Uma nova equipe de gestão, com grandes desafios e expectativas pela frente. A Administração Superior da UFJF tem uma nova estrutura, proposta pelo reitor Júlio Chebli e pelo vice Marcos Chein e aprovada pelo Conselho Superior. Um grupo de professores e técnico-administrativos em educação assume novas missões, à frente de pró-reitorias, diretorias e secretarias. A equipe de Comunicação da UFJF conversou com os novos gestores e apresenta uma série de entrevistas sobre seus planos e principais temas relacionados à sua área. Começamos assim a compartilhar, de forma transparente, com toda a comunidade universitária o que pensa e como pretende atuar a equipe do novo reitorado. É também uma oportunidade de conhecer melhor os temas e atribuições que se relacionam com cada setor. A cada semana duas entrevistas serão publicadas. A série começa com o vice-reitor Marcos Chein, professor da Faculdade de Direito. Confira.
Qual será seu papel na vice-reitoria, a que setores estará mais ligado?
Meu principal papel é da perspectiva de vice-reitor que não apenas substitui o reitor nos momentos de falta. Mas de um vice disposto a trabalhar junto. A ideia inicial, desde quando nós, Júlio (Chebli, reitor) e eu, nos comprometemos com essa administração é de que trabalharíamos cooperativamente. Isso é uma questão muito interessante porque o Júlio de alguma forma deixou bem claro que (o vice-reitor) não estaria ligado a uma área específica, seja acadêmica, de planejamento ou mesmo jurídica, porque venho dessa área. Trabalharíamos cooperativamente. Esse talvez seja o grande diferencial. Não acredito que tenhamos que dividir tarefas de forma tão marcada, mas sim que tenhamos que discutir, trabalhar juntos, um colaborando com o outro, que têm capacidades e competências diferentes e que vão se ajudando mutuamente. Vou estar em respeito às decisões finais do reitor, porque vou estar com ele, acreditar no papel dele, em suas decisões, porque sou parte delas, e, por causa disso, a gente vai fazendo uma nova administração.
Você falou em marcas diferenciais. Quais são outras marcas que irão diferenciar a gestão de uma chapa eleita em prol da continuidade? Quais são alguns dos objetivos dela?
Nos últimos 20 anos ou até mais, todos os nossos ex-reitores, de algum modo, enveredaram-se pela política. Esse é o primeiro diferencial: a gente não vai. Ponto. Vamos usar tudo dessa história escrita, dos benefícios trazidos por todos esses reitores, nos últimos anos, e tentar potencializar o que foi angariado em termos políticos, econômicos, de estrutura. A segunda questão muito importante é a da inovação nos procedimentos, nos processos. Não é trazer apenas a eficiência para o procedimento administrativo, mas transparência, publicidade, para que a comunidade universitária saiba o que estamos fazendo, por que e para quê. Em terceiro lugar, é a inovação acadêmica, no ensino, na pesquisa e na extensão. Para isso, vamos começar um grande debate sobre o tipo de universidade que queremos, que pretendemos construir como comunidade. Para que a gente faça isso, tem uma série de ações. Uma das primeiras é o seminário Tropicus Mundi, que vai ter esse papel de começar a discutir, a pensar a Universidade de modo mais de vanguarda, contemporâneo, e não ainda presa às amarras e às constrições de uma educação ainda baseada na reprodução [de conteúdo] e pouco aberta às formas, à criatividade, aos processos. Devemos acabar um pouco com a ditadura do produtivismo, do conteúdo. Inovar a educação significa aumentar a possibilidade de criatividade no ensino. E como aumentá-la se hoje estamos preocupados com as demandas de mercado, profissionais, produtivistas? Romper com (esse paradigma) não significa dizer que ele não vale nada, mas fazer o melhor para que aconteça de forma mais suave na vida do acadêmico. O docente pode levar para sala de aula o que potencializa as habilidades e as competências do estudante e não apenas a capacidade cognitiva (do aluno) – de retenção e compreensão de conteúdo, de leitura. Tem que ir além desse processo. Tem que desenvolver três competências, para mim, fundamentais: cognição, reflexão e afetividade. Para isso, é preciso ter paciência, coragem e perseverança.
O senhor falou de uma mudança administrativa. O que é essa reestruturação e com que objetivo ela foi feita?
A reestruturação acontece através de três parâmetros básicos: órgãos de assessoramento, de execução e de execução transversal. Cada diretoria, pró-reitoria, é classificada em uma dessas estruturas. O objetivo inicial foi justamente de tentar racionalizar tanto recursos humanos quanto financeiros. De fato, tínhamos ideia inicial de enxugar ainda mais essa estrutura. Mas percebemos que a Universidade cresceu muito, há uma demanda muito reprimida. Então tivemos que crescer e aumentar determinadas pró-reitorias, como a de Infraestrutura, dividida em duas para poder dar conta do amontoado de serviços e funções que originariamente tinha. Estamos, nessas semanas, construindo portarias, nas quais estabelecemos funções para que as pessoas tenham a exata dimensão sobre o que serve tal pró-reitoria, suas atribuições. A ideia é publicizar [essas informações], tornar mais transparente para a comunidade como um todo.
Essa mudança está relacionada ao plano de desenvolvimento institucional?
O plano é outra questão que exige cuidado maior. Nesse momento inicial, estamos no processo de compreensão da máquina, da estrutura da Universidade. Queremos encontrar um mecanismo de diagnóstico – o que temos, quais são os problemas. A partir disso, construir metas a serem alcançadas ao longo dos quatro anos. Nosso caminho é elaborar um esboço a partir de demandas da própria Universidade. E, a partir daí, discutir o plano, abri-lo ao debate, em fóruns públicos, para que se possa ter um PDI que não seja apenas vontade da administração central, mas resultado de todo um debate na comunidade universitária.
E a respeito da revisão do estatuto e do regimento da Universidade?
Essa é uma promessa de campanha, porque achamos que mais que fazer um plano de desenvolvimento, um choque de gestão, é preciso também rever as estruturas jurídicas na Universidade. A ideia é trazer o estatuto para a vivência das pessoas. Para que a gente possa reformá-lo de forma efetiva, integrada à nossa vida na universidade, é preciso que se comece a discuti-lo agora. Esse debate sobre a universidade que queremos construir tem que começar antes de se abrir o da estatuinte. É chamar à discussão todas as ciências, mas a partir do olhar das humanidades, com o olhar do humano, que são as pessoas que compõem a universidade, e não o da tecnocracia, da burocratização. Se quisermos novos estatuto e regimento que sejam, de fato, eficazes na nossa comunidade, temos que sensibilizá-la. Este é o nosso primeiro passo nos primeiros seis meses de mandato: sensibilizar a comunidade acadêmica para o humano, para o que realmente importa na universidade, que são as pessoas. Enquanto a gente não perceber que a educação está ligada ao humano, à construção das identidades, de pessoas que pensam diferente, têm projetos diferentes, mas fazem parte de uma mesma comunidade, a gente vai continuar cometendo os mesmos erros. É trazer valores para o debate do estatuto, do regimento, porque não adianta ir com valores tão objetivos, com essa coisificação e objetificação, se a gente não perceber que existe o sujeito no centro desse debate.
Um dos temas abordados na campanha foi a democratização ou transparência das ações. De que forma essa nova gestão pretende implementá-la e como o senhor pode colaborar com isso?
É (o cidadão) ter clareza de quais são os procedimentos, os caminhos que deve seguir na administração pública para conseguir um determinado direito. Por exemplo, a quem se deve recorrer em determinadas ações? Estamos elaborando uma série de portarias, nas quais estabeleceremos as funções e atribuições de pró-reitores, diretores, vamos publicizá-las para toda a comunidade acadêmica. Isso para que ela saiba como se organiza essa estrutura administrativa, como ela vai atendê-la e a quem deve recorrer até para que não se perca no emaranhado burocrático. Aí também vem o processo de desburocratização, a partir do momento em que esses procedimentos vão se tornando mais claros, mais transparentes. A burocracia surge, de algum modo, para atravancar a solução de problemas, porque, se algo não pode ser decidido e ninguém quer dizer “não” imediatamente, então se cria um processo burocrático em que o cidadão vai ao pró-reitor, depois volta ao coordenador, pró-reitor, chefe de secretaria… Não vai ser resolvido porque ninguém teve coragem de dizer não. É importante dizer não: “dentro das regras, do que se estabeleceu, das prioridades, não é possível…”. Quando não se decide algo na administração pública, aquilo se torna um câncer, vai criando um mal-estar, contaminando não só quem não teve o problema resolvido, mas também os que tiveram conhecimento do fato. A ideia de se estabelecer procedimentos claros, de se ter transparência, não é somente de publicizar, é de informar essas pessoas. Ou seja, a gente quer aumentar esse canal de informação. Assim, nossa outra ação muito importante é na Diretoria de Comunicação, que não é o lugar só para publicizar feitos ou realizações da Administração. É também para potencializar essa comunicação interna, entre órgãos, unidades acadêmicas, para conhecer o que está acontecendo na universidade. Há muita coisa boa sendo feita, muitos pesquisadores publicando em congressos internacionais, em revistas de alto impacto, desenvolvendo produtos patenteados. Mas isso é pouco difundido. Tem que ser em maior escala, não é só com uma notícia no portal. É em escala para se reconhecer os valores que estão escondidos dentro de um laboratório, de um setor, que têm de ser expostos não só para a comunidade externa, mas principalmente para a interna, para que possa desenvolver, cada vez mais, um sentimento de valor próprio.
A última gestão conseguiu mais de R$ 1 bilhão em recursos para a Universidade. Como essa nova gestão lida com isso. Há um desejo de superar essa cifra ou de lidar de forma diferente com isso?
A partir de tanta coisa que eu e o Júlio compartilhamos, posso responder com firmeza que não estamos preocupados em superar cifras, mas com o “humano” na Universidade. Nosso objetivo agora não é superar os feitos, as realizações passadas, é construir as formas pelas quais a gente vai viver de forma mais plena, intensa, humana, essa nova universidade, ainda que a gente tenha menos dinheiro, investimentos, obras. Nosso objetivo é ter mais gente satisfeita, feliz, sentindo-se à vontade no local de trabalho, vivendo a Universidade de forma mais plena, intensa e melhor.
E isso envolve?
Envolve uma mudança de mentalidade. Ela já está começando a acontecer pontualmente em uma unidade, em um departamento. Nosso papel é replicar essa mudança de mentalidade na Universidade como um todo. De dizer assim: “Olha, você, professor, tem que ter um local de trabalho que acolha seus objetivos, seus interesses por mais diversos que eles sejam”. Mas tem que ter respeito e limite à liberdade de cada um, porque, se não houver, em um determinado momento prejudica o outro. É um processo pedagógico. A grande mudança que a gente pode fazer na Universidade – pulsante como esta, com obras, uma série de investimentos – é a mudança pedagógica, de pensar a educação no seu sentido mais amplo. Não é a educação como graduação, mas pensar o ensino, a pesquisa, a extensão, ou seja, a educação para a vida. O que significa eu ser professor em uma universidade, ser técnico, ser estudante? Qual o sentido para a vida, para a minha e para a comunidade? Hoje temos uma pluralidade de pessoas na Universidade que precisa estar acolhida, como parte dessa comunidade. Este é o grande desafio, essa mudança de mentalidade. É uma virada, para mim, pedagógica, que é mostrar que somos passageiros. E a instituição fica. Então, temos que institucionalizar, cada vez mais, as práticas, as condutas, para que as pessoas tenham o mínimo de segurança, de respeito e de civilidade na Universidade.
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