
Com recurso de R$1.861.020,00, projeto de Nícolas Pinto usa a biodiversidade mineira para tratamento de dermatite atópica.
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) divulga o último resultado parcial da chamada 01/2025 – Demanda Universal. Entre os projetos selecionados, 13 são de pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que receberão, ao todo, um investimento de mais de R$3.750.000,00.
O objetivo do Edital é estimular a pluralidade e a diversidade da pesquisa científica e tecnológica, nas diversas áreas do conhecimento, sendo a iniciativa mais abrangente ofertada pela Fapemig. Em 2025, a Fundação recebeu um número recorde de propostas: 2.583 projetos. A iniciativa também tem o maior recurso já disponibilizado em sua história: R$90 milhões.
Pesquisas aprovadas
O resultado do julgamento foi disponibilizado à medida em que as Câmaras de Avaliação de Projetos concluíam seu trabalho. O primeiro resultado é referente às Câmaras de Agricultura (CAG), de Ciências Exatas e dos Materiais (CEX), de Ciências Sociais Aplicadas (CSA), de Medicina Veterinária e Zootecnia (CVZ) e de Arquitetura e Engenharias (TEC, Nas Categorias A e B). No segundo resultado, foram divulgados os projetos aprovados das Câmaras de Ciências Biológicas e Biotecnologia (CBB), Câmara de Ciências da Saúde (CDS), Câmara de Ciências Humanas, Sociais e Educação (CHE), Câmara de Recursos Naturais, Ciências e Tecnologias Ambientais (CRA) e, por fim, o terceiro resultado parcial de julgamento da Chamada 01/2025 – Demanda Universal – se refere à Câmara Interdisciplinar – Categorias A, B e C. Confira os projetos aprovados da UFJF.

Joana Machado coordena o projeto “Proteção judicial de direitos no contexto regulatório das plataformas digitais: entre liberalismo, ativismo e constitucionalismo digital” (Foto: UFJF/Arquivo)
Abrangendo diversas áreas do conhecimento – direito, medicina, bioquímica, botânica, ecologia, engenharia elétrica e design -, o investimento será utilizado para fortalecer os grupos de pesquisa, os programas de pós-graduação e laboratórios. Para a pró-reitora adjunta de pós-graduação e pesquisa, Isabel Leite, o fomento também estimula a colaboração com outras universidades, empresas e centros de pesquisa. “E ao considerar um pesquisador que está sendo contemplado pela primeira vez, ele está começando a desenvolver sua autonomia científica. Ele está traçando o caminho de um pesquisador independente, cujas propostas são vistas por seus colegas como viáveis e de alta qualidade, especialmente no que diz respeito à pesquisa mineira”, destaca.

Guilherme Márcio Soares foi aprovado com o projeto: Sistema de Localização por Luz Visível de Elevada Acurácia (Foto: Carolina de Paula).
Joana de Souza Machado, da Faculdade de Direito, foi contemplada com o projeto: “Proteção judicial de direitos no contexto regulatório das plataformas digitais: entre liberalismo, ativismo e constitucionalismo digital”. O objetivo é analisar a atuação estratégica do Supremo Tribunal Federal (STF) para superação da etapa do liberalismo digital e construção de um modelo regulatório mais sensível à centralidade constitutiva que as plataformas digitais possuem no cenário político, na intensificação de assimetrias sociais, violências estruturais, como racismo algorítmico, violência de gênero e na disseminação de discursos extremistas. O projeto vai receber um investimento de R$83.941,10. “Esse reconhecimento representa a superação de desafios estruturais, como as desigualdades de gênero e territoriais enfrentadas por pesquisadoras mulheres, mães, e que atuam em instituições do interior. O resultado reforça a relevância da produção crítica na interface entre direito e inovação, contribuindo para o fortalecimento da pesquisa em temas centrais para a democracia e a justiça digital”, comenta Joana.
O professor Guilherme Márcio Soares, do Departamento de Energia Elétrica da UFJF, foi aprovado com o projeto: Sistema de Localização por Luz Visível de Elevada Acurácia. A pesquisa vai desenvolver a segunda fase de um sistema inovador para localizar pessoas, robôs e objetos com alta precisão dentro de edifícios, utilizando a própria iluminação de LED do ambiente como base, diferente do GPS que não funciona bem em locais fechados. De acordo com o pesquisador, o projeto aprovado consolida uma linha de pesquisa que já vem sendo desenvolvida há alguns anos e que já trouxe frutos robustos como um depósito de patente. “Para a UFJF, representa o avanço em soluções tecnológicas nacionais, elevando a visibilidade da Universidade no cenário científico”, completa Soares.

João Guilherme do curso de Direito, campus Governador Valadares, aprovou proposta de R$ 268.470,50 sobre o Plano Pena Justa no Estado de Minas Gerais. (Imagem: Luan Sodré)
Esteve entre os aprovados, a elaboração e implementação do Plano Pena Justa no Estado de Minas Gerais, com investimento de R$ 268.470,50, coordenado por João Guilherme Roorda, do curso de Direito, campus Governador Valadares. Roorda explica que o projeto busca entender como esse plano está sendo elaborado e se atende às expectativas dos movimentos sociais ligados às pessoas privadas de liberdade. “Ter a proposta aprovada garante financiamentos importantes como bolsas para pesquisadores de diversos níveis, possibilitando que nossos alunos sejam inseridos no processo de pesquisa”, completa.
Também foram contempladas as pesquisas “Controle reológico de formulações viscoelásticas cicatrizantes” do professor Ângelo Márcio Leite Denadai do Instituto de Ciências da Vida do campus de Governador Valadares e “Design Instrucional para Gestalt: Modelagem 3D e Percepção Visual como Ferramentas de Aprendizagem” de Ivan Mota Santos do Instituto de Artes e Design (IAD).

Vanessa Cordeiro aponta o papel da instituição na formação de profissionais qualificados. (Foto: Carolina de Paula/UFJF)
Na área de medicina e espiritualidade, Alexander Moreira, da Faculdade de Medicina, foi contemplado com um projeto que investiga um tipo de terapia espiritual utilizado em alguns hospitais psiquiátricos no Brasil. “Essa vai ser a primeira vez que se fará um ensaio clínico controlado, randomizado, duplo cego para investigar a eficácia dessas terapias espirituais complementares realizadas em hospital psiquiátrico”, explica. O estudo é realizado em parceria com pesquisadores da UFMG, USP e UFRS. A pesquisa vai receber R$ 285.907,71.
Com o projeto “Aquicultura restaurativa: testando a eficiência da aquaponia na produção de mudas de Palmito Juçara (Euterpe edulis) para restauração ecológica na Zona da Mata Mineira”, Fabrício Alvim, do Instituto de Ciências Biológicas, destaca que o investimento será destinado principalmente à melhora da infraestrutura de equipamentos. “A aprovação é muito importante porque também traz uma bolsa BDCTI nível doutorado, uma bolsa equivalente a um pós-doutorado e isso é muito importante para a qualidade do projeto.”
Já na área bioquímica, Vanessa Cordeiro Dias estuda a relação entre os aspectos clínico-epidemiológicos das infecções por Trichosporon spp. e os mecanismos de virulência, resistência aos antifúngicos e tolerância aos desinfetantes. “A UFJF ganha destaque ao se posicionar na vanguarda de uma linha de pesquisa emergente, com alta relevância clínica e sanitária. A instituição consolida seu papel na formação de profissionais qualificados e capacitados para atuar em microbiologia clínica, epidemiologia e pesquisa aplicada”, aponta. Também foi contemplado o projeto: “Impactos da fragmentação e degradação ambiental na diversidade genética e conectividade de aves da Floresta Atlântica: gerando conhecimentos para um mundo em transformação” de João Marcos Guimarães Capurucho do Departamento de Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB).

Reconhecido em premiações nacionais de inovação, Nícolas Pinto desenvolve o projeto no Laboratório de Produtos Naturais Bioativos da UFJF. (Foto: Carolina de Paula)
O projeto: “Avanços no tratamento de candidíase vulvovaginal: formulação termorresponsiva inovadora com extratos de Plinia cauliflora e fluconazol co-encapsulados”, coordenado pelo professor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) Rodrigo Luiz Fabri, tem o objetivo de desenvolver um hidrogel inovador. Unindo compostos bioativos da jabuticabeira ao fluconazol a proposta é validar uma alternativa mais eficaz e segura no tratamento de doenças infecciosas e inflamatórias, com ênfase na candidíase vulvovaginal. “O investimento de R$301.432,00 é um passo essencial para a conclusão das atividades propostas, garantindo recursos para insumos, equipamentos e apoio técnico. Além de viabilizar a execução plena do projeto, o edital contribui para o fortalecimento da produção científica, a valorização da inovação e o impacto social e econômico da pesquisa desenvolvida em Minas Gerais”, destaca Fabri.
Nícolas de Castro Campos Pinto, do Departamento de Bioquímica do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), foi contemplado com o projeto: “Inflativ: Da biodiversidade mineira à inovação sustentável no tratamento de dermatite atópica”. O objetivo é avançar o nível de maturidade tecnológica de um produto desenvolvido no Laboratório de Produtos Naturais Bioativos da UFJF, voltado ao tratamento da dermatite atópica a partir de um ativo da biodiversidade brasileira. Reconhecido em premiações nacionais de inovação e já validado junto ao setor produtivo, o projeto propõe criar uma rota de extração sustentável capaz de atender às demandas da indústria e dos pacientes. O investimento aprovado é de R$1.861.020,00. “Esse Edital é fundamental para que possamos estruturar nossa linha de pesquisa de forma independente e avançar na transformação de uma invenção em uma verdadeira inovação. Mais do que gerar patentes, nosso objetivo é entregar soluções reais para a sociedade e para o mercado, aproximando a universidade das pessoas que serão beneficiadas pelas tecnologias desenvolvidas”, ressalta Nícolas.

Rodrigo Stephani, do Departamento de Química vai receber R$99.947,40 para projeto em parceria com Alemanha. (Foto: Carolina de Paula)
A proposta “Ecossistema de Inovação na Construção Civil Mineira: Barreiras e Oportunidades para a Transformação do Setor”, com o recurso de R$78.762,52, vai mapear indicadores de inovação na área de engenharia civil em Minas Gerais, identificando pontos fortes, fragilidades e caminhos para fortalecer práticas inovadoras no setor. A coordenadora do projeto Júlia Castro Mendes, do Departamento de Construção Civil, diz que sue pesquisa faz parte de uma inquietação desde sua pós-graduação: “vemos doutorandos desenvolverem materiais e processos inovadores, mas muitos acabam ficando restritos a artigos acadêmicos, sem chegar ao mercado ou transformar efetivamente o setor. Esse projeto vai nos permitir compreender como esses obstáculos influenciam a baixa inovação no setor e apontar caminhos para superá-los”, explica a professora.
Rodrigo Stephani, do Departamento de Química, foi contemplado com o projeto “Reações de Maillard no decorrer da produção industrial de doce de leite: influência na estrutura, textura e sabor”. A proposta, desenvolvida em parceria com a Universidade Técnica de Dresden, na Alemanha, vai receber um investimento de R$99.947,40. O intuito é compreender os mecanismos químicos que influenciam a qualidade do doce de leite, um dos produtos mais tradicionais da indústria brasileira. “O projeto surge da necessidade de explicar fenômenos que a indústria observa, mas ainda não entende totalmente. Muitas reações químicas que ocorrem no processo de produção não são descritas na literatura científica. Ao associar a competência brasileira na produção com a expertise alemã em química de alimentos, queremos entender melhor essas reações, gerar conhecimento científico e, ao mesmo tempo, contribuir para que a indústria desenvolva produtos de maior qualidade”, explica Stephani. As atividades serão realizadas no Bioquimtec, grupo de pesquisa do Departamento de Química da UFJF, único em uma instituição pública brasileira a possuir uma linha completa de equipamentos para pesquisa tecnológica em ultra alta temperatura associada a análises de microestrutura e microanálise. Além de formar estudantes de pós-graduação em química, o projeto prevê missões de pesquisadores alemães ao Brasil em 2026, quando visitarão fábricas de doce de leite para coleta de amostras, que também serão analisadas na Alemanha.
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