A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) inaugurou nesta sexta-feira, 9, a Casa Brasil, espaço do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) instalado no Centro de Ciências, e recebeu a divulgação do Censo 2022 Quilombolas, com recorte pela situação rural e urbana dos domicílios. Os novos dados nacionais foram anunciados em evento reunindo a comunidade acadêmica, gestores municipais e lideranças quilombolas. O encontro foi transmitido pelo canal do IBGE no YouTube.

Reitora Girlene Alves (direita) e vice-reitor Telmo Ronzani (esquerda). Para Girlene, dados contribuem para a construção de políticas públicas mais justas (Foto: Twin Alvarenga/UFJF)
A reitora da UFJF, Girlene Alves, disse que os dados disponibilizados “nos colocam diante de uma doce e dura encruzilhada” para a construção de políticas públicas mais justas e, principalmente, para a necessidade de financiamento dessas políticas. Como profissional da área de saúde pública, sabe das dificuldades em conhecer a realidade dos domicílios brasileiros e parabenizou o IBGE pelo trabalho censitário.
A publicação traz, pela primeira vez, uma série de indicadores sobre a população quilombola, entre eles, informações sobre sexo e idade, alfabetização, registro de nascimento, além de características dos domicílios. Segundo o Censo, a maioria dos quilombolas vive em áreas rurais (61,7%) e, mesmo quando estão nas áreas urbanas, enfrentam mais dificuldades de acesso ao saneamento básico do que a população em geral.
O fato foi destacado pela secretária especial de Igualdade Racial de Juiz de Fora, Giane Elisa Sales de Almeida. “Estamos falando de pessoas pretas, estamos falando de racismo. Não dá para a gente discutir qualquer dado da população brasileira, sem discutir a vergonhosa situação racista em que o Brasil permanece, perpetua e insiste em não reconhecer.”

Em visita à Casa Brasil (da esquerda para a direita): Lucas Silva, quilombola da comunidade do Paiol; secretária especial de Igualdade Racial, Giane Elisa Sales de Almeida, e Daniel Castro, coordenador geral de Documentação e Disseminação do IBGE (Foto: Twin Alvarenga/UFJF)
A equipe de técnicos do IBGE também realizou oficina sobre o tema, na parte da tarde, para a comunidade em geral, apresentando metodologias de trabalho, além das potencialidades de pesquisa e para lideranças existentes a partir dos dados do Censo.
Leia mais: Censo 2022: 94,6% dos quilombolas em áreas rurais convivem com precariedades no saneamento básico
Comunidade quilombola representada

Resgate de raízes ancestrais: tônica do grupo de mulheres da Comunidade Quilombola Colônia do Paiol, que se apresentou no evento (Foto: Twin Alvarenga/UFJF)
O evento contou com a presença de representantes de comunidades quilombolas, entre elas, a do Paiol (localizada em Bias Fortes) e a de São Sebastião da Boa Vista (localizada em Santos Dumont). Lucas Paulo da Silva, quilombola egresso da UFJF, destacou que as informações são muito importantes para os grupos de pesquisa e citou o trabalho precursor do ex-professor da Universidade Leonardo Carneiro, que aproximou a academia das comunidades tradicionais. Já para Mestra Zezé, liderança da Comunidade Quilombola Colônia do Paiol, é essencial que a sociedade conheça a realidade de quem vive o quilombo: “Estamos hoje sendo representados, podendo falar e contar a nossa história”.
Duas apresentações culturais marcaram as atividades: o grupo de tambor Trovão da Roza, que une o Maracatu à figura histórica de Roza Cabinda, mulher negra escravizada que conquistou sua liberdade se tornando símbolo de resistência em Juiz de Fora; e do grupo de mulheres da Colônia do Paiol, que usam o canto e cantigas de roda como resgate de suas raízes ancestrais.

Em memória de Roza Cabinda: grupo de tambor Trovão da Roza também marcou presença (Foto: Twin Alvarenga/UFJF)
Para a diretora de Ações Afirmativas da UFJF, Danielle Teles, a grandeza e potência do evento reside na aproximação das comunidades quilombolas com a Universidade e na compreensão que são necessários dados robustos de uma comunidade invisibilizada e historicamente excluída, para o avanço de políticas públicas.
Esse foi, inclusive, o compromisso sinalizado pelo diretor-adjunto de Pesquisas do IBGE, Vladimir Miranda. “Essa era uma demanda antiga, conseguir detalhar e representar melhor nossas comunidades tradicionais. Esse é um pequeno passo, mas importante, e esperamos, cada vez mais, dar mais luz a essas comunidades, e representar melhor a diversidade de nosso país.”
Casa Brasil
O Centro de Ciências da UFJF agora passa a ter um espaço interativo dedicado à memória e tecnologia oferecidos pelo IBGE. A visitação já está aberta ao público a partir deste sábado, 10. Veja os horários, abaixo.
A iniciativa, já presente no Rio de Janeiro, Belém e Recife, busca aproximar a sociedade do trabalho realizado pelo Instituto, promovendo visitas guiadas, atividades presenciais e remotas, como cursos e oficinas. Os itens em exposição – totens, mapas, publicações e fotografias – receberão incremento nos próximos meses, para atrair, principalmente, professores e estudantes.
O acervo digital do IBGE, disponível para pesquisa na Casa Brasil, é composto por bilhões de dados de pesquisas estatísticas, censitárias, ambientais e geocientíficas. Só sobre a cidade de Juiz de Fora, são cerca de 30 mil indicadores.
Horário de funcionamento:
Terça e Quinta – das 19h às 21h (necessário agendamento)
Sábado – das 14h às 17h
Domingo – das 9h às 12h