Mulheres ainda recebem, em média, 21% a menos que os homens no setor privado, diante deste fato, é preciso entender o fenômeno e propor ações para igualdade de oportunidades e trabalho digno. Os dados são do Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que registra uma remuneração média feminina de 3.908,76 reais, enquanto a dos homens chega a 4.958,43 reais. O relatório mostra uma diferença que vai além dos números e revela desafios históricos relacionados a gênero, raça e classe social.
Em busca de transformação, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) reforça seu papel na promoção da inclusão, da equidade e do desenvolvimento sustentável. Com o tema do Pism 2026 “Um mundo melhor é possível”, reunimos algumas iniciativas institucionais que visam o crescimento econômico com justiça social, em sintonia com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 5 (Igualdade de gênero), 8 (Trabalho decente e crescimento econômico) e 10 (Redução das desigualdades) da Organização das Nações Unidas (ONU).
Do incentivo à presença feminina nas ciências exatas e na tecnologia ao fortalecimento do empreendedorismo e da justiça social, confira projetos que mostram como a Universidade produz conhecimento e transforma em ação, construindo, desde já, um futuro mais justo.
A diretora de Ações Afirmativas da UFJF, Danielle Teles, destaca o compromisso da UFJF com a equidade, envolvendo tanto o fortalecimento das políticas afirmativas, quanto a construção de uma cultura institucional que valorize a diversidade. A Diretoria de Ações Afirmativas (Diaaf) atua com campanhas educativas, formações, semanas temáticas e projetos culturais, além de articular ações com movimentos sociais e acompanhamento das políticas de inclusão e prevenção às violências. “Trabalhamos para construir uma cultura interna que valoriza a diferença, não só como obrigação legal, mas como parte da missão universitária”, afirma.
Gerente de Empreendedorismo do Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (Critt), Débora Marques destaca como a instituição trabalha para fortalecer a presença feminina no ecossistema de inovação visando enfrentar desigualdades históricas. Iniciativas como o Adas Tech oferecem capacitação e mentorias para apoiar mulheres na criação e no desenvolvimento de negócios em tecnologia. “Empreender é também um caminho de emancipação. Quando as mulheres acessam conhecimento, redes e oportunidades, elas ampliam seu protagonismo e transformam seus territórios”, completa.
Trabalho, Direito e Justiça

Emanuelly Marques, orientada por Karen Artur, da Faculdade de Direito, pesquisa sobre condições dignas de trabalho no Brasil. (Foto: Twin Alvarenga)
As transformações aceleradas do mercado de trabalho, como a intensificação das jornadas, a cobrança por produtividade e a invasão do espaço pessoal pelo uso das tecnologias, colocam em evidência desafios que vão muito além das relações formais de emprego. É nesse cenário que atua o Grupo de Trabalho, Direito e Justiça (TRADJUST), coordenado pela professora Karen Artur, na Faculdade de Direito. O grupo investiga as condições contemporâneas de trabalho e os seus impactos na dignidade humana.

“Transformar a prevenção em uma cultura coletiva fortalece a luta dos trabalhadores”, Emanuelly Marques. (Foto: Twin Alvarenga)
Para Emanuelly Marques, bolsista do Grupo e estudante de Direito, a pesquisa dialoga diretamente com as demandas da sociedade. “O trabalho decente não é apenas um objetivo, mas um motor para que o desenvolvimento alcance sua totalidade. Ele se sustenta em quatro pilares: o fomento ao emprego, a garantia irrestrita dos direitos laborais, a proteção social e o diálogo social robusto”, explica.
O grupo de pesquisa defende a participação ativa dos trabalhadores nas decisões que envolvem sua própria proteção, seja por meio dos sindicatos, seja por meio de Comissões Internas de Prevenção de Acidentes e Assédio (CIPAs). “Transformar a prevenção em uma cultura coletiva fortalece a luta dos trabalhadores”, destaca Emanuelly. Além disso, a atuação do TRADJUST se articula com recomendações internacionais, como as da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e as diretrizes europeias sobre prevenção ao estresse ocupacional.
Segundo a pesquisadora Karen, o grupo cumpre um papel estratégico ao integrar pesquisa, formação crítica e impacto social. “Participamos de redes nacionais importantes, como a Rede Nacional de Pesquisas e Estudos em Direito do Trabalho e da Seguridade Social e a Rede de Estudos e Monitoramento da Reforma Trabalhista, que discutem como garantir condições dignas de trabalho no Brasil. Produzir conhecimento nesse campo significa contribuir com respostas institucionais às novas demandas de proteção”, afirma.
Mulheres na Nanociência
Se a presença feminina nas áreas de ciência e tecnologia ainda é marcada por barreiras históricas, o projeto Rede Mulheres na Nanociência mostra que transformar esse cenário é possível. Atuando em parceria com mais de 15 instituições de pesquisa e ensino em todo o país, a rede reúne mais de 70 pesquisadoras, estudantes e educadoras comprometidas em ampliar o acesso de meninas e mulheres no universo da nanotecnologia, da inovação científica e das carreiras de exatas como um todo.

A pesquisadora Zélia Ludwig (direita), coordenadora de Núcleo da Rede Nacional de Mulheres na Nanociência, ao lado da estudante de graduação e bolsista do projeto Kamily Bonavita Dias. (Foto: Twin Alvarenga)
Coordenado pela pesquisadora Zélia Ludwig, do Departamento de Física, a UFJF integra o núcleo Manacás, da região Sudeste. Ela explica que o projeto nasceu do trabalho coletivo de pesquisadoras que, em diferentes estados, já atuavam para aproximar meninas da ciência. “A ideia é criar um ambiente dentro da universidade que incentive a presença, a permanência e a ascensão dessas meninas. Muitas vezes elas sentem a academia como um espaço hostil, como se não fosse para elas. Quando estão em rede, conhecem novos lugares, participam de projetos, fazem experimentos com crianças. Uma apoia a outra e isso é o mais importante”, destaca a docente.
A Rede atua de forma contínua e colaborativa, promovendo desde a criação de materiais didáticos e cursos de formação até atividades práticas em laboratórios, mentorias e eventos científicos. É um conjunto de ações que aproxima meninas da ciência desde a educação básica e acompanha seu percurso até a universidade. Ao mesmo tempo, a iniciativa trabalha para evitar a evasão feminina nas áreas de exatas, garantindo que jovens pesquisadoras encontrem apoio, orientação e oportunidades reais para permanecer na carreira e assumir cargos de liderança. Para Kamily Bonavita participar de projetos como esse significa agir ativamente no combate às desigualdades de gênero nas áreas de STEAM. “Aproximar estudantes da graduação e pesquisadoras com meninas do ensino básico é ilustrativo, pois demonstra que existe futuro para elas nessas áreas, e que elas podem chegar aonde quiserem. Projetos como esse despertam esperança de que um futuro melhor pode ser construído por meio de estudo, o que é desconhecido para muitas estudantes”.
Segundo Zélia, esse fortalecimento coletivo determina a ampliação da representatividade nas decisões que orientam o futuro da ciência. “Colocar mais mulheres em espaços de poder é essencial. São elas que vão construir editais, direcionar investimentos e criar condições para que outras meninas também cheguem. Mostrar que esse espaço é possível e é para elas, faz toda diferença”, afirma.
Meninas Digitais

Os projetos mantêm bolsistas exclusivamente do sexo feminino que servem de inspiração e incentivo. (Foto: Carolina de Paula)
A presença feminina nas áreas de Computação e Tecnologia ainda é desigual no Brasil, mas iniciativas da UFJF mostram que essa realidade está mudando. No Departamento de Ciência Computação, três projetos coordenados por pesquisadoras formam uma rede de apoio e aprendizagem que incentiva meninas e mulheres a descobrirem seu potencial nas áreas de Exatas, Engenharia e Informática. Juntos, Meninas Digitais UFJF, Meninas no Mundo Digital e Meninas Programadoras JF criam oportunidades de acesso ao ensino para quem sonha seguir carreira na tecnologia.
O Meninas Digitais UFJF, criado em 2022, desenvolve oficinas de Pensamento Computacional voltadas para crianças e adolescentes a partir de oito anos. A proposta utiliza a metodologia de Computação Desplugada, permitindo que as atividades aconteçam em salas de aula sem computadores, com jogos de tabuleiro, cubos mágicos e brincadeiras para ensinar ideais fundamentais de algoritmos e lógica. “Os projetos compostos exclusivamente por mulheres nas áreas de computação, exatas e engenharias ainda são necessários para reforçar o senso de comunidade e pertencimento das estudantes de graduação além de oferecer representatividade para as estudantes de ensino fundamental e médio, para que possam visualizar a si mesmas no futuro dentro da Universidade”, reflete Barbara Quintela, do departamento de Ciência da Computação (DCC/UFJF) e coordenadora do projeto Meninas Digitais UFJF.

“A representatividade importa, porque ao ver mulheres e pessoas negras ensinando computação, isso muda como elas enxergam o futuro”, Geisielen Gomes. (Foto: Carolina de Paula)
A estudante Geisielen Gomes, do curso de Estatística, conta que participar do Meninas Digitais tem sido uma experiência transformadora. “Sempre desejei que crianças da mesma realidade que a minha tivessem acesso à tecnologia. No projeto, aprendi a comunicar melhor minhas habilidades e a mostrar para as meninas que elas também podem escolher esse caminho. A representatividade importa, porque ao ver mulheres e pessoas negras ensinando computação, isso muda como elas enxergam o futuro”.
Já o projeto Meninas no Mundo Digital atua diretamente em escolas públicas da região, oferecendo treinamento em lógica e programação para alunas do Ensino Fundamental e Médio que desejam participar da Olimpíada Brasileira de Informática (OBI). As estudantes que participam do projeto recebem bolsas de Iniciação Científica Júnior, o que reforça a permanência delas na universidade. “Foi esse projeto que me fez ter certeza de que quero trabalhar com educação básica”, conta a aluna de Matemática Eduarda Martins. “Hoje, no 4º período, vou representar o projeto em um congresso nacional, algo que eu nunca imaginei tão cedo”, ressalta.
Completando a rede, o Meninas Programadoras JF, parceria com a USP, oferece cursos de programação em Python para calouras e meninas que estão concluindo o Ensino Médio. As monitoras, bolsistas e voluntárias, acompanham as estudantes em atividades presenciais e online, ajudando a desenvolver habilidades técnicas iniciais para ingresso na Computação e Engenharias. Para a aluna de Sistemas de Informação Eduarda Camiato, a experiência amplia não apenas o conhecimento técnico, mas também a forma de enxergar a área. “É muito inovador ver o pensamento computacional fora da tela. Levar isso para crianças que nunca tiveram contato com computadores é inspirador.”
Unidos, os três projetos são reconhecidos e apoiados pelo programa nacional Meninas Digitais, da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), e formam uma comunidade ativa que incentiva a permanência, a formação técnica e a autoconfiança de meninas na tecnologia.
Leia mais:
Consumo responsável e preservação da vida terrestre
Inovação e internacionalização: um mundo melhor requer sustentabilidade
UFJF construindo o amanhã: saúde e bem-estar, saneamento básico e educação
Energia limpa e cidades sustentáveis: iniciativas da UFJF transformam realidades
Comprovante de inscrição definitivo do Pism 2026 já está disponível
Acompanhe as redes sociais da UFJF
Facebook: UFJFoficial
Instagram: @ufjf
Twitter: @ufjf_
Youtube: TVUFJF
TikTok: @ufjf_oficial

