
Atendimento no Ambulatório de Diabetes do HU-UFJF/Ebserh, com as endocrinologistas Mariana Ferreira (ao centro) e Danielle Guedes (à esquerda). Foto: Comunicação HU-UFJF/Ebserh
Resultado da má absorção ou produção insuficiente de insulina, o Diabetes Mellitus é uma doença crônica que atinge mais de meio bilhão de pessoas no mundo, de acordo com a Federação Internacional de Diabetes (IDF). No Brasil, existem mais de 16 milhões de pessoas diagnosticadas, e a taxa de prevalência na população entre 20 e 79 anos é de 10,7%. Ainda assim, falta conhecimento sobre como fazer o tratamento correto.
Com o objetivo de promover a educação alimentar, autonomia do paciente e auxiliar no controle da doença, dois pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) desenvolveram cartilhas voltadas para os portadores de diabetes, cuidadores e profissionais de saúde. Os materiais podem ser baixados gratuitamente, e foram elaborados de forma independente como resultado de duas teses de doutorado defendidas recentemente na instituição.
O diabetes é, ainda, uma das principais causas de doença renal crônica e a principal causa de cegueira e amputações, por isso estudos clínicos e ações educativas são essenciais e transformadores dessa realidade. Confira abaixo nas reportagens.
“Diabetes e Alimentação: Guia para Escolhas Saudáveis e Auxílio no Tratamento”

Cartilha foi elaborada por Iury Antônio de Souza, Giovana Caetano de Araújo Laguardia e Fábio da Costa Carbogim (Foto: arquivo pessoal)
Com o objetivo de promover a educação alimentar e auxiliar no controle do Diabetes Mellitus tipo 2, foi lançada a cartilha “Diabetes e Alimentação: Guia para Escolhas Saudáveis e Auxílio no Tratamento”, elaborada por Iury Antônio de Souza, Giovana Caetano de Araújo Laguardia e Fábio da Costa Carbogim.
A publicação é uma iniciativa do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e parceria com a Secretaria de Saúde de Juiz de Fora.
O material faz parte do doutorado de Iury, que avalia a efetividade de uma intervenção educativa em duas unidades básicas de saúde da cidade. Durante a execução do projeto, a equipe identificou a necessidade de criar um material que reunisse orientações práticas sobre alimentação e pudesse ser consultado tanto pelos pacientes quanto por profissionais da saúde.
A cartilha apresenta informações sobre o que é a diabetes, seus tipos e complicações, além de orientações sobre escolhas alimentares saudáveis, leitura de rótulos, controle da glicemia e consumo adequado de diferentes componentes alimentares. O conteúdo se baseia nas diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes e no Guia Alimentar para a População Brasileira.
O pesquisador destaca que a cartilha foi pensada para facilitar a compreensão e aplicação das orientações alimentares no cotidiano dos usuários. “O material permite que as pessoas consultem as informações sempre que precisarem e até repliquem as orientações em casa, no trabalho ou em outros ambientes. É uma ferramenta educativa que contribui tanto para o tratamento quanto para a prevenção”, afirma.
Para Iury, a importância da iniciativa está no fortalecimento do conhecimento e da autonomia dos pacientes. “Educação alimentar e nutricional é um dos pilares do manejo do diabetes tipo 2. Quando o paciente entende a relação entre o que come e o funcionamento do seu corpo, ele passa a fazer escolhas mais conscientes e adequadas, o que impacta diretamente na qualidade de vida”, conclui.
O material físico já foi distribuído e utilizado com um grupo de participantes envolvidos no ensaio clínico randomizado e está disponível gratuitamente para leitura pelo link.
“Vivendo e aprendendo com o diabetes mellitus”
A obra é fruto de uma tese de doutorado defendida no Programa de Pós-Graduação em Saúde da UFJF e foi desenvolvida junto aos pacientes do Hospital Universitário (HU-UFJF). Entre os assuntos abordados estão: cuidados com alimentação, medicamentos, complicações, hábitos de vida e a importância do autocuidado e autonomia do paciente.

O superintendente do HU-UFJF, José Otávio Corrêa, Mariana Ferreira e a coorientadora Danielle Ezequiel
A pesquisa de autoria da médica endocrinologista Mariana Ferreira foi realizada a partir de grupos de trabalho com pacientes no Ambulatório de Diabetes do Serviço de Endocrinologia do HU. “Esses grupos foram criados para poder observar e avaliar o tratamento recebido, através de uma pesquisa qualitativa”, explica a profissional.
Cerca de 30 pacientes participaram dessa dinâmica, que contou com seis encontros e discutiu temas relacionados à alimentação, ao tratamento medicamentoso e a outras dificuldades enfrentadas pelos pacientes que convivem com diabetes. A médica conta o processo por trás da elaboração da obra: “A partir desses encontros, criamos um material que é muito diferente do tradicional. Construímos uma história, em forma de diálogo paciente/médico, para envolver mais os leitores, com uma linguagem simples e atraente visualmente, explicando as principais dúvidas dos diabéticos”.
O objetivo por trás da criação da cartilha é tornar mais acessíveis informações importantes relacionadas ao diabetes, e que são dúvidas dos próprios pacientes, como o diabetes emocional, acrescenta Mariana. Então, através dessas informações em saúde, os pacientes podem, consequentemente, aderir melhor aos tratamentos, com níveis adequados de glicose, mantendo o diabetes mais controlado e, assim, tendo uma melhor qualidade de vida.
O material passou pela avaliação de diversos profissionais de saúde do país, como endocrinologistas, nutricionistas e enfermeiros. Foram feitas sugestões, e grande parte delas foi aceita, colaborando para o aperfeiçoamento do conteúdo. O trabalho contou, ainda, com o auxílio de duas empresas juniores de universidades públicas federais, que participaram na criação da arte e na diagramação, de professores da área de Comunicação, Letras e Artes.
Após a finalização, a obra foi entregue a pacientes, que relataram ter gostado e se identificado com o conteúdo. “Na cartilha, tem um momento da história em que a paciente desiste do tratamento, mas depois retoma. Isso mexeu com os pacientes, que muitas vezes têm esses momentos de cansaço em relação à terapia e depois continuam”, relata a autora.
A cartilha também pode ser um material de suporte para a equipe multidisciplinar, estimulando o cuidado humanizado, com especial atenção à linguagem e a uma abordagem holística e livre de estigmas, afirma o superintendente do HU e orientador da pesquisa, José Otávio Corrêa. “Divulgar o material para gestores de saúde, para utilização em políticas públicas voltadas à educação e capacitação das equipes de saúde nos diversos níveis de atenção, pode ampliar o apoio social a essa população”, salienta.
O gestor reforça a relevância da obra: “A cartilha é um material certificado, validado por especialistas e produzido com protagonismo dos beneficiários. Ela também pode ser utilizada em salas de espera, após a consulta em unidades básicas de saúde ou atenção secundária, ou para levar conhecimento sobre diabetes para familiares, favorecendo maior entendimento e autonomia sobre a doença”.
Bruno Magalhães da Silva, paciente e agente de combate a endemias, foi uma das pessoas que contribuíram com o conteúdo da cartilha. Ele trata diabetes no HU com a equipe do Serviço de Endocrinologia desde 2017, e há oito anos convive com o diabetes. Bruno participou do processo de validação externa do material, respondendo um questionário sobre a estrutura de linguagem verbal e não verbal. “O que achei interessante nesse material educativo foi a forma didática que aprendi sobre a aplicação de insulina. Sempre aplicava no mesmo local e aprendi que precisa aplicar em outros também. A linguagem estava clara”, opina.
Além disso, o paciente se voluntariou a divulgar a cartilha: “Poderei ajudar a compartilhar o material com os profissionais de saúde pública e com a população, já que o meu ponto de apoio no trabalho é na Unidade Básica de Saúde, local onde fazemos salas de espera com os pacientes que aguardam consulta”, finaliza.
Para a professora e endocrinologista Danielle Ezequiel, coorientadora da pesquisa, “a educação seja o melhor caminho para promoção de saúde, prevenção de doenças crônicas, como o diabetes mellitus. Neste mês de novembro, devemos reforçar a importância da divulgação do conhecimento sobre esta doença tão prevalente e silenciosa”, completa.
