O relatório lançado este ano pela ONU mostra que quase metade das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável avança num ritmo insuficiente para serem cumpridas até 2030, enquanto 18% das metas registraram retrocesso. Este dado acende alerta sobre a importância de uma mobilização social e institucional para que as ações de sustentabilidade sejam aceleradas.
Sensível ao fato, a Universidade Federal de Juiz de Fora traz a sustentabilidade como tema central do Programa de Ingresso Seletivo Misto (Pism), eforçando a urgência de agir por um futuro melhor agora. Para ampliar o debate, produzimos uma série de matérias mostrando projetos realizados na Universidade e que dialogam com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Nesta edição focamos nos objetivos 9 e 17 focados em inovação e mobilização e cooperação internacional.

Reitora Girlene Alves e diretor Alexandre Cadilhe no evento Eurie na Turquia. (Foto: Arquivo)
A internacionalização e a inovação são pilares institucionais fundamentais. Segundo o diretor de Relações Internacionais, Alexandre Cadilhe, o processo de alinhar as ações às metas de sustentabilidade vai além da área acadêmica, buscando consolidar parcerias que impactam socialmente e cientificamente. “A internacionalização hoje precisa estar efetivamente alinhada aos ODS, fortalecendo parcerias que promovam equidade, inovação social e cooperação científica diante dos desafios globais, como o clima, a energia e a inclusão”, afirma. De acordo com Cadilhe, a Diretoria de Relações Internacionais tem direcionado suas ações para a formação de redes interdisciplinares e para a integração dos ODS aos editais e planos institucionais.
Da mesma forma, Fabricio Campos, pró-reitor de Inovação, destaca o trabalho institucional para alinhar políticas de inovação com os ODS, especialmente nas áreas de indústria, inovação e infraestrutura, diretamente relacionadas às atividades do Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (Critt). “Conectamos o conhecimento científico com as demandas da sociedade, apoiando projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) e de startups para promover a eficiência energética, a economia circular e o uso de tecnologias limpas”, enfatiza.
Comportamento, organizações e desenvolvimento sustentável

Danilo Sampaio e Luis Eduardo Diniz e Martins integram o grupo de pesquisa Descor dedicado a projetos de educação para o desenvolvimento sustentável no Ensino Médio com parcerias internacionais. (Foto: Twin Alvarenga)
Consumo sustentável, uso responsável da água, energia e meio ambiente, com foco na gestão e nos impactos das organizações na sociedade são os temas trabalhados por um dos primeiros grupos do país a estudar sustentabilidade na gestão. Composto por professores e estudantes da UFJF e de instituições internacionais Aliando o bem-estar social, econômico e ambiental aos 17 ODS. O grupo de pesquisa Descor é vinculado à Faculdade de Administração e Ciências Contábeis (FACC) e desenvolve projetos de educação para o desenvolvimento sustentável no Ensino Médio.
Para o coordenador do grupo, pesquisador Danilo Sampaio, a proposta vai além da pesquisa acadêmica: “Nosso objetivo é popularizar, divulgar e produzir conhecimento sobre desenvolvimento sustentável e gestão. Queremos formar cidadãos conscientes, capazes de aplicar esses princípios nas universidades, nos empregos e na vida cotidiana”, afirma. A ação envolve atores de todas as idades, desde bolsistas de quatro escolas públicas de Juiz de Fora, orientados por professores da UFJF, a estudantes da universidade que, juntos, desenvolvem atividades sobre sustentabilidade nas escolas. O projeto tem gerado um efeito multiplicador, levando adolescentes a refletirem sobre os ODS e a importância de práticas sustentáveis dentro e fora do ambiente escolar.

Danilo Sampaio falando sobre a importância da sustentabilidade em escolas de Juiz de Fora. (Foto: arquivo)
Para o mestrando Luis Eduardo Diniz e Martins, integrante do Descor, o projeto representa uma ponte entre a universidade pública e o ensino médio, estimulando a troca de saberes e a formação crítica dos estudantes. “A proposta mostra que o desenvolvimento sustentável não é algo distante da nossa realidade. São pequenas atitudes cotidianas que podem gerar grandes transformações”. Segundo ele, o engajamento dos adolescentes tem sido um dos pontos altos da experiência. “É muito gratificante ver o interesse e a dedicação dos alunos nas atividades. Cada um desenvolve seu próprio projeto dentro da escola, de acordo com seus interesses, e isso tem rendido resultados muito bacanas. Essa vivência contribui de forma significativa para a formação pessoal e cidadã desses jovens”, completa.
Além das ações locais, o Descor mantém parcerias internacionais com a World Association for Sustainable Development (WASD), sediada no Reino Unido; a Sustainable Consumption Research and Action Initiative (Scorai-BR), na União Europeia; e a German-Brazilian Science and Technology Network (Gerbras), da Hamburg University of Applied Sciences, na Alemanha. Essas redes reforçam o compromisso do grupo com a troca global de experiências e a disseminação de práticas sustentáveis no campo da gestão.
Ecossistema de inovação fortalece a criação de startups

Pesquisadores Rodrigo Dias, Eduardo Ferreira e José Paulo Furtado mostram, junto com estudantes, tecnologias desenvolvidas no laboratório de Física Aplicada. (Foto: Twin Alvarenga)
Unindo ciência, tecnologia e impacto social, o Laboratório de Física Aplicada (LabFapli) da UFJF vem se consolidando como um ecossistema de inovação voltado para a criação de startups e o desenvolvimento de tecnologias que contribuem para a sustentabilidade e a competitividade da indústria nacional. Também envolvendo alunos e professores do Departamento de Física, o grupo atua há cerca de 20 anos com projetos em parceria com grandes empresas, como Vale, Petrobras e Neoenergia, além de pesquisas nas áreas de física aplicada à indústria, energia, medicina e biologia.
De acordo com o professor José Paulo Furtado, líder do laboratório, o grupo desenvolve soluções inovadoras para problemas reais do setor produtivo. “Trabalhamos com empresas desenvolvendo equipamentos e tecnologias que reduzem custos e impactos ambientais. Criamos protótipos para atender às demandas das empresas e, futuramente, transferi-las para o mercado”, explica.
Um dos projetos é de micro-ondas aplicado à indústria mineral, realizado em parceria com a Vale. A tecnologia reduz o consumo energético e as emissões de gases na produção de pelotas de minério de ferro. Outra frente desenvolve técnicas para retirada de sais minerais e água de derivados de petróleo, melhorando a qualidade dos combustíveis, reduzindo a corrosão dos tanques – esta em colaboração com a Petrobras.
O mestrando Gustavo Rosa, integrante do Programa de Pós-Graduação em Física, participou da etapa de simulações desse projeto. “O processo ajuda a prever comportamentos sem precisar construir máquinas ou gastar recursos com testes”, explica. “Acredito que nosso trabalho tem impacto direto na sociedade, tanto ao fortalecer a indústria nacional, quanto para mostrar que o Brasil tem cientistas capazes de desenvolver tecnologias de ponta.”
Para o técnico em Eletroeletrônica do Instituto de Ciências Exatas (ICE), Tadeu Guedes, a presença de profissionais técnicos nos projetos de pesquisa reforça o papel estratégico na busca por soluções práticas. “Esse estreitamento de atividades com a indústria, tanto de transformação quanto de serviços, mostra o potencial que temos de apresentar soluções aos mais diversos tipos de dificuldades encontradas no dia a dia das atividades industriais”, destaca.
Integrante do LabFapli e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Física, Matheus Salomão ressalta que os projetos do grupo fortalecem a inserção da UFJF em redes de inovação e ampliam as oportunidades de desenvolvimento acadêmico. “Projetos como este evidenciam cada vez mais a multiplicidade de oportunidades concedidas aos estudantes e pesquisadores para desenvolver-se e inovar em uma universidade pública e diversa”, afirma.
Compostos multialvos para a terapia do Alzheimer

Nádia Raposo e Mauro Vieira orientaram a pesquisa de Adriana Garcia para o desenvolvimento de moléculas para auxiliar no tratamento de Alzheimer. (Foto: Twin Alvarenga)
Com uma proposta multidisciplinar, envolvendo diferentes áreas, a tese de doutorado da Adriana Garcia desenvolveu moléculas híbridas capazes de agir simultaneamente sobre dois alvos da doença de Alzheimer. Com título “Compostos multialvos para a terapia do Alzheimer: testes in vitro e in vivo em modelos animais não convencionais”, o estudo é vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Saúde (PPG-Saúde) da Faculdade de Medicina.
Nádia Raposo da Faculdade de Farmácia e orientadora do estudo, explica que pesquisa tem início com a síntese de compostos químicos até os testes in vitro, onde é avaliada a interação das moléculas com a enzima acetilcolinesterase, alvo de três dos medicamentos atualmente disponíveis para o tratamento do Alzheimer.
Após essa etapa, a molécula mais promissora passa por testes in vivo, que, neste caso, realizada em parceria com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), utilizando o modelo C. elegans. Este modelo, de acordo com o coorientador do trabalho, Mauro Vieira de Almeida, do Departamento de Química da UFJF, utiliza um organismo não senciente, ou seja, que não possui a capacidade de sentir ou ter experiências subjetivas, permitindo reduzir o uso de animais de laboratório.

Adriana também é Técnica-Administrativa em Educação no Departamento de Química da UFJF desde 2010. (Foto: Twin Alvarenga)
“A proposta é criar uma molécula híbrida capaz de agir sobre os dois alvos dos medicamentos existentes, simplificando o tratamento do paciente com Alzheimer, que muitas vezes tem dificuldade em tomar vários remédios ao dia”, explica Adriana. “Nossos resultados mostraram ação positiva sobre ambos os alvos, o que abre caminhos para novos estudos e colaborações futuras.”
Além do avanço científico, o projeto reforça a importância da integração entre diferentes áreas do conhecimento dentro da própria UFJF. “Esse é um exemplo claro de como a interdisciplinaridade fortalece a ciência”, afirma Nádia Raposo, coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Inovação em Ciências da Saúde (NUPICS). “O trabalho da Adriana também simboliza o incentivo às mulheres cientistas, com dedicação, brilho nos olhos e capacidade de unir múltiplas áreas para produzir conhecimento. Essa colaboração interna mostra a riqueza dos nossos programas de pós-graduação e o potencial de crescimento conjunto da instituição.”
Para o coorientador, o estudo traz uma contribuição essencial para a química medicinal. “Trabalhamos na preparação das substâncias com potencial atividade anti-Alzheimer. É uma pesquisa preliminar, mas que amplia o horizonte na busca por novas moléculas capazes de tratar a doença”, ressalta.
A pesquisa já se destaca pela originalidade e pelo potencial de impacto social e científico. “Mostramos que essas moléculas pequenas podem ser exploradas pela indústria farmacêutica como potenciais alvos terapêuticos”, conclui Adriana. “É um processo longo, mas que representa um passo importante para o avanço da ciência brasileira no enfrentamento do Alzheimer.
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