O teste do suor agora está totalmente automatizado no Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF), gerido pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). O exame é considerado padrão ouro no diagnóstico da fibrose cística. Com essa modernização, o hospital amplia sua capacidade de atendimento aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). 

A implantação foi conduzida pela Unidade de Análises Clínicas e Anatomia Patológica, pela Unidade da Criança e do Adolescente e pelo Centro de Referência em Fibrose Cística, com um investimento de R$ 207.570,84, recursos próprios do hospital.

Exame é padrão ouro no fechamento do diagnóstico de fibrose cística no SUS (Foto – Comunicação HU-UFJF-Ebserh)

Segundo a pneumopediatra Marta Duarte, a aquisição representa uma conquista importante: “O primeiro benefício é para o paciente, já que o exame é oferecido gratuitamente pelo SUS, aqui no HU-UFJF. O segundo é que, como existe um padrão na coleta, ele pode ser utilizado para estudar os casos de fibrose cística e para o controle do tratamento.”

O HU faz o teste do suor há mais de 20 anos, mas pelo método antigo. “A modernização garante maior precisão e padronização técnica, segurança analítica e eficiência operacional na realização do exame, assegurando resultados mais confiáveis e ágeis. Para uma doença de alta complexidade como a fibrose cística, o diagnóstico preciso e precoce é essencial”, afirma a chefe da Unidade de Laboratório, Clarissa Cunha.

Além disso, o hospital passa a atender uma parcela maior da população. “Juiz de Fora recebe pessoas de todo o estado que tenham a triagem neonatal, o teste do pezinho, alterados para fibrose cística, de toda a parte sul e sudoeste de Minas. Nós lutamos muito por esse aparelho, é uma conquista importantíssima”, acrescenta a farmacêutica Sônia Maria, que realiza os exames no HU-UFJF.

Para além do diagnóstico, o novo aparelho auxilia também durante o tratamento, como explica Marta. “Existe um novo medicamento, que se chama modulador da CFTR, ou terapia tripla. Se o paciente tem o exame do teste do suor alto, quando ele começa a tomar este medicamento a gente faz de novo o exame para ver se o organismo está respondendo. Então, atualmente, o teste está sendo importante ainda para o controle do tratamento dos pacientes”, ressalta.

O que é o Teste do Suor?
Um dos sintomas da fibrose cística é o suor mais salgado. A pele de quem tem a doença pode ser mais salgada do que a pele das outras pessoas. A partir disso, foi possível desenvolver o teste do suor para o diagnóstico. O teste é feito de forma segura e indolor. Primeiro, um pequeno estímulo é aplicado na pele do braço ou da perna. Depois, o suor é coletado e analisado em laboratório para medir a quantidade de cloreto, que é um sal presente na transpiração. Por isso o aparelho se chama cloridrômetro.

Toda criança que tem a triagem neonatal positiva para fibrose cística, ou seja, o teste do pezinho positivo para fibrose cística, é encaminhada ao teste do suor (Foto – Comunicação HU-UFJF-Ebserh)

“O teste do suor é um exame onde se coleta uma quantidade suficiente para fazer a dosagem do íon cloreto, um eletrólito que existe no suor, e está aumentado nos casos de fibrose cística. É um exame que pode ser feito em qualquer faixa etária e está disponível no SUS”, explica Marta. Apesar de não haver impedimentos em relação à idade, a profissional reforça a importância de um diagnóstico precoce: “Toda criança que tem a triagem neonatal positiva para fibrose cística, ou seja, o teste do pezinho positivo para fibrose cística, é encaminhada ao teste do suor.”

O teste do pezinho é um exame obrigatório para todos os recém-nascidos brasileiros – parte do Programa de Triagem Neonatal do Ministério da Saúde – e ajuda na triagem de doenças genéticas. Entre elas, a fibrose cística. Entretanto, apesar de ser um exame fundamental, sozinho ele não pode confirmar ou excluir totalmente o diagnóstico para fibrose cística. Ele é capaz apenas de filtrar os bebês que têm risco de ter a doença, não é um diagnóstico fechado. Por isso, o teste do suor deve ser feito para a confirmação ou exclusão da doença.

Esse foi o caso da bebê Esther Passos Pinheiro, de 2 meses. Ela e a família vieram de Careaçu, no sul de Minas Gerais, para fazer o exame no HU-UFJF. Eles viajaram mais de 300 km até Juiz de Fora, trazidos pelo carro da prefeitura da cidade, pois o teste do pezinho da criança foi inconclusivo para o diagnóstico de fibrose cística, sendo necessária a realização do teste do suor.

Como realizar o exame?
O teste pode ser feito em qualquer idade, precisando apenas do encaminhamento médico, como explica a biomédica Clarissa Cunha: “O teste do suor está disponível para pacientes encaminhados pela Prefeitura de Juiz de Fora, com acesso por meio das unidades básicas de Saúde (UBS’s), via sistema Pronto. Também é ofertado aos pacientes do Estado de Minas Gerais, como parte do processo de assistência às doenças triadas pelo Programa de Triagem Neonatal (PTN-MG), coordenado pelo Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da UFMG (Nupad/UFMG).”

O teste não é feito apenas em bebês, mas se aplica a todas as idades. Maria de Lourdes Oliveira realizou o teste do suor aos 66 anos, mostrando que nunca é tarde para buscar o diagnóstico (Foto: Comunicação HU-UFJF-Ebserh)

Maria de Lourdes Oliveira realizou o teste do suor aos 66 anos, mostrando que nunca é tarde para buscar o diagnóstico. A paciente reclama de um chiado persistente há muitos anos. Ela não fuma e faz tratamento pulmonar no HU. Os profissionais, então, a encaminharam para o exame a fim de investigar a queixa. “Quando eu tinha sete anos, tive pneumonia. Minha mãe disse que eu quase morri. Sete anos depois, repetiu. Quando eu estava com 24, de casamento marcado, tive outra pneumonia. Era sempre assim: de sete em sete anos”, relata. Ela agora está em processo de análise.  

Centro de referência
O HU tem um Centro de Referência em Fibrose Cística, que está inserido no Serviço de Referência em Doenças Raras. A fibrose cística – também conhecida como mucoviscidose – é uma doença genética crônica que afeta principalmente os pulmões e o sistema digestivo. Ela causa o acúmulo de muco espesso e pegajoso em vários órgãos, levando a problemas respiratórios, dificuldades na digestão e absorção de nutrientes, além de outras complicações. Os sintomas variam e podem incluir tosse, infecções pulmonares reincidentes, incapacidade de ganhar peso, fezes gordurosas e suor mais salgado.

O hospital conta com uma equipe multidisciplinar para o diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos acometidos pela fibrose cística. Os pacientes contam com especialistas, médicos, pneumologista pediátrico, pneumologista adulto, gastropediatra, gastro adulto, geneticista, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, enfermagem, farmacêuticos e bioquímicos. 

Essa atenção, sob diversos olhares, faz com que o paciente tenha um acompanhamento totalmente personalizado e voltado para essa doença, que é rara e grave. Vale ressaltar que o teste do suor, agora realizado no HU-UFJF, não é feito em laboratórios comuns, só em centros de referência. Em Minas Gerais, há apenas três: Belo Horizonte, Uberlândia e Juiz de Fora.