, como um espaço construído socialmente, deve estar aberta a criar um conhecimento conjunto, não apenas academicista, mas que contemple um processo compartilhado de aprendizagem. O conhecimento crítico da realidade latino-americana nos faz enriquecer ainda mais a construção do que é a própria América Latina.”
A V Turma da Especialização em Estudos Latino-Americanos está em sua fase preparatória, com final previsto para 29 de julho. Outras quatro etapas são necessárias até que o curso seja finalizado. As aulas ocorrem sempre nos meses de julho e janeiro.