
Embora destinado aos servidores do campus, o curso também contou com a participação do público externo. (Imagem: Aloizio Coelho)
Servidores do campus Governador Valadares da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-GV) que já atuam ou que tenham interesse em atuar como avaliadores nos processos de heteroidentificação da instituição participaram, nas últimas quarta (9) e quinta-feiras (10), de um curso promovido pela Diretoria de Ações Afirmativas (Diaaf) em parceria com a Superintendência Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Acessibilidade (Sgaada) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O objetivo da capacitação foi preparar os integrantes das bancas para a avaliação de candidatos negros que participam como cotistas dos processos seletivos para ingresso no campus, seja como estudantes ou como servidores.

Para a diretora da Diaaf, a formação das comissões de heteroidentificação precisa ser contínua. (Imagem: Aloizio Coelho)
A diretora da Diaaf, Danielle Teles da Cruz, enfatiza que “é fundamental ter uma formação voltada para esses heteroidentificadores para garantir que a política seja, de fato, efetiva e que garanta que as pessoas que façam jus a ela ocupem as vagas”. E devido à complexidade do processo, a diretora defende que a formação dos avaliadores precisa ser permanente. “O parecer de avaliação da banca é de natureza técnica, não é uma opinião do senso comum. E por ser algo técnico e que envolve estudos no campo das relações étnico-raciais, que é complexo, é necessário que a gente tenha uma formação continuada, porque a formação continuada e o exercício dessa prática é fundamental para qualificar os nossos processos”, reforça Teles.

Denise Góes, da UFRJ, destaca a importância de compartilhar experiências exitosas, como a da federal do Rio de Janeiro. (Imagem: Aloizio Coelho)
O curso foi ministrado por Denise Góes e Cecília Maria Izidoro Pinto, servidoras da UFRJ à frente da Sgaada. Góes destaca a necessidade de “democratizar as experiências assertivas”, como é o caso da federal do Rio de Janeiro, pioneira em políticas cotistas. “Enquanto servidora da maior federal da América Latina, que viveu intensamente um processo de implementação das políticas de cotas, a gente quer dividir essa experiência com as pessoas, trazendo a possibilidade da realização, de dizer que é possível fazer um trabalho interno e externo, divulgando a política pública e fazendo com que as pessoas sejam detentoras desse conhecimento de que a política pública não é excludente, ela é inclusiva e de carta marcada para a população negra, que sempre foi excluída nesse país”, enfatiza a superintendente-geral da Sgaada.

Cecília Pinto, da UFRJ, também ministrou o curso. (Imagem: Aloizio Coelho)
Cecília Pinto, superintendente-adjunta da Sgaada, também destaca os ganhos da parceria entre UFRJ e UFJF. “A maior importância é o enfrentamento ao racismo estrutural, institucional. A nossa experiência, o volume de atuações e de heteoridentificações que a gente faz, desde 2020, nas graduações e, desde 2016, nos concursos mostra que temos condições de dialogar com nossas coirmãs, com outras universidades”.

A servidora Ana Maria, da UFJF-GV, participou do curso. (Imagem: Aloizio Coelho)
Ana Maria dos Santos Moreira é servidora da UFJF-GV e está se preparando para integrar comissões de heteroidentificação. Ela conta que o curso abriu a sua mente. “Às vezes, a gente tem muitas dúvidas sobre a questão, principalmente em relação ao pardo. Isso abre a mente da gente, nos ajuda a ter uma visão diferente a partir de agora. Eu achei essencial. E é um curso que tem que ser feito várias vezes, porque é uma formação contínua. É o dia a dia que a gente vai melhorando esse olhar, aprimorando, lendo muito, entendendo realmente a questão”.

A comunidade externa também participou da capacitação. É o caso da professora Fernanda Cristina, da Univale. (Imagem: Aloizio Coelho)
Pessoas de fora da UFJF também participaram da atividade, como Fernanda Cristina de Paula, professora da Universidade do Vale do Rio Doce (Univale). Na avaliação da docente, que também é integrante do Coletivo Abayomi, os benefícios da capacitação vão além da formação para atuação nas bancas, ela mantém aceso o debate sobre as questões étnico-raciais. “A política de acesso das pessoas negras à universidade é muito importante, mas é uma das políticas mais envoltas em desinformação, contrariedade e debate. Mesmo que ela esteja estabelecida há muito tempo, ainda assim ela é alvo de ataques. Então, esse curso é muito importante para nós, professores e servidores, para construir essas bancas que viabilizam essa política de acessibilidade. E ele vai além de ajudar apenas nas bancas de heteroidentificação, porque na medida em que ele exige que a gente desenvolva uma leitura racial, dos problemas que o racismo causa na sociedade, ele tem extrapolado a discussão só da universidade, ajuda a gente a se posicionar, a pensar as relações raciais que marcam o cotidiano das pessoas que resultam em um conjunto de questões negativas, entre elas o não acesso à universidade”.
A Diretoria de Ações Afirmativas da UFJF está com outro curso aberto. As aulas de “Formação e atualização para atuação em bancas de heteroidentificação” começaram em 1º de julho, mas ainda é possível participar. Mais informações no site da Diaaf.
